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Estado de Minas 'NOVO NORMAL'

Escritor percebe a própria vulnerabilidade e faz dela um recomeço

Fernando Suhet é o convidado da seção 'Vivendo e aprendendo' da Coluna Hit, que, aos sábados, dá voz às vivências da pandemia


29/05/2021 04:00


Fernando Suhet
Escritor e publicitário

Foi no dia 18 de março de 2020 quando a notícia chegou: a partir de amanhã, todos estão de home office. As notícias do avanço do vírus já eram parte do nosso cotidiano antes disso. Cafés da manhã, almoços e jantares já não eram mais locais para se falar de outro assunto. A ternura das trocas de olhares deu lugar ao medo. Medo por nós e medo pelo próximo.

A ideia de ficar preso entre paredes de concreto começou a me incomodar por volta do primeiro mês. Na casa há muitos espaços, aqui dentro, muitos vazios. A saudade do que éramos antes foi a primeira coisa que me arrebatou. Parece que fomos divididos entre antes e depois.

Assim surgiu o primeiro aprendizado causado pela pandemia: não me esquecer de dar valor às pequenas coisas, aos pequenos encontros e aos pequenos detalhes. Minha vulnerabilidade foi escancarada sem eu me dar conta. Tudo era sentido com mais força.

Assim nasce o meu segundo aprendizado: aceitar a minha vulnerabilidade e enxergar nela os caminhos para sempre recomeçar. A solidão assusta, mas também ensina. É um processo de autoconhecimento que ensina que às vezes na vida só você pode cuidar de você. Um dia desses da quarentena, acordei sorrindo. Fui invadido por um sentimento de paz, um sentimento leve. Tinha acabado de acordar de um sonho.

Este é o terceiro aprendizado dos três mais importantes que me aconteceram: não deixar de sonhar, continuar me levantando e tentando, até a vida entender que não vou desistir. Os meus sonhos não são negociáveis. E esse sonho foi tão real que vou descrevê-lo:

É fim de tarde. O sol se põe depois de iluminar nossas casas como ele nunca deixou de fazer durante toda a guerra. As pessoas se abraçam. Pais, mães, filhos, amigos, parentes de todo tipo. Há lágrimas nos olhos. Foi a primeira vez que aprendi que a saudade também pode estar em estado líquido. O vizinho que passa afobado com um sorrisão no rosto e girassóis nas mãos quase me atropela.

– Aonde vai nessa pressa?
– Vou ver a razão desse sorriso. Sua felicidade me deixa feliz.

O mal existiu, mas nós vencemos. Juntos. Éramos um exército do bem. Um exército de pessoas capazes de doar um pouco de si e do que sabem, capazes de fazer a diferença na vida de quem mais precisava. Um exército de pessoas que não tinham os braços do tamanho do mundo, mas tinham os braços do tamanho exato para abraçar alguém, como disse o poeta.

As coisas estão bonitas por aqui. Há poesia por toda parte. Nos sorrisos, nos muros, nos corações. Palavras de força. As pessoas se importam, cuidam e se doam.

Isso não é um mundo perfeito. Isso é um mundo onde somos uns pelos outros, salvos uns pelos outros e isso já vale a vida.

Nunca vou deixar de acreditar em um mundo bom onde alguém vai estender a mão, oferecer o ombro, oferecer o colo ou oferecer um sorriso. O dia em que parar de acreditar em um mundo bom, paro de enxergar poesia. Não deixem de acreditar também.

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