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Patricia Lobaccaro: 'Brasil é o gigante da solidariedade que acordou'

Radicada em Nova York, empreendedora destaca o papel das organizações comunitárias no combate ao coronavírus tanto nos EUA quanto em nosso país


postado em 20/04/2020 04:00


Nova York, 10 de abril de 2020.

Esta semana, completamos um mês de quarentena em Nova York, o epicentro da pandemia do coronavírus, com mais de 150 mil casos registrados e 7 mil mortos. A “cidade que nunca dorme” parou. Está triste e vazia. Na noite de ontem, foram registradas 799 novas mortes, mas às vezes perdemos a dimensão do componente humano dessa tragédia em frente ao mar de gráficos e estatísticas que recebemos pelos jornais.

Por trás de cada número tem uma pessoa, uma família, uma mãe, um pai, um irmão, uma história de vida. Pessoas estão morrendo sozinhas e não podem ser enterradas com dignidade. Para além das mortes, a perda de empregos e o fim da estabilidade econômica criam uma atmosfera de apreensão, aqui e no resto do mundo.

Nova York sempre foi o centro mundial da filantropia. Cidade-sede da ONU, a partir daqui bilhões de dólares em ajuda humanitária foram enviados para todos os cantos do mundo. NY também sediava galas e eventos beneficentes para arrecadar recursos para todos os tipos de causas e países – eu que o diga, pois organizei 17 deles para ajudar comunidades no Brasil.

Mas, desta vez, é Nova York que precisa receber ajuda. Um hospital de campanha foi montado no Central Park por uma ONG que atua na área de saúde emergencial e já atendeu vítimas do terremoto na Nicarágua, refugiados na Síria e pacientes do ebola na África. Segundo eles, o Central Park seria o local mais improvável onde estariam um dia. De certa forma, a epidemia horizontaliza as relações e modifica a dicotomia entre quem ajuda e quem está sendo ajudado.

A cidade tem novos heróis – os profissionais de saúde, que recebem homenagem diariamente às 19h, quando nova-iorquinos saem às janelas para aplaudi-los, em sinal de agradecimento. O Corpo de Bombeiros, grande herói após os ataques terroristas de 11 de setembro, comparece à frente dos hospitais, na troca de turno, para aplaudir os médicos. Pessoas comuns, que sempre foram invisíveis e mantêm a cidade funcionando, nunca foram tão apreciadas, como os caixas de supermercado e de farmácia, os entregadores de delivery.

Crises dessa magnitude têm a capacidade de revelar e moldar lideranças. Andrew Cuomo (governador de Nova York) desponta como o rosto do combate à pandemia nos EUA. No Brasil, esse papel tem sido das lideranças comunitárias, muitas das quais conheço pessoalmente em virtude de minhas quase duas décadas de atuação no terceiro setor. Tenho tentado apoiá-las de longe, fazendo aulas e mentorias virtuais, divulgando campanhas e contribuindo com elas. Mas acho pouco, gostaria de poder estar em campo, voluntariando, podendo agir mais.

A pandemia serviu para evidenciar a importância das organizações de base comunitária para o tecido social de um país. Nem governo nem empresas têm a capilaridade e a agilidade de resposta que elas oferecem, por conta do conhecimento de seus territórios e dos vínculos com as populações a que atendem. Por outro lado, só com recursos essas organizações comunitárias podem atender às demandas crescentes de suas comunidades. Nesse sentido, me orgulho muito de observar um novo senso de responsabilidade dos líderes empresariais brasileiros e da população em geral. Comemoramos um feito histórico na filantropia brasileira: a marca de US$ 1 bilhão doados para o combate à pandemia.

O Brasil é o gigante da solidariedade que acordou. Tempos de crise geram reflexões. Além de desafios, criam também oportunidades. Temos a oportunidade sem precedentes de construir uma nação mais responsável, solidária e justa, o maior escudo para qualquer vírus.

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