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Estado de Minas COLUNA HIT/VIVENDO E APRENDENDO

Nesta pandemia, o cantor Luís Couto revê a sua relação com o tempo

O adiamento do terceiro e mais esperado disco da banda Devise se fez necessário, ensinando ao músico que o novo trabalho tem o seu próprio timing


10/04/2021 04:00

Luís Couto
Vocalista da banda Devise

Coincidiu de começar a pandemia e eu me mudar para um novo apartamento. Uma profunda mudança pessoal no meio desta transformação (espero que sim) mundial. Pro novo endereço eu trouxe os discos favoritos e os que ainda não ouvi. Os velhos livros e os que sempre me cobrava ler. As plantas, essas de que ainda não sei cuidar muito bem. O meu trabalho, as minhas diversões. Toda uma vida nova dentro de casa, ao lado da minha companheira, a Rita. 

Houve também outro fato que me marcou muito: devido ao momento tão conturbado, a Devise, banda da qual faço parte, adiou as gravações do terceiro disco. O que gerou uma frustração enorme, porque a nossa expectativa sobre esse trabalho era, e ainda é, muito grande.

Com a mudança de casa, organizando cada coisa em seu lugar, percebi que tinha discos cuja embalagem nem sequer abri. Logo pensei nas plataformas digitais e seu infinito catálogo de músicas, naquele disco ou artista que ainda não escutei direito. Também naqueles livros que estavam ali e ainda nem tinha folheado. Fiquei bastante incomodado. Sempre me incomodou muito esse tipo de coisa, mas em casa, com um pouco mais de tempo disponível, decidi “preencher essas lacunas”.

Na Devise, decidimos gravar algumas músicas e versões que não estariam no disco adiado, direto das nossas casas. Coisa que até então nunca tínhamos feito. Muito aprendizado. Foram muitos trabalhos lançados e fomos entendendo seus impactos. Em nós e no público. Foi o que encontramos pra ir em frente.

Segui preenchendo as lacunas. Todo dia, enquanto regava diferentes espécies de plantas de maneira igual ou discutia e me decepcionava com amigos em algum grupo nas redes sociais, passei a ouvir algum disco que ainda não tinha merecido a minha dedicação. Ou, talvez, fosse eu quem ainda não merecesse essas obras.

Em alguns momentos, foi mesmo interessante. Muita novidade, alguns achados perdidos saindo da mesmice musical que volta e meia me atormenta. Mas tudo foi complicando quando percebi que, muitas vezes, estava ouvindo, mas não estava escutando. Refleti muito e entendi que talvez estivesse forçando o despertar de algumas coisas. Entendi que por mais que quisesse saber tudo sobre todas as bandas da gravadora inglesa Creation Records, talvez dentro de mim apenas não fosse a hora de ouvir aquele segundo disco do Adorable (que hoje já se tornou adorável, com perdão do trocadilho), porque naqueles dias eu estava mais pra ouvir Luedji Luna.

Aquela samambaia, assim como a horta, que eu regava todo dia, deu claros sinais de que não adianta querer que ela cresça no tempo que eu quero. Dei água demais. Agora entendi que ela precisa absorver e descansar um tempo bom pras coisas acontecerem dentro dela. Do mesmo jeito, a Devise tentou remarcar as gravações do disco, mas o isolamento se fez mais necessário ainda e tivemos que aceitar o novo adiamento. Já estou entendendo que esse trabalho vai ter um tempo próprio. Confirmei isso quando surgiram músicas nesse período, que agora vão também fazer parte dele.

Aqueles amigos que andam negando a verdade e o caos instalado no Brasil, eu tentei rebater com as minhas convicções, argumentei apoiado pela ciência por horas e dias ininterruptos, mas eles insistem em pensar que não estamos no meio de uma tragédia. É difícil, mas já entendi: do tempo atrasado deles a gente cuida um pouco mais devagarinho, com vida e com luz. O que tiver de ser há de florescer.

Cada um tem seu próprio tempo pra cada coisa que vai acontecer dentro de si.

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