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Estado de Minas 'NOVO NORMAL'

Fernanda Mello revela as lições que o amor lhe deu durante a pandemia

Escritora recorreu ao sábio conselho da avó para suportar as neuras do confinamento. Ela é a convidada de hoje da seção 'Vivendo e aprendendo', da coluna Hit


05/06/2021 04:00

Fernanda Mello
Escritora

Faz 13 meses que começou a pandemia do novo coronavírus e tudo mudou por aqui. Dois novos gatos. Uma nova horta. Muitos livros novos. Um caderno repleto de receitas não testadas. Hábitos diferentes. Uma coleção de saudades. E uma sensação de impotência que me atinge em cheio quando assisto aos noticiários e vejo o descaso das autoridades: falta vacina. Falta auxílio emergencial justo. Falta empatia. Falta exemplo. Falta tudo.

O sentimento de estar à deriva é constante e só piora quando acesso minhas mídias sociais e vejo, atônita, fotos de pessoas fazendo fe tas e se aglomerando, num momento em que atingimos o triste marco de mais de 469 mil mortes por COVID-19 no Brasil.

Nesse contexto quase apocalíptico, tenho aprendido, de uma forma dura, que a gente faz o que pode para tentar salvar as nossas próprias vidas e as de quem está perto. É como se tivesse sido acionado um botão de autossobrevivência para garantir que a gente foque no que precisa ser feito e se esqueça dos eventuais dramas que envolvem a nossa existência. É uma sensação estranha, que me ensinou a dizer “não” sem culpa, me deixou mais analítica e introspectiva, e me fez rever minhas prioridades.

Adeus viagens, comemorações de aniversários, vinhos com as amigas, churrascos com toda a família... A saudade aumenta, a cada dia, mas aprendi a conviver com ela, sem reclamar muito: alguns riscos não valem a pena e resolvi não pagar para ver.

Assim, deixo alguns planos pausados, tento driblar a ansiedade e a incerteza que, vez por outra, me consomem. Sigo firme fazendo o que deve ser feito, com muita fé, paciência, algumas taças de vinho e muito álcool em gel.

Minha escrita se retraiu, mas, por outro lado, apostei em novos (e antigos) hobbies que me distraem do meu abismo emocional e trazem uma espécie de tranquilidade para eu me resgatar: cuidar dos gatos. Das plantas. Das sementes que começam a brotar...

No início da pandemia, entrei numa espiral de produtividade sem nexo, que me exigia uma lista interminável de tarefas: escrever belas poesias, gravar podcasts bem-humorados, fazer receitas mirabolantes, malhar em casa com alegria, produzir conteúdo para redes sociais, criar textos para publicidade, e ainda conseguir escrever um novo livro. Inteiro. Incrível. O melhor já escrito por mim.

Nem preciso dizer que fiquei extremamente frustrada comigo mesma por gastar metade do meu dia só higienizando compras e lendo jornais, enquanto a maioria das pessoas registrava seus feitos incríveis e sua produtividade máxima no Instagram.

Me senti tão inadequada, que me refugiei nos livros e fiquei por lá um bom tempo. Sorte minha que existem escritoras maravilhosas que parecem produzir livros para esses momentos difíceis. A cada página, eu me lembrava de que não podia me comparar, de que cada um tem seu tempo, suas fragilidades, suas fortalezas... Cada um descobre um jeito para conseguir sobreviver e seria indelicadeza minha exigir tanto de mim, em um momento em que ser racional já me tomava todo o tempo.

Não concordo com o que muitos dizem: a pandemia nos trouxe algo bom. A pandemia só evidenciou o pior e o melhor nas pessoas e, no meu caso, me fez encontrar minha força e minha autoaceitação que estavam adormecidas, me fazendo aprender com as adversidades.

Lembro-me de uma frase que minha avó sempre dizia: “Se a gente não aprende no amor, a gente aprende na dor”. Eu sempre acreditei nisso, mas hoje vejo que, infelizmente, tem gente que não aprende nunca.

Mas seguimos confiantes, apostando nas pessoas boas. Dias melhores estão por vir e o olhar da minha gatinha em mim, nesse momento, não me deixa ter dúvidas disso.

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