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Estado de Minas DEMOCRACIA

Os donos do poder

A população brasileira arca com as consequências de um governo corrupto, inepto e criminoso


23/09/2021 06:00 - atualizado 23/09/2022 09:38

Ex-presidente Michel Temer no apartamento de Naji Nahas
Ex-presidente Michel Temer no apartamento de Naji Nahas (foto: Twitter/Reprodução)

Viralizou nos últimos dias um vídeo gravado em um jantar promovido pelo ex-presidente Michel Temer no apartamento de Naji Nahas, famoso especulador financeiro, no qual os comensais, todos homens, riem de uma imitação do Bolsonaro, feita por um dos convidados. Sentados à mesa estavam, além de Temer e Nahas, Paulo Marinho, empresário e suplemente do senador Flávio Bolsonaro, André Marinho, humorista do programa Pânico da Jovem Pan (e filho de Paulo Marinho), Gilberto Kassab, presidente do PSD, Jhonny Saad, presidente do grupo bandeirantes, Roberto D’ávila, jornalista da GloboNews, Antônio Carlos Pereira, ex editorialista do Estadão, Raul Cultait, do Sírio LibAnês, entre outros. 

O reaparecimento repentino de Temer no cenário político está diretamente relacionado a fiasco da mais recente tentativa de golpe orquestrada por Bolsonaro no último 7 de setembro. Após as declarações de teor autoritário e antidemocrático proferidas pelo presidente em manifestações ocorridas em Brasília e São Paulo vários partidos e grupos que, até então, apoiavam o governo ou mostravam-se neutros vieram a público para se opor ao discurso antidemocrático de Bolsonaro e defender o impeachment.
 

'Bolsonaro é motivo de chacota para a burguesia brasileira e para os representantes das oligarquias políticas que comandam o Brasil há tempos'


Temer foi chamado, segundo ele afirmou em algumas entrevistas, pelo próprio Bolsonaro para intermediar uma conversa do presidente com o Supremo. Durante a reunião foram fechados os detalhes da carta que Bolsonaro divulgou recuando das ameaças que fez ao STF durante os atos de 7 de setembro. 

Dado que a carta foi escrita por Temer, causa certo espanto que ele e esses convidados apareçam gargalhando, sem qualquer cerimônia, da cara do Bolsonaro. Entretanto, uma análise mais atenta das circunstâncias que levaram ao jantar nos leva a entender o óbvio: Bolsonaro é motivo de chacota para a burguesia brasileira e para os representantes das oligarquias políticas que comandam o Brasil há tempos.

Diante de tal diagnóstico, podemos concluir duas coisas. Primeiro que o governo Bolsonaro exerce, segundo a lógica dos donos do poder, uma função muito importante. Ainda que seja risível para a própria burguesia que financiou e apoiou sua campanha e segue aliada do governo.
 
Bolsonaro está na presidência para dar prosseguimento a um conjunto de medidas impopulares, como a reforma administrativa, o sucateamento da saúde, a privatização dos Correios, que, num governo sério e cioso dos efeitos deletérios que algumas dessas medidas possam causar na população, dificilmente seriam aprovadas a toque de caixa e sem uma ampla discussão com a sociedade. 

De certa forma, Temer e seus comensais riem simultaneamente do Bolsonaro e de nós, parcela da população brasileira que vê seu poder de compra diluir, que sofre com o desemprego, que perdeu entes queridos e amigos para a COVID e assiste incrédula e impotente a atuação de um dos piores governos que o Brasil já teve para destruir a economia, levar a população à miséria e destruir os recursos naturais do país. Enquanto isso, membros da elite econômica e política celebram, em suas salas de jantar barrocas, com louçarias e pratarias lustrosas, a vitória de seu projeto de derrocada do país.
 

' carta apaziguadora escrita por Temer e divulgada por Bolsonaro deu sobrevida à ideia, por certo irrealista, de que, desta vez, o presidente havia se moderado e não tramaria mais contra a democracia ou acenaria com tentativas de ruptura institucional'

 

Em segundo lugar, percebemos que a possibilidade de Bolsonaro sofrer um processo de impeachment foi enterrada de vez. Após o 7 de setembro PSDB, PSD, Solidariedade e MDB cogitaram apoiar o impeachment do presidente. Porém, a carta apaziguadora escrita por Temer e divulgada por Bolsonaro deu sobrevida à ideia, por certo irrealista, de que, desta vez, o presidente havia se moderado e não tramaria mais contra a democracia ou acenaria com tentativas de ruptura institucional.  

A abertura do seminário “um novo rumo para o Brasil”, que aconteceu no dia 15 de setembro e contou com a participação de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer trouxe ainda mais elementos para observamos o apoio ao impeachment ser sepultado. Os três ex-presidentes vieram a público reafirmar que a constituição brasileira propõe um conjunto de instrumentos conciliadores entre os poderes e que a busca pelo diálogo deveria prevalecer. Ou seja, os donos do poder manterão tudo como está. Enquanto isso a população vai arcando com as consequências de um governo corrupto, inepto e criminoso. 

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