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Estado de Minas Padecendo

Padecendo no paraíso

"A maternidade é maravilhosa, o amor pelos nossos filhos é imenso, mas os desafios diários, só vivendo para entender"


19/03/2023 04:00

Bebel Soares

 

Michelle Yeoh
Michelle Yeoh, no filme "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" (foto: A24/Divulgação )
 

 

Quando dei esse nome ao grupo de mães, “Padecendo no Paraíso”, 12 anos atrás, eu não sabia o real significado da expressão "Padecer num Paraíso" do poema do poeta Coelho Neto. Padecendo vem do verbo padecer, é o mesmo que: sofrendo, penando, amargando, tolerando, suportando,enfrentando, resistindo. 

 

“Ser mãe

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração! 

      Ser mãe é ter no alheio lábio que suga, o pedestal do seio, onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se equilibra sobre um berço dormindo!  É ser anseio.

Ser mãe é ser temeridade, é ser receio.

Ser mãe é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho, espelho em que se mira afortunada,

Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!

Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!

Ser mãe é padecer num paraíso!”

 

Coelho Neto

 

Hoje está claro, exercer a maternidade é um ato de resistência. É enfrentando constante. Padecer no Paraíso é a dicotomia entre o inferno e o céu. A resistência de ser mãe é estar no mercado de trabalho. De ser mãe e ficar em casa cuidando dos filhos. De ser mãe e ser mulher. De ser mãe e querer sair com as amigas. De ser mãe e gostar de sexo. De ser mãe e gostar de dançar.

 

Ser mãe é a soma dos enfrentamentos de toda mulher que vive num mundo machista, com o penar de criar filhos, sendo julgada o tempo todo. Mãe nunca é boa o suficiente. A sociedade ainda confunde mãe com a ideia da virgem Maria, da pureza livre de todos os pecados. Mas mãe é impura, mãe fez sexo para gerar um filho, e faz sexo só porque gosta mesmo. Mãe tem uma vida além da maternidade. Mãe não deixa de ser mulher. A mulher que sabe se divertir, que gosta de rir, de dançar, que trabalha, que estuda, que lê livros adultos.

 

Mãe envelhece. Mãe amadurece. Mãe vira ‘queenager’ quando os filhos entram na adolescência. Queenager é a mãe que está entrando na menopausa. A mulher que não vai ter mais filhos, que vai parar de sangrar todo mês, que vai viver ondas de calor intermináveis, insuportáveis. Que vai ver seus filhos crescendo, adolescendo, virando vulcões em plena atividade, ora soltando fumacinha, ora explodindo e jorrando lava quente. E nesse esquenta e esfria da mãe das crias adolescentes, com seus hormônios jorrando pelos poros, vemos nossos próprios hormônios minguando. E quando tudo isso passa, os filhos passam também. Se tornam adultos, deixam de depender de nós, voam sozinhos ou em companhia de outras pessoas. 

 

Que mãe está preparada para ver seu filho adulto? Esse é outro padecer. Voltar a ter toda a liberdade que tinha antes dos filhos, e querer que eles ainda estejam debaixo das suas asas. Se alegrar por eles serem independentes, e sofrer por não serem mais tão presentes na sua vida.

Michelle Yeoh levou o prêmio de ‘Melhor Atriz do Oscar 2023’ e fez um discurso inspirador dizendo: “Mulheres, nunca deixem te dizer que você passou do seu auge”. Ela homenageou as mães que são super-heroínas. Eu não queria que mãe tivesse que ser super-heroína, mas é fato que hoje nós somos e que, como ela disse “se não fossem as mães, nenhum de nós estaria aqui hoje”.

A maternidade é maravilhosa, o amor pelos nossos filhos é imenso, mas os desafios diários, só vivendo para entender. 

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