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O site Mulheres do Cinema Brasileiro festeja seus 17 anos 

Para seu criador, o jornalista Adilson Marcelino, os mais de 8 mil acessos por mês são representativos e, por isso, motivo de alegria


14/06/2021 04:00

O jornalista Adilson Marcelino, criador do site Mulheres do Cinema Brasileiro (foto: Marco Túlio Zerlotini/Divulgação)
O jornalista Adilson Marcelino, criador do site Mulheres do Cinema Brasileiro (foto: Marco Túlio Zerlotini/Divulgação)

A vida de Adilson Marcelino bem que renderia um roteiro de filme. Daqueles em que o personagem principal, apaixonado por cinema, faz de tudo para ficar mais próximo à sétima arte. No início dos anos 1990, ele tinha uma carreira estável como funcionário público na Rede Ferroviária Federal. Professor, largou as turmas da escola onde também trabalhava para ser o bilheteiro do extinto Savassi Cineclube.  

"Foi o amor pelo cinema que lá, nos anos 1980 e 1990, tinha um papel existencial muito forte para mim", conta, reconhecendo que a decisão de largar a Rede foi bem radical para a época, "pois trabalhar na Rede Ferroviária era sonho para muita gente".

A mãe de Adilson, Ana Maria Marcelino, não se conformou com a decisão do filho, que não se arrependeu em nenhum momento. "Acabei mudando de profissão. Depois de bilheteiro, tornei-me gerente e depois assessor de imprensa do cinema, portanto, indo de uma vez para a cultura e para o jornalismo, que comecei exercendo na prática e depois voltei à faculdade e fiz o curso", relembra ele, que ficou no mercado exibidor durante 15 anos e chegou a ser curador e programador de salas de cinema.

Mas a maior prova de amor de Adilson pelo cinema está no site Mulheres do Cinema Brasileiro, que ele criou há 17 anos e que chega a ter média de 8 mil acessos por mês, um grande feito. "Como é um site de perfil histórico, ou seja, não é um factual de notícias, ver seu alcance, e aí não só pelos acessos, mas também como referência bibliográfica para publicações e outras pesquisas, é uma alegria imensa", diz.  

"Todo pesquisador trabalha, na maioria das vezes, de forma solitária e nos bastidores, valendo-se da ajuda de outras fontes, mas com o sonho de que o resultado da pesquisa seja compartilhado. Faço o site nesses anos todos do meu tamanho, que é o de uma formiguinha, de forma independente, e penso que venho conseguindo somar a tantas e tantos que lutam pela preservação e difusão da nossa memória do cinema brasileiro."

Ao assistir a “Eros, o deus do amor”, de Walter Hugo Khouri, em 1981, Adilson, que até então tinha uma cultura televisiva, ficou assustado com o número de atrizes que não eram de novelas e, por isso, ele as desconhecia. Hoje, ele procura acompanhar a carreira das atrizes nacionais mais de perto, mas ainda assim nem sempre consegue chegar imediatamente a todas. 

"Felizmente, há uma produção muito grande, sobretudo no formato curta-metragem. Se lá o espanto era por não conhecer muitas daquelas atrizes, o meu espanto permanente se dá pela qualidade e pelo tamanho do talento de cada uma que vai surgindo, e aí não só à frente, como também atrás das câmeras." Sobre suas admirações dessa safra mais atual, ele aponta, sem bairrismo, as mineiras Grace Passô e Lira Ribas. "Razoavelmente novas no cinema, mas não na cena artística."

Como você, que é cinéfilo, vê o cinema pós-pandemia? Acha que as salas terão a mesma movimentação que tiveram? O interesse do público será o mesmo?
Vejo com muita preocupação, pois se mesmo antes da pandemia as salas vinham perdendo público diariamente, com esse caos sanitário instaurado em nosso país pelo desgoverno federal que temos as expectativas são temerosas. Pode ser que algumas salas de shopping retomem seu público, sobretudo o mais jovem, mas, no geral, acho a situação bem complicada.

