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Os milagres que Felipão precisa operar no Cruzeiro

O treinador é uma cartada que serve até como escudo para a presidência, num momento tão conturbado como o atual


15/10/2020 22:40 - atualizado 16/10/2020 00:01

Luiz Felipe Scolari assinou contrato com o Cruzeiro até 2022 (foto: AFP Photo)
Luiz Felipe Scolari assinou contrato com o Cruzeiro até 2022 (foto: AFP Photo)
Para muitos, a missão de quem quer que fosse assumir o Cruzeiro agora estava no nível do milagre. A matemática não anda lá muito animadora para os lados da Toca da Raposa. As projeções mostram que a chance de queda para a Série C do Campeonato Brasileiro é maior do que a de voltar para a elite do futebol nacional: segundo o site Probabilidades no Futebol, mantido pela Universidade Federal de Minas Gerais, há 1,1% de possibilidade de a equipe celeste subir. Já o rebaixamento para a Terceirona supera os 50% de chance.

Daí que qualquer um que aceitasse a missão de substituir Ney Franco precisaria estar bem consciente do desafio. Pronto para encarar chuvas e trovoadas. Disposto a ouvir críticas, por causa da pressão por resultados, e confiante de que é possível tornar o terreno fértil e colher frutos, apesar das muitas adversidades.

Talvez em tudo isso resida a maior vantagem de Luiz Felipe Scolari. Ele foi o escolhido e, principalmente, escolheu.

Em um espaço de três dias, recusou oferta celeste, viu outros treinadores muito menos gabaritados (em termos de títulos no currículo e prestígio) declinarem convite para comandar o time, mas acordou nesta quinta-feira (15) propenso a topar a parada – sob certas condições, claro. Uns tópicos extras no contrato permitiram o acerto.

De todos os nomes, Felipão é o que tem o couro mais curtido para esse tipo de situação. Isso não é garantia de nada, mas assegura a ele alguns privilégios que seus antecessores e até os que também foram convidados pela diretoria não teriam.

O gaúcho é o tipo de técnico que dirigente respeita. Não descarta depois de sete ou oito jogos, como ocorreu com Enderson Moreira e Ney Franco.

Curtas passagens de treinadores – como têm ocorrido com o Cruzeiro desde a saída de Mano Menezes, no ano passado – dizem mais sobre quem os contrata do que sobre os profissionais em si. Nesse departamento, o clube celeste anda meio perdido em suas escolhas, sem mostrar muita convicção nos trabalhos.

Felipão é uma cartada que serve até como escudo para a presidência, num momento tão conturbado como o atual. O americano Lisca; Umberto Louzer, da Chapecoense; e Marcelo Chamusca, do Cuiabá, encontrariam um cenário bem parecido ao que foi oferecido a Enderson e Ney: ou emplaca uma sequência vitoriosa logo de cara ou será mais um a receber o bilhete azul em tempo recorde. Isso é bem claro.

Com Felipão à frente do time, é difícil imaginar a diretoria cruzeirense estabelecendo metas curtas. Colocando uma contagem regressiva na testa do treinador. Os títulos na galeria, o temperamento, os trabalhos anteriores, enfim, o conjunto da obra o credencia a esse patamar.

Nessa conta, entra também a relação carinhosa que o gaúcho sempre teve com o Cruzeiro, desde que deixou o clube para formar a pentacampeã Família Scolari na Seleção.

Apesar da cara fechada quase que constantemente e os arroubos de raiva à beira do campo, Felipão é conhecido por seus jogadores pelo estilo paizão. Protege os dele e fecha o grupo em torno de um objetivo.

Tenho uma lembrança até doce do treinador, se comparada a algumas respostas atravessadas que ele andou distribuindo a repórteres nos últimos anos.

Meu relato data de 2001, quando Felipão estava em sua primeira passagem pelo Cruzeiro. Os treinos ainda eram na Toca da Raposa I, e eu, jovem repórter do Estado de Minas; e Roberto Neri, experiente jornalista do Diário da Tarde; estávamos na portaria do CT, à espera do carro da empresa, depois de acompanhar a atividade comandada pelo técnico.

Eis que Felipão, em seu veículo importado verde folha, passa pelo portão e para próximo ao local onde estávamos. Ele abre a janela e nos pergunta, com o forte sotaque gaúcho: “Estão à espera de carro? Para onde vão? Posso lhes dar carona”.

Foi meio inesperado aquele gesto. Agradecemos a gentileza e dissemos que íamos aguardar, porque o carro do jornal já estava chegando. Ele então sorriu, acenou e seguiu seu caminho.

Em 2014, eu estava, já como colunista do EM, no fatídico 7 a 1 da Alemanha em cima do Brasil, de Felipão, no Mineirão. A coletiva de imprensa, pós-jogo, foi uma das situações mais surreais que presenciei.

Um Felipão sem ter muito o que dizer. “O responsável sou eu”, afirmou mais de uma vez.

Desde então, aquela derrota vem sendo sempre lembrada, remoída. A capacidade de se reerguer, de seguir em frente virou a tônica da vida dele. E hoje Felipão tem a missão de reerguer o Cruzeiro.

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