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Estado de Minas DIVERSIDADE

Representatividade importa

Apesar de haver algum avanço, pessoas negras ainda não têm representatividade na mídia


31/12/2021 06:00 - atualizado 30/12/2021 13:41

Ilustração de pessoas negras
(foto: Nadia Snopek/Shutterstock)

Recentemente, viralizou nas redes sociais uma ilustração médica de um feto dentro do útero materno. O motivo do viral?  O bebê e a mãe tinham a pele negra. Tenho 35 anos e foi a primeira vez que vi um desenho sobre esse assunto em que a pele negra predominava. 
 
A imagem foi criada pelo artista nigeriano e estudante de medicina Chidiebere Ibe. Em entrevista ao G1, ele contou que começou a fazer ilustrações com o objetivo de combater a falta de diversidade na literatura médica, que, na maioria ou praticamente em todas as vezes, traz apenas pessoas brancas. "Viralizou e tocou muita gente. É importante porque as pessoas querem se ver na literatura médica. As pessoas querem se sentir cuidadas e valorizadas", diz Chidiebere Ibe ao G1. 
 
A situação que relatei acima mostra bem como o racismo estrutural está em todas as partes e se manifesta de diferentes formas, como por exemplo na falta de representatividade.
 
Quer mais exemplos? Vamos lá. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas negras representam mais da metade (56%) da população brasileira, mas em 71 anos de televisão brasileira: 

Quantos apresentadores negros ou negras você conhece? 

Qual é a cor da pele dos principais apresentadores que comandam as tardes de domingo na televisão brasileira? 

Durante essas 7 décadas, em quantas novelas negras e negros foram retratados como protagonistas? 

Quem são os protagonistas da atual novela das 9? Todos são brancos? 

Porque é tão raro ver dois jornalistas negros dividindo uma bancada de telejornal de destaque? 

Qual é a cor das famílias donas dos principais veículos de comunicação no país? 

Além disso, quantos cantores sertanejos negros de sucesso você conhece? 

Porque os grandes clubes de futebol no Brasil raramente são comandados por treinadores negros? 

Qual é o perfil da maioria dos influenciadores digitais com mais de um milhão de seguidores nas redes sociais? 

Diante dessas perguntas, por mais absurdo que pareça, em diferentes ocasiões já escutei: “deixa de mimimi”. Esse “argumento” só mostra como o racismo é cínico e, ao mesmo tempo, sofisticado. De acordo com a filósofa e escritora Djamila Ribeiro o racismo é o crime perfeito, porque sua manifestação gera desigualdades, dor e também a desumanização de milhões de pessoas, mas ainda assim, muitos negam sua existência. Mesmo depois de séculos da “abolição da escravidão”, ainda existe uma manutenção das estruturas de poder no Brasil. 

Quando estava estudando na PUC Comunicação Integrada, em um dos trabalhos em grupo das disciplinas de publicidade, eu sugeri que o casal da peça fosse duas pessoas negras. No mesmo instante, dois colegas falaram que essa história de representatividade era uma grande bobagem, que não tinha a necessidade de o casal ser negro. Não preciso dizer que os dois colegas não eram pessoas negras. 

Representatividade, real e sem estereótipos, é essencial não só para o desenvolvimento da autoestima da comunidade negra, mas também pode ajudar a criar espaços onde nossa voz é respeitada e nosso senso de identidade é fortalecido. Iniciativas que promovem a representatividade da comunidade colaboram diretamente no combate ao racismo!

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