Quando se perguntava a Cristina o que ela queria ser quando crescesse, a resposta já estava na ponta da língua: CEO. Mas como assim? Você não quer ser astronauta, atriz ou médica? Não. Quero ser CEO de uma grande empresa.
O caso é que tanto a mãe como o pai da menina eram renomados CEOs. E exigiam isso da filha. “Seja uma CEO! Chief Executive Officer. Nada menos do que isso.” Daí a obsessão.
Cristina ficou tão encantada com a tal sigla que, na adolescência, tratou de aprender a formação desse tipo de palavra e passou a criar vocábulos de acordo com o seu bel-prazer:
– Estou na PDA, mamãe. Pode me buscar.
– Quê? Como assim, Cristina?
– Na PDA, Praça de Alimentação.
Até quando foi dar o primeiro beijo, a garota usou siglas:
– Cuidado, tá? Sou BV.
– Boca virgem?
– Sim.
Durante a faculdade de administração, ajudava, sempre que podia, os colegas. Ensinava o uso das siglas melhor do que a própria professora:
– Toda vez que você usar uma sigla, Martinha, primeiro você escreverá por extenso e somente depois poderá usar a sigla. É a regra. Está na ABNT.
– Oi?
– Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
– Hum...
– Então, digita aí: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística...
– Por extenso?
– É.
– Agora a sigla entre parêntesis: IBGE.
– Depois eu poderei usar só a sigla?
– Sim.
No último parágrafo do texto:
– Escreve aí, Martinha: percebe-se, portanto, que o Sesc...
– Tudo com letra maiúscula?
– Claro que não!
– Por quê?
– Porque Sesc é tipo uma palavra. Você não pronuncia as letras separadamente, pronuncia? Aí só a primeira é maiúscula.
– Hum...
No casamento de um amigo, conheceu Paulo César Amarante:
– Prazer, PCA, Paulo César Amarante.
– Prazer, CCO. Cristina Campos Oliveira.
Casaram-se. Tiveram um filho: MJ, Marcos José.
Aos 42 anos, ela enfim passou a fazer uso, como gostaria, da sigla em questão:
– Pai, finalmente! Sou CEO!
E a vida, irônica, pregou uma peça na mais nova CEO. Depois de dar a notícia ao pai, o coração do homem não resistiu. Ele morreu na hora. De quê? Pasme... AVC.
Cíntia Chagas,
Beijos!
A professora cíntia chagas escreve esta coluna quinzenalmente