Setor sucroenergético mineiro teve recorde histórico na safra de 2022/2023 com mais de 80 milhões de toneladas -  (crédito:   Seapa / Divulgação. Exportações do agronegócio mineiro alcançam novo recorde, com US$ 15,3 bilhões em 2022. Volume de 13,6 milhões de toneladas também se destaca como o maior já comercializado pelo segmento. Na foto, plantacao de cana dea acucar)

Setor sucroenergético mineiro teve recorde histórico na safra de 2022/2023 com mais de 80 milhões de toneladas

crédito: Seapa / Divulgação. Exportações do agronegócio mineiro alcançam novo recorde, com US$ 15,3 bilhões em 2022. Volume de 13,6 milhões de toneladas também se destaca como o maior já comercializado pelo segmento. Na foto, plantacao de cana dea acucar

Minas Gerais registrou, em 2023, um superávit de US$ 10,8 bilhões no setor de agropecuária, o segundo melhor resultado da história, perdendo apenas o recorde de 2022. O segmento foi responsável por mais de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro. Os dados foram apresentados pelo Sistema da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Sietama Faemg/Senar) nesta semana.

O crescimento do setor sucroenergético e de grãos ajudou nesse aumento. A safra de grãos apresentou recorde histórico, com 18,7 milhões de toneladas, 11,2% superior à anterior. Nesse cardápio, os principais itens foram o feijão, com 556,7 mil toneladas e, percentualmente, o girassol, que, apesar de contribuir com 18 mil toneladas, teve um aumento superior a 500% em relação ao plantio do ano passado.

A cana-de-açúcar também registrou safra recorde, com 80,2 milhões de toneladas. Com isso, houve no estado incremento paralelo nas produções de açúcar, que chegou a 5,3 milhões de toneladas, 17,6% a mais que na safra anterior, e de etanol, com 3 bilhões de litros, 15,6% mais que no último período de plantio. A melhoria na produção ocorreu devido ao clima favorável e ao investimento em tecnologias.

O presidente do Sistema Faemg/Senar, Antônio de Salvo, atribui os números a expansão e produção. “Não é expandindo no sentido de abrir novas áreas: nós estamos tecnificando as áreas já consolidadas”, afirmou. A formação de produtores e pessoas para atuação em áreas rurais também foi destacada. O Ensino a Distância Senar atendeu 21 mil produtores e, apenas neste ano, 340 mil pessoas foram treinadas.

O resultado deste ano foi celebrado pelo secretário-adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, João Ricardo Albanez. “É muito positivo. No ano passado, chegamos a um valor recorde de US$ 15,4 bilhões. Agora, nós vamos ter o segundo melhor valor", comemorou.

O investimento em tecnologia no setor agrícola também foi exaltado pelo secretário. “Hoje, o setor não é visto como rudimentar, como o 'Jeca Tatu' que o Monteiro Lobato registrava. Hoje, agricultura e a pecuária utilizam muita tecnologia. Temos a agricultura de precisão, com uso de drones, sensores, faz parte do dia a dia e atrai os jovens para se envolverem nesse setor”, avaliou.

Clima traz previsão de retração em 2024

Apesar dos resultados positivos nas últimas duas safras, a perspectiva para 2024 não é tão boa, por causa dos efeitos das mudanças climáticas que vêm afetando o Brasil e outros países pelo mundo. A estimativa do governo estadual é que no próximo ano a safra de grãos seja 4,7% inferior à atual. Ainda assim, o setor planeja implementar medidas para enfrentar esses problemas.

“Estamos passando por fenômenos climáticos complicados, não só em Minas Gerais, mas em boa parte do Brasil. Temos medidas de socorro, principalmente na Região Central de Minas, Norte de Minas e vales do Mucuri e Jequitinhonha. Vamos esperar por essa perspectiva de chuvas agora entre Natal e Ano Novo, para que a gente possa ver medidas a serem adotadas. Tem a possibilidade de fazermos barragens, usar águas subterrâneas para manter essa população no campo e melhorar a vida dos mineiros”, afirmou presidente do Sistema Faemg/Senar, Antônio de Salvo.

As alterações climáticas são um dos grandes desafios para a população e para o setor de agronegócio nos próximos anos. Na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foram discutidos incentivos a países pobres ou em desenvolvimento que consigam zerar a emissão de gás carbônico (CO²) na atmosfera.

“O setor agropecuário tem grande possibilidade de reter CO². Os profissionais de ciências agrárias e zootecnia têm aumentado a demanda por sistemas de produção sustentáveis", comentou o secretário-adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, João Ricardo Albanez.

Nas questões de curto prazo, o governo de Minas Gerais, segundo Albanez, está promovendo ações como regularização fundiária, tendo entregues 1.800 títulos no estado, e distrituição de kits de irrigação por gotejamento para populações em áreas secas. Investe ainda no programa Garantia Safra, que tem 44 mil agricultores familiares cadastrados. Em caso de perdas significativas da produção por falta de água, os cadastrados recebem um valor de R$ 1.200, com o objetivo de auxiliar o produtor.

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Minas Gerais exporta para 174 países, tendo como principais parceiros a China (US$ 4,1 bilhões), Estados Unidos (US$ 933 milhões), Alemanha (US$ 733 milhões), Itália (US$ 502 milhões) e Japão (US$ 477 milhões). A produção cafeeira, tradicional no estado, é a que contribui com o item mais exportado, gerando US$ 5 bilhões em divisas. Em seguida vêm a produtos de soja, o setor sucroalcooleiro e de carnes.

A produção agropecuária também representou uma parcela importante do mercado mineiro, com destaque para o leite, carne bovina, frangos e suínos. Apesar do cenário, a produção leiteira brasileira vem enfrentando concorrência forte dos vizinhos do Mercosul, principalmente Argentina e Uruguai, que desestabilizou os preços. O preço do leite, por exemplo, caiu quase 40% em 2023, segundo Antônio de Salvo.

Tabela

Safra mineira de grãos bateu recorde de produção no período de 2022 a 2023

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“Isso provocou um desestímulo na pecuária leiteira brasileira e de Minas. Estamos trabalhando para que a gente atenue esse efeito negativo e que a pecuária possa manter essa atividade lucrativa”, observou o presidente da Faemg. Ele aponta que é necessário buscar um equilíbrio, já que a baixa no preço do produto pode ter um impacto negativo no produtor, enquanto a alta dificuta o acesso da população ao alimento. A preocupação com a concorrência de produtos externos também foi partilhada por João Ricardo Albanez, ao apontar que o arroba do boi também enfrenta o mesmo problema.

O cenário deve mudar para o próximo ano, segundo previsão do secretário-adjunto de Agricultura e Pecuária. Ele espera que produção local receba o certificado da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) para permite a exportação para outros mercados. É comum que alguns países imponham barreiras a produções a locais que apresentem alguma doença, como a febre aftosa. A certificação internacional supera essa possível restrição.

Além de café e leite, a diversidade de produção foi destacada pelos representantes do agro e do estado, que apontaram recordes de vendas de itens como milho, morangos, uvas, sementes, coco, linho e outros.