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Estado de Minas HIT

Conheça Luiza Fecarotta, curadora do projeto gastronômico Fartura

Especialista diz que os chefs têm a missão de promover e divulgar o trabalho dos pequenos produtores


postado em 25/08/2019 04:00

(foto: Davilym Dourado/Divulgação)
(foto: Davilym Dourado/Divulgação)


“Há que Educar o público”

Há dois anos e meio Luiza Fecarotta está à frente das expedições e pesquisas que são base da curadoria do Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes, que se realiza neste fim de semana e no próximo, na cidade histórica mineira. Tudo nas mãos de Luiza vira informação. É ela quem apresenta os programas exibidos no canal da Azul Linhas Aéreas, as pílulas de rádio e é responsável também pelo conteúdo do site do projeto.

Para a curadora, a grande motivação do Fartura é traduzir a riqueza da pesquisa que o projeto realiza desde 2012 em viagens pelo Brasil, nas quais busca rastrear a cadeia do alimento, com rigor e profundidade, com o propósito de movimentar economicamente o setor, celebrar e compartilhar nossos ingredientes, gestos e tradições. Luiza define o Fatura como a maior plataforma de cozinha brasileira do país, que hoje agrega site, livros, filmes e programas de TV e rádio.

Segundo ela, o projeto tem grande importância social, na medida em que roda o Brasil, mapeia a cadeia da alimentação e dá visibilidade a atores anônimos que resguardam saberes tradicionais e ingredientes ameaçados de extinção. “O Fartura ativa a força conservacionista da gastronomia, que pode atuar não só como um recurso de defesa da integridade da floresta, mas também preservar o alimento do ponto de vista cultural, 
histórico e econômico.”

COM A PALAVRA

LUIZA FECAROTTA
Curadora do Fartura e crítica gastronômica da Folha de S.Paulo

O brasileiro conhece bem a gastronomia regional ou ainda é muito nariz em pé e só tem prazer com o que vem de fora? O que é preciso fazer para valorizar a cozinha nacional ? 
Vivemos um paradigma no Brasil hoje. Ao mesmo tempo em que temos olhado mais para a riqueza nacional e feito dela até certo modismo, a simplificação da produção do alimento e o desaparecimento de espécies levam a um empobrecimento do gosto. No meu entender, a missão dos chefs, sobretudo nesse momento histórico em que se tornaram estrelas públicas, é que sejam atores ativos na promoção do trabalho dos pequenos produtores, que ainda resguardam tradições e fazem uso de ingredientes que tendem a desaparecer sem demanda comercial. Há que educar o público, ressignificar e reintroduzir ingredientes na gastronomia para preservá-los.

O que você achou do tema do festival de Tiradentes (“Da origem ao prato”)?
Esse eixo, na verdade, orienta todas as atividades da Plataforma, que tem como missão pesquisar, compartilhar e fomentar a cozinha brasileira. Uma das frentes a ser atacadas nesse processo é gerar informação capaz de promover o consumo consciente e, portanto, estimular o consumidor a conhecer com mais profundidade a cadeia completa de seu alimento e qualificá-lo, a partir daí, a fazer escolhas melhores.

Gastronomia é modismo ou coisa séria?
Enxergo uma distinção entre culinária e gastronomia e entendo que ambas são perpétuas, embora dinâmicas. Uma, com dimensão simbólica, diz respeito a um modo de fazer a alimentação, abrange o gestual, a matéria-prima e, hoje, está vinculada a um espaço privado. Outra surge relacionada ao campo semântico, a um discurso que pretende educar o paladar, proporcionar prazer e depende da opinião e do espaço públicos.

Para você o que é melhor: uma comida muito bem feita, sem frescuras, ou aquela cheia de detalhes? 
Uma coisa não é melhor que a outra. Minha busca é pela comida boa e justa, que proporcione encantamento e prazer, e seja resultado de um trato respeitoso com o meio ambiente, com os ingredientes e seus sabores em estado bruto, e com os atores dessa cadeia.

Como é sua relação com a cozinha?
Gosto da imagem do passado na qual a fogueira no campo e o cozimento dos alimentos criavam um ambiente inédito de convívio capaz de envolver o homem na vida social. Refeições coletivas, desde então, têm a potência de despertar sentimentos cívicos, afetivos e prazer. Minha relação com a cozinha vem um pouco disso, dessa capacidade da comida de proporcionar o compartilhamento de ideias e suscitar felicidade.

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