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Estado de Minas RACISMO INSTITUCIONAL

Você já deixou de fazer algo por ser uma pessoa negra?

Por conta do racismo estrutural, evito hábitos comuns como sair de chinelos ou correr atrás de ônibus


11/11/2022 09:16 - atualizado 11/11/2022 09:42

Homem negro em posição reflexiva com a mão na cabeça
(foto: Pexels)


Mesmo em dias quentes, ensolarados ou mesmo quando estou de folga, evito ao máximo andar de chinelo fora de casa. Isso inclui quando ando de ônibus, quando chamo um carro de aplicativo, quando entro em estabelecimentos ou até mesmo quando só estou em uma simples caminhada nas ruas próximas à minha casa.
 
Por que faço isso constantemente? Há alguns dias, fui até a farmácia com minha esposa e, na correria, esqueci e fui de chinelo mesmo. Poucos minutos depois que entrei, um dos funcionários da drogaria ficou na minha cola. Mesmo quando me dirigi ao caixa para pagar as compras, ele ficou plantado bem na minha frente me encarando de cima a baixo.
 
Mesmo quando me dirigi à saída da loja, com o olhar, ele me acompanhou até chegar na calçada. Só parou de me encarar quando teve a certeza que eu já não estava nas dependências da farmácia. Já perdi as contas de vezes que isso aconteceu. Por essa razão, evito ao máximo usar chinelos. 

Quando entre em lojas, evito ao máximo movimentos bruscos, fico longe das prateleiras, evito colocar as mãos nos bolsos e não abro mochilas, bolsas ou sacolas para evitar acusações de roubo.  

Quando compro algo, faço questão de pegar a nota fiscal e guardar bem junto ao produto que comprei. Sempre faço. SEMPRE MESMO! 

Mesmo quando estou atrasado, evito correr atrás de ônibus para não ser confundido com bandido. 

Em transporte público, evito ficar olhando muito para as pessoas ao meu redor. Uma vez dentro do Move, um rapaz branco que  estava sentado em uma cadeira na minha frente, se virou, olhou para mim de cima a baixo com uma cara de medo e foi sentar mais à frente. Fiquei tão sem graça na hora. Sem falar das pessoas que atravessam a rua quando me veem, o barulho que escuto das portas dos carros sendo trancadas quando eu passo pela calçada.

Mesmo gostando muito de bonés e blusas com capuz, evito usar essas peças. 

Talvez tudo que eu falei possa gerar um “espanto” para as pessoas não-negras. Talvez você esteja até pensando: “como assim? São ações e situações tão simples do dia a dia!”.  Isso é para você ver como o racismo é cínico, cruel e devastador. Até mesmo o direito de ir e vir em paz da população negra ele é capaz de retirar. Isso é para você ver como o racismo estrutural se manifesta de diferentes formas. 

Se você é uma pessoa negra, com certeza você se identificou com tudo que eu disse acima. Diante da falta de ações concretas para combater o racismo estrutural, infelizmente diferentes gerações da nossa comunidade tiveram que buscar "saídas" para evitar acusações e violências diárias. 

Mas isso tem que ter fim! Não é possível que mais e mais gerações precisem ter que “orientar” seus filhos e filhas sobre as situações que precisam evitar para sobreviver, para não serem acusadas, para chegar em casa com segurança. 

Vivenciar essas situações diariamente, décadas após décadas, destruir a nossa autoestima e a dignidade. É extremamente exaustivo ter que “evitar” situações rotineiras só por ser quem somos. É extremamente exaustivo e humilhante viver em constante alerta. 

Neste Mês da Consciência Negra é uma oportunidade a mais para discutir sobre essas e outras questões ligadas ao racismo estrutural. 

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