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Estado de Minas COLUNA HIT

Mineira Jeane Terra faz sua primeira grande exposição individual no Rio

Pandemia obrigou a mostra 'Escombros, peles, resíduos' a se adequar ao formato digital nos dias em que a Galeria Simone Cadinelli ficou fechada


19/04/2021 04:00

(foto: Fernando Souza/Divulgação)
(foto: Fernando Souza/Divulgação)

 
A mineira Jeane Terra estava preparada para abrir sua maior mostra individual, a quinta. Seria a primeira exposição dela na Galeria Simone Cadinelli, no Rio de Janeiro, que a representa. Veio a pandemia e mudou tudo. “Optamos por uma abertura diferente, dividida em três dias em vez de um, para receber o público em horários previamente agendados e sem aglomeração, priorizando pequenos grupos. Foi uma experiência nova e gratificante, pois pude atender as pessoas com muito mais atenção”, conta.
 
Poucos dias depois, a galeria teve de fechar por duas semanas. Reabriu na quarta-feira passada, funciona sob agendamento e seguindo todos os protocolos. Jeane tirou de letra o momento difícil. Produziu o material digital da mostra “Escombros, peles, resíduos” e o disponibilizou em seu site –  texto curatorial, imagens, catálogo virtual e tour 3D. A inspiração veio de Pontal de Atafona, comunidade fluminense engolida pelo mar.
 
A história da mineira com o Rio de Janeiro começou após a perda de familiares em um acidente. “Precisei me reinventar, vislumbrar outros horizontes e tentar reescrever a minha história sem essa família. Resolvi passar uma temporada maior na cidade e recebi o convite da Adriana Varejão para trabalhar como assistente dela. Acabei ficando”, conta.
 
Adriana, uma das pintoras mais importantes do país, foi muito importante para a formação de Jeane como artista. “Ela foi uma grande escola. Nossa troca diária alargou o meu pensamento artístico. Hoje, Adriana é parte da minha família, uma pessoa que sempre estará presente em minha vida.”


O que a levou até Pontal de Atafona, praia no norte do estado do Rio de Janeiro?
Já tinha uma pesquisa voltada para memória e perdas dentro do apagamento urbano, essas demolições de casas para a construção de prédios, sobre como perdas assim afetavam a história das pessoas. Tinha passado por esse processo com a demolição da casa onde vivi com meus pais, em Belo Horizonte. Fiquei sabendo por uma amiga da cidade que estava sendo engolida pelo mar. Isso tinha proporção muito maior, era uma cidade em deslocamento, mudando de lugar a partir do avanço do mar. Era a memória de pelo menos 500 pessoas que haviam perdido suas casas. Comecei a pesquisar na internet e descobri Atafona. Na semana seguinte, peguei o carro e fui parar lá.

A mostra “Escombros, peles, resíduos” é 
resultado da residência artística que você fez em janeiro de 2020. Mas veio a pandemia...
Vivi momentos muito intensos no início de 2020, durante o período em que passei em Atafona. Foi uma pesquisa que me tocou muito. Queria entender o processo de perda daquelas pessoas. Como era, para elas, ter os sonhos e a cidade tragados pelo mar. Terminando o período em Atafona, voltei para o Rio de Janeiro e me debrucei sobre o processo da exposição. Foram meses de muito trabalho. O lockdown veio uma semana antes de as obras saírem do ateliê. Foi um momento difícil, primeiro porque eu iria viver uma coisa inaugural, passar por uma pandemia e pelo isolamento social, e segundo porque a exposição foi tão aguardada, tão trabalhada, mas seria guardada por tempo indeterminado. Isso me trouxe angústias e mil interrogações, mas entendi que era o momento de uma pausa de enfrentamento.

Como foi esse processo?
Decidi me debruçar novamente sobre os trabalhos da exposição. Tinha começado uma pesquisa com as peles de tinta e a monotipia seca, na exposição teríamos dois trabalhos dessa série. Com o adiamento, eu me debrucei plenamente sobre esse trabalho e ele tomou um corpo maravilhoso. Eu e o Agnaldo Farias, curador da exposição, entendemos que a série merecia maior representatividade e, ao final, ela ocupou todo o segundo andar da galeria. O isolamento social voluntário foi necessário, mas difícil. Como artista, senti que ele me fez focar e trabalhar mais, mesmo que emocionalmente minha cabeça estivesse um turbilhão.

A destruição de Atafona pelo mar é a prova de que a natureza revida as agressões causadas pelo homem. A pandemia nos obriga a repensar a nossa relação com o meio ambiente?
Acredito plenamente nisso. A natureza está respondendo ao ser humano. A devastação que estamos fazendo no planeta tem um preço. E ele, de alguma forma, está gritando, pedindo uma pausa. É imenso o descaso dos líderes mundiais em relação à questão ambiental e a muitas outras pautas relacionadas à preservação do planeta. Precisamos repensar a nossa relação com o meio ambiente e nossos anseios de progresso a qualquer preço. Fazemos parte de um ecossistema em desequilíbrio causado por nós mesmos. Temos de batalhar por esse equilíbrio. Meu trabalho fala sobre isso. Preservar o planeta é nos preservar.

Passada a pandemia, essa experiência vai influenciar seu processo criativo?
Já está influenciando. Sou afetada por tudo o que vivo: pelas perdas de pessoas próximas e por todas as novas experiências transformadoras que a pandemia tem trazido. É hora de recalcular rotas, rever valores, repensar nossos espaços, nossas casas. Entender o valor de estar com nossos familiares, amigos e até mesmo o valor de um simples abraço.

Qual é a importância da Escola Guignard para a sua formação?
A Escola Guignard é um dos lugares mais especiais de BH para mim. Estudei com a Claudia Renault, com o falecido e querido professor de pintura Pedro Augusto. Minha carreira como artista foi muito marcada por esse começo em Belo Horizonte. Foi o melhor ponto de partida. Saí de BH, mas BH está cravada em minhas veias e pulsa fortemente em mim. Meu trabalho carrega o barroco mineiro em suas entranhas.

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