Já em relação à produção do cinema nacional a situação é grave, especialmente pela ausência de ações de incentivo e respeito do governo federal com a cultura. O que será do audiovisual nacional?
O cinema brasileiro tem uma história de sobrevivência muito impressionante. Na verdade, durante toda a sua trajetória ele foi muito mais atacado do que incentivado, tanto em termos de produção como de distribuição, com exceções para alguns períodos. Para a sua continuidade, será necessário que o poder público faça a sua parte, pois os talentos são muitos, mas, infelizmente, estamos vivendo um momento, no geral, de terra arrasada de políticas públicas federais para o setor, salvo algumas iniciativas isoladas em outras esferas.

A mulher tem participação efetiva no audiovisual brasileiro ou ainda é um mercado masculino? 
A mulher sempre esteve presente no cinema brasileiro, ainda que, obviamente, como nas demais áreas, o homem sempre teve seu lugar de privilégio. Historicamente, se até a década de 1960 tínhamos, por exemplo, menos de 10 mulheres dirigindo longas-metragens, hoje esse panorama mudou muito. E, o melhor, em todas as áreas técnicas. No entanto, esse espaço ainda precisa aumentar e muito, e a reversão desse quadro se dará pela persistência das mulheres e, sobretudo, pela implementação de políticas públicas gerais e específicas.

Pesquisa é um trabalho que exige paciência, mas é divertido. Alguma situação engraçada marcou esses 17 anos do site?
Sim, duas palavras caminham juntas para definir o que move um pesquisador, paixão e persistência. Antes das redes sociais era bem mais complicado fazer entrevistas com as mulheres de outros estados, além dos gastos com interurbano, por exemplo. Um episódio engraçado se deu com a Dercy Gonçalves, de quem sempre fui fã e adoro o trabalho dela no cinema. Depois de muitas tentativas, consegui o telefone da casa dela. Liguei, me apresentei e a convidei para a entrevista. Daí ela me respondeu na lata: "Quanto você vai me pagar?". Respondi que era um pesquisador, que não tinha dinheiro, mas que a considerava fundamental. E ela: "Sou mesmo! Mas você não tem dinheiro hoje, mas amanhã pode ter". No que respondi: "Sim, no futuro espero ter". E ela, matadora: "Não posso esperar seu futuro, o meu é hoje!". No fim, ela disse que ia pensar, que era para eu ligar depois. Infelizmente, acabei não conseguindo falar mais com ela, mas até hoje acho muito engraçado esse episódio, pois a forma e a entonação dela eram por si sós hilárias, e eu sempre fiquei imaginando as caras que ela deve ter feito durante a nossa conversa. Uma rainha amada!
 
Quem é a atriz que você quer no site? O que ela significa para você, mas por um motivo ou outro não conseguiu entrevistá-la? Por que não conseguiu ainda?
A mulher com quem mais tento fazer uma entrevista há anos nem é uma atriz, mas uma cantora com presença forte no cinema, pois já participou de filme como atriz, tem vários filmes sobre ela, realizados desde o início da carreira até o momento atual, além de embalar várias trilhas sonoras. Seu nome: Maria Bethânia. Cheguei , inclusive, a escrever duas cartas para ela pedindo entrevista, mas até hoje sem sucesso. Não desisti, espero conseguir um dia. Outra atriz de quem gosto muito e a quem venho pedindo entrevista, mas ainda não consegui, é a Wanda Stefânia; ela se aposentou. Eu a considero uma atriz extraordinária. Ainda não consegui também entrevistar a Helena Ramos e a Adele Fátima, pelas quais tenho paixão, outras rainhas.

Diva, um termo meio anos 50, 60..., ainda cabe para definir as musas da TV e do cinema ou com toda evolução da vida contemporânea a definição é outra? Se você acha que as divas não morrem nunca, quem seriam as de hoje?
Diva ainda é um termo de significado mais apropriado que musa, apesar da pompa. Musa, ainda que muito utilizado, eu mesmo utilizei várias vezes, coloca, muitas vezes, a mulher como inspiração para um outro ou uma outra, tirando dela o papel de sujeito. Por exemplo, fala-se muito que Helena Ignez e Maria Gladys são musas do chamado Cinema Marginal, quando, na verdade, elas são o próprio Cinema Marginal. Elas podem até, pelo modelo de interpretação moderna, ter inspirado aqueles diretores, mas elas, cada uma por si só, definem esse momento luminoso e inquietante do nosso cinema.

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