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Estado de Minas FILOSOFIA EXPLICADINHA

Uma sociedade de imbecis

Não é porque você vive rodeado de idiotas que você precisa se tornar um deles


19/03/2023 05:00 - atualizado 19/03/2023 08:44

A vida, na sociedade do cansaço, tende a piorar
(foto: vidasimples.co/colunista/a-incrivel-sociedade-das-pessoas-cansadas/)

 

Certa vez, Umberto Eco escreveu que as redes sociais tinham um poder imenso de dar voz aos imbecis. Concordo com ele, mas dou um passo a mais, com todo respeito que um mestre do pensamento merece. A sociedade tecnológica, com o advento da comunicação em rede, não apenas deu voz, mas se esforçou em aumentar a quantidade de idiotas.

Nesse quesito, temos que concordar com o avanço, qualitativo e quantitativo, dessa espécie social. Das universitárias de Bauru aos machos inseguros (seria redundância?) do Red Pill, percebemos empiricamente o aumento de idiotas no mundo. Talvez o grande ganho seja a velocidade em que isso aconteceu, um progresso em essência! O avanço tecnológico foi capaz de aumentar o volume de imbecis com uma velocidade surpreendente.

A essência desse avanço social se deve ao fato da possibilidade, cada vez mais implacável, de aglutinar, em um mesmo local, gente que fala besteira e pensa com a profundidade de um pires, anulando as barreiras físicas e geográficas que separavam os descerebrados. A sabedoria popular nos diz que “um gambá cheira o outro”. Nesse caso, um idiota identifica seu grupo a milhas de distância e, agora, sem sair de casa!

No entanto, como a realidade é sempre dialética (não entendeu o termo? Fique tranquilo, o ChatGpt pode fazer um texto sobre ele para você compreender), é totalmente possível viver em uma sociedade de idiotas e não se tornar um deles. Aproveitando esse momento, assumindo meu papel de coaching do ócio, com curso certificado pela Faculdade Universal de Ciências Ocultas e Letras Apagadas de São Tomé, titulado com o diploma de Influenciador Analógico, deixo 05 pílulas de sabedoria filosófica para que você não se torne um imbecil conectado a outros da mesma espécie:

 

 

1. Construa uma canoa. Lógico que falo em sentido metafórico, mas se quiser levar para a realidade está ótimo também. Ao menos você vai aprender uma prática ancestral e poderá até pescar um pouco. No entanto, a ideia aqui é se preocupar com a salvação da subjetividade, igual ao personagem da Terceira Margem do Rio, conto de Guimarães Rosa. A Arca de Noé, elemento simbólico para salvar todo mundo, é coisa de um passado onde as grandes narrativas funcionavam. Não existirá um “dilúvio” que mudará o “sistema”. A grande massa não será educada e cada um está preocupado, apenas, em se salvar nesse mundo-cão. Foi Platão quem disse: tente mover o mundo, o primeiro passo será mover a si mesmo. Além do mais, ninguém te elegeu salvador de nada. Deixe de ser arrogante.

 

 

2. Priorize as experiências. Na sociedade da informação, somos impedidos de experimentar as coisas. Em fração de segundos, alguém posta alguma coisa e já surgem centenas de podcasts, entrevistas no Youtube, curtidas e reportagens com especialistas. Seguindo essa parafernália toda você não passará de um jacu perdido de galho em galho, sem opinião própria, sem exercício de pensamento. Quanto mais informação, menor a experiência. Você não precisa estar atualizado sobre tudo o tempo todo. De nada adianta saber que o mundo será governado por robôs pilotando drone se você não consegue perceber que o vento frio está indicando a chegada do outono. Gente com experiência vive uma existência interessante. Só o interesse pela vida é capaz de te livrar da depressão, o mal do século.

 

 

3. Leia livros de papel. A facilidade de acesso à leitura digital não quer dizer mais conhecimento disponível na prateleira. Além disso, é um exercício budista transitar, humildemente, entre as fileiras de um sebo. E isso não se deve à suposta simplicidade do local, pois existem várias lojas que são pura elegância, mas porque você verá uma pequena parte do conhecimento acumulado ao longo dos anos. Essa experiência pode te colocar em um lugar de fecunda ignorância. Ofereça livros de presente, gesto que não se esgota no ato, mas acompanha o presenteado por um bom tempo. Por mais que os cavaleiros do apocalipse queiram dizer que leitura é coisa do passado, essa é maior tecnologia já criada pelo ser humano, a única capaz de alargar sua alma. A liberdade de um homem se mede pela quantidade de livros que ele foi capaz de ler.  

 

4. Não saia de sua zona de conforto. Quem precisa se atualizar é aplicativo. Nem deixe ninguém falar com você sobre a necessidade de reciclagem, pois você não é lixo. Quem disse que conforto é coisa a ser evitada? Vai acreditar em gente assim? Eles falam isso porque gente satisfeita não precisa sair por aí comprando coisas para suprir seus vazios existenciais, por isso a necessidade de criar, em você, um estado de constante insatisfação. Lembre-se: pessoas sossegadas, geralmente, são mais felizes. Não seja um frango da Sadia, saltitando na propaganda de Natal, na ignorância de um colonizado que festeja sua própria morte.  

 

 

5. Após os 60, decida viver em um sítio. Geralmente, as pessoas mais interessantes que eu conheço decidiram, em algum momento da vida, abandonar o corre-corre urbano. Rita Lee, Pepe Mujica, Epicuro, Zé Geraldo e Sô Chico são apenas alguns exemplos. Se as suas condições materiais permitirem isso, não deixe de respirar a beleza dessa carta de alforria. É hora de dar uma banana para as convenções sociais. Se permita esquecer a forma correta de dar o nó na gravata, ir de chinelo aos eventos da família, falar apenas o que você realmente pensa e deixar a cidade para que ela cumpra sua função: propiciar as condições necessárias para criação de mais idiotas desejantes em ostentar, real e virtualmente, uma vida mesquinha. Este é um presente que a sua história pode lhe dar, não desperdice.   

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