(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas HIT

Silvia Gomez comemora 20 anos de carreira com a estreia de 'A árvore'

Na Entrevista de Segunda da Coluna Hit, dramaturga fala da peça que tem Alessandra Negrini como protagonista e faz balanço de sua trajetória


01/03/2021 04:00 - atualizado 01/03/2021 16:05

(foto: arquivo pessoal)
(foto: arquivo pessoal)

Silvia Gomez comemora 20 anos de carreira. De sua participação no festival Cenas Curtas, do Grupo Galpão, em 2001, até o texto de “A árvore”, que estreou na semana passada na plataforma digital Tudus, ela escreveu sete peças. "Nunca é fácil a vida para a dramaturgia no Brasil, para o teatro. É preciso desejar muito e persistir para que aconteça: quem faz sabe da gratidão de conseguir levantar uma peça, com todos os processos e milagres que isso envolve", afirma. 
 
"Eu nem sequer acho que sei o que estou fazendo, sou insegura, mas isso, por outro lado, me coloca em movimento. Vejo a formação de um artista como uma estrada infinita, eis a graça."
 
Sobre “A árvore'', que começou a ser construída há três anos, a dramaturga considera a peça como filha de uma pesquisa sua sobre anomalias, metamorfoses, estranhamentos e delírios. "O absurdo que se instala no cotidiano, ou melhor, na aparente normalidade, pulsão de um texto anterior que escrevi para o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) em 2019, a tempo de ser lido pelo mestre Antunes Filho, com quem estudei, e que está em ensaio sob direção de Emerson Danesi, brilhante artista e colega de CPT", conta ela, que divide seu tempo entre a dramaturgia, o jornalismo, roteiros e aulas.

Silvia confessa sentir muita falta das apresentações presenciais, que, para ela, não encontram equivalente. "Mas, como artista, não consigo deixar de elaborar o que me perturba, por isso crio onde e como puder."
Da equipe do novo projeto, Silvia diz que admira Gabriel Fontes Paiva, com quem já trabalhou, assim como João Wainer. "Mas foi a primeira vez que trabalhei com a Ester Laccava e a Alessandra Negrini. Já as admirava pelo talento imenso e agora conheço ainda mais de perto as artistas profundas e ricas que são. Ester, criadora poderosa de infinitas camadas de linguagem, e Alessandra, atriz preciosa e uma força que se faz presente na cena."
 
O grande desejo da dramaturga é conseguir ser capaz de fazer perguntas que inquietem. "Se eu der sorte, quem sabe esbarre em alguma resposta, ainda que provisória, sobre este mundo louco e delirante. A pandemia me trouxe ainda nova urgência: escrever para honrar o instante e o privilégio de poder testemunhá-lo."
Na sinopse da peça você diz que "A. vem enfrentando um estranho e inexplicável processo ao ver seu corpo transformar-se em algo que desconhece". Isso pode ser considerado uma metáfora desse estranho processo pelo qual o mundo está passando, em que não sabemos o que vai acontecer?
Tento propor leituras abertas quando escrevo, sem fechar significados, pois, como espectadora, é o que me dá prazer, isso de poder inventar junto com a obra. Esse sentimento que você descreve foi inescapável, pois é coletivo, pertence a este tempo que compartilhamos, assim como o sentimento de perda, este luto coletivo. Acho que a peça também pergunta: por que esquecemos o amor por esta casa, por este planeta, marchando em rota de ruína?.

Logo no início de suas pesquisas, você leu “A revolução das plantas”, do botânico italiano Stefano Mancuso. Você 
concorda com ele, que acredita que devemos agir como planta, pensar como planta?
Eu já estava na pesquisa de estranhamentos e anomalias quando li o Mancuso, e seu texto foi uma espécie de choque, uma pulsão para a escrita, como na seguinte frase: “O futuro precisa tomar para si a metáfora das plantas”. Mas também me inspirei em outras leituras que me causam vertigem, passando por Kafka, Murilo Rubião, Clarice Lispector, Silvina Ocampo, Ionesco. Estranheza, perplexidade e hesitação, pilares do realismo fantástico, são características de um texto que procura mais perguntar do que responder, e acho que escrevo porque tenho muitas perguntas – e quase nenhuma resposta.

Qual é sua visão do teatro após a pandemia? Considerando a população vacinada, quais são os desafios que você vê pela frente e como driblá-los?
O que me apaixona no teatro é justamente sua essência: o encontro dos corpos, a presença, a criação coletiva de um instante que nunca mais se repetirá. Nem consigo imaginar o mundo sem isso, por isso minha resposta é apenas desejar que seja logo possível novamente, com a vacinação em massa. O desafio é mundial, mas, no Brasil, em especial, temos um governo que parece trabalhar contra isso e em prol de muitas formas de destruição, da cultura ao meio ambiente.

Você vem de uma família ligada ao teatro. Seus tios,  Edmundo e Yara, são, respectivamente, dramaturgo e diretora; Débora, sua irmã, atriz; Luciana, a caçula da casa, advogada e compositora, como seu pai, Eugênio, que é médico; João, primo, poeta. Qual a influência que você recebe de todos e qual deles é sua maior inspiração e por quê?
Puxa, todos me inspiram, formaram e formam, assim como minha avó, Coeli, professora, que me ensinou a ler. Minha tia Denise Gomes, também, grande leitora, sempre me passando indicações. Esses são os meus heróis e heroínas, pessoas que compreenderam na cultura um caminho de busca pela própria humanidade – e do entendimento dessa palavra em toda a sua complexidade.
 
Você saiu de Belo Horizonte tão logo se formou em jornalismo pela UFMG. Desde então, tem uma carreira ascendente. Mudar-se para São Paulo foi um projeto ou coincidências a levaram para lá?
O trabalho me chamou a São Paulo, no início como jornalista – e eu vou onde há trabalho, sou grata. São Paulo é generosa nesse aspecto, e eu tive a sorte de ter a companhia e conhecer pessoas a quem preciso agradecer sempre, como Antunes Filho e Marici Salomão. No início, senti a opressão da metrópole, mas, com o tempo, entendi que a metrópole são as pessoas que moram na metrópole. E isso muda tudo.

Como é seu trabalho como coordenadora do Núcleo de Dramaturgia do Sesi-SP e o que ele traz de alegria?
O trabalho no Núcleo, consolidado ao longo de anos pela dramaturga e formadora Marici Sa- lomão, uma referência, consiste em acompa- nhar o nascimento e o desenvolvimento das peças de 12 autoras e autores ao longo de quase um ano, alimentando o processo com exercícios, leituras e provocações mil. Ganho demais com isso, pois sou obrigada a me atualizar com procedimentos e referências, o que, por sua vez, me nutre como autora. Além disso, conheço artistas que passo infalivelmente a amar, desejando, muito presunçosa, reconheço, me tornar a     melhor amiga de cada um.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)