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Vídeo: o goleiro Bruno pode voltar a ser ídolo?

Não dá para dissociar o atleta do homem, e o homem (e seus atos) de quem o emprega. Isso é, por princípio, responsabilidade social. Futebol não é só bola na rede


17/01/2020 04:00 - atualizado 04/03/2021 20:11


Condenado, em 2013, a 20 anos e nove meses de prisão pela morte da modelo Eliza Samudio e, desde julho do ano passado, cumprindo pena em regime semiaberto domiciliar, o goleiro Bruno voltou ao noticiário nos últimos dias pela busca por um clube para retomar a carreira nas quatro linhas.

No início deste ano, ele foi rejeitado pelo Fluminense de Feira de Santana-BA – após pressão da torcida e de um comentário sensato, contundente e ao mesmo tempo emocionante de Jéssica Senra, apresentadora da TV Bahia, que levantou a bola a respeito da moralidade de tal contratação.

Mais recentemente, encerrou conversas com o mineiro Tupi, mas por questões legais, pois a obrigação de ficar na casa do albergado o alijaria das condições adequadas a um atleta profissional.

De tudo o que já foi, é e continuará a ser falado sobre o assunto, o mais importante a ser discutido é: seria o futebol mesmo o caminho mais adequado para essa ressocialização do jogador? Os debates são muitos, envolvem diversos ângulos e parecem distantes de um ponto final.

De certo nisso tudo, o ponto de partida: a brutalidade do crime que ele cometeu, tendo participação direta ou indireta. Em 2010, Bruno era goleiro titular do Flamengo, idolatrado Brasil afora.

Quatro meses antes de sua prisão pela morte de Eliza, ele já havia dado uma declaração altamente condenável ao comentar confusão envolvendo o então atacante Adriano e a ex-namorada Joana Machado na Favela da Chatuba, no Rio de Janeiro.

“Às vezes, em um relacionamento, é preciso uma discussão ou até mesmo algo mais sério. Quem nunca brigou ou até saiu na mão com a mulher? Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, xará. Quando a adrenalina está alta não tem lugar”, disse.

Pois pouco tempo depois, Bruno, que achava natural “sair na mão com uma mulher”, decidiu resolver à sua maneira seus problemas com Eliza, de 25 anos, que havia se recusado a fazer um aborto, como queria o jogador, e teve um filho dele.

Mesmo depois de denunciar o goleiro à polícia, por agressão, ela foi colocada em cárcere privado em um sítio em Esmeraldas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, estrangulada e esquartejada. Seu corpo foi jogado para que cachorros o estraçallhassem. 
 
 
Esse é o fato. E ele não pode ser ignorado, minimizado ou desprezado. Bruno tem o direito de reconquistar seu espaço como cidadão. A Justiça concede isso a ele. Questionável, e muito, é o futebol ser esse atalho.

Um esporte alimentado pela paixão, em que torcedores de todas as idades e gêneros colocam atletas como referência, projetam neles a imagem de um ideal de vida a alcançar. Reconduzir Bruno à posição de ídolo de uma torcida, não importa o tamanho, cria um salvo-conduto que o futebol precisa parar de conceder aos jogadores. Definitivamente.

Infelizmente, por muito tempo, essa objetificação da mulher foi parte do folclore do esporte bretão. Geralmente, a imagem de um jogador bem-sucedido estava associada à vida boêmia, carrões importados e... mulheres. Era sinal de status.

Nessa toada, veio a naturalização de toda sorte de comportamento, dos mais absurdos inclusive.

Vivemos em um país com alto índice de feminicídio: o Brasil está em quinto lugar nesse ranking nefasto. A cada quatro horas, uma mulher é assassinada por ser mulher.

Isso sem contar as agressões, e nessa seara o histórico dos futebolistas também é amplo – o mais recente, do goleiro Jean, que no fim do ano passado foi preso, nos Estados Unidos, por bater na mulher.

As duas filhas, menores, testemunharam tudo. Ele teve seu contrato encerrado com o São Paulo e acabou acertando com o Atlético-GO depois de ver frustrada sua ida para o Ceará, por protestos da torcida.

Felizmente, esse tipo de manifestação crítica, de torcedores e torcedoras, tem sido cada vez mais frequente. E os clubes precisam dar importância e voz a elas.

O trabalho de um jogador não se encerra com o apito final de uma partida. Ao ser contratado por uma equipe, ele passa não só a representar suas cores, mas seus ideais e, principalmente, sua torcida – crianças, mulheres, homens.

Não por acaso, também recebe, como parte do salário, pelo direito de imagem. Ou seja, passa a ser a imagem do clube em si. Por isso, não dá para dissociar o atleta do homem, e o homem (e seus atos) de quem o emprega. Isso é, por princípio, responsabilidade social. Futebol não é tão somente bola na rede.


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