Pista estreita e sem acostamento expõe o risco em trecho de estrada estadual -  (crédito: alexandre guzashe/EM/D.A Press)

Pista estreita e sem acostamento expõe o risco em trecho de estrada estadual

crédito: alexandre guzashe/EM/D.A Press

Uma pessoa morreu a cada 18,8 batidas, capotamentos, atropelamentos e demais acidentes de trânsito em estradas que cortam Minas Gerais no ano de 2023, índice de 5,32%. A chance de perder a vida ao se envolver em um acidente é maior nas estradas estaduais, com uma morte a cada 14 ocorrências (7,14%), seguido pelas rodovias da União, com um óbito a cada 28 desastres (3,57%) e pelas vias de responsabilidade das prefeituras, onde a cada 70,6 acidentes uma pessoa morreu naquele ano (1,42%). Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais e foram levantados a pedido da reportagem do Estado de Minas .


Em termos absolutos, o levantamento mostra a ocorrência de 38.698 acidentes em Minas Gerais, o maior número desde 2019. Em 10.671 deles, pessoas ficaram feridas ou morreram, estatística que perde apenas para as de 2019 (12.612). No total, foram 22.508 feridos e 2.055 mortos. O levantamento não distingue quais as rodovias com mais ocorrências e vítimas. Na comparação com 2022, os acidentes subiram 12,4%. As pessoas feridas também foram mais numerosas, com um crescimento de 4,6%. Por outro lado, o número de mortes foi menor, com redução de 2,7% no comparativo dos dois anos.


O relatório de vítimas de acidente de trânsito extraiu dados para as rodovias federais (tanto administradas pela União quanto concedidas ao estado), estaduais e municipais, a partir dos registros de ocorrências feitas pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), perícias e procedimentos da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) e Sejusp. “Pode haver outros acidentes registrados pela PRF, que não estão contabilizados neste levantamento”, afirma a secretaria. Apesar de alta, a chance de um acidente provocar uma morte em 2023 foi menor que a média de 2019 a 2022, quando uma pessoa perdeu a vida a cada 15,3 batidas, capotamentos, atropelamentos e outros desastres.


Em 2023 as rodovias estaduais continuaram a representar o maior índice de acidentes das estradas mineiras, com 54% da participação nos desastres, contra 38% das federais e 8% das municipais. Comparando-se com a média desde 2019, no entanto, as vias administradas pelo DER-MG e fiscalizadas pela PMMG foram as únicas a diminuir essa participação com relação à média, passando de 57% para 54%, enquanto as vias da União e concedidas ao estado ampliaram sua fatia de acidentes de 36,5% para 38% e as municipais, de 6,5% para 8% no mesmo período.


PRECARIZAÇÃO


Para o médico especialista em Medicina do Tráfego e diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, os altos índices de acidentes e mortes desde 2019 não são obra do acaso, mas uma amostra do abandono de todas as políticas públicas de modernização e reformulação das rodovias. “Nós temos rodovias dos anos 1950, 1960 e 1970 e que, nesses últimos anos, as mínimas intervenções que existiam, simplesmente a conservação asfáltica, também foram deixadas de lado. Houve um abandono das intervenções, uma precarização da sinalização, ou seja, rodovias que já tinham uma condição de tráfego ruim, pioraram. Portanto, esse aumento desde 2019 é proporcional à falta de intervenções na área viária estadual”, avalia.


O diretor científico da Ammetra afirma que o DER-MG precisaria de atualizar suas concepções e ações para trazer melhorias e mais segurança nas estradas estaduais. “Temos um departamento estadual que ainda padece de modernização quanto às suas intervenções, na parte do maquinário e treinamento. Isso mostra que o Estado não conta com os mecanismos para gerir adequadamente e intervir nas dimensões extremas de malha que ele possui. Não é por acaso que em 2023 os acidentes foram maiores nas rodovias estaduais. Elas estão numa condição de conservação ruim ou péssima. Não existe nenhuma intervenção quanto à ampliação das faixas de rolamento, duplicação. Esses números mostram que a alta dessas ocorrências está relacionada ao aumento do transporte rodoviário de cargas”, conclui Coimbra.

Fluxo de alto risco nas sinuosas estradas estaduais

Nem as pistas duplas da rodovia MGC-262 conseguem dar vazão ao intenso volume de veículos que chegam das ruas de Sabará, na Grande BH. Ingressam na rodovia ainda que apenas para atravessar de um bairro a outro ou seguir por poucos quarteirões. Situação que se agrava seguindo o contorno sinuoso do Ribeirão Sabará, no sentido a Caeté, quando a pista se espreme em uma faixa por sentido, perdendo as marcas de separação, sem espaços para acostamento, muitas vezes entre barrancos, precipícios, mata e povoações humildes praticamente à beira da estrada. A chuva cai e a drenagem inexistente em muitos pontos dos 20 quilômetros entre as duas cidades chega a gerar correntes de água e acúmulos onde os veículos podem aquaplanar. Os poucos pontos de ultrapassagem nas subidas de curvas fechadas são estímulos à imprudência, sobretudo quando um caminhão mais lento retém uma fileira de carros atrás de sua carroceria.


As condições da rodovia MGC-262 se repetem em várias outras estradas estaduais de Minas Gerais e mostram como é perigoso trafegar por essas vias, as que geram mais acidentes, feridos e mortos no estado, como mostra a reportagem do EM. De acordo com o levantamento de Volume Médio Diário Anual de Tráfego (VMDAT) nas Rodovias do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais(DER-MG), o fluxo na via chega a uma média de 2.008 veículos por dia, sendo 9% (173) de carga e 4% (82) de passageiros.


“No Quadrilátero Ferrífero há uma intensa circulação de veículos de grande porte, muitos transitando com peso excedente, sobrecarregando o tráfego local e prejudicando a malha asfáltica. Muitos transitam sem uma proteção do material que é transportado, fazendo com que essas partículas se espalhem pela pista, o que é um dificultador em situações de extrema urgência, como frenagem, além de ser um fator adicional de desgaste para outros veículos que transitam na pista e para os próprios caminhões, que apresentam constantes problemas mecânicos”, observa o médico especialista em Medicina do Tráfego e diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.

De acordo com os dados do VMDAT, publicados em 2020, nas rodovias do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), dos 10 segmentos com maior fluxo de veículos quatro são da MG-010, sendo os três primeiros e o quinto mais movimentados. O trecho entre Venda Nova (Viaduto Vilarinho) e a MG-433 (acesso a Santa Luzia) é o de maior concentração veicular, com média de 43.921 unidades por dia. Em seguida, vem o segmento do acesso a Santa Luzia até o entroncamento com a MG-424 (para Pedro Leopoldo), com 37.080 veículos, e o que dá acesso a Vespasiano, com 21.419.


Na sequência, vêm a MG-459, entre Ouro Fino e Monte Sião, com 16.306 veículos diários em média; a MG-010 (Vespasiano-Confins), com 16.228; MG-459 (Pouso Alegre), com 15.987; MG-050 (Divinópolis), com 15.567; MG-424 (Venda Nova -São José da Lapa), com 15.219; MG-424 (Dr Lund-Confins), com15.070; e a LMG-806 (Justinópolis-Presídio Dutra Ladeira)


Na segunda-feira passada (26/02), a reportagem do EM mostrou os perigos de vias sinuosas, muitas delas na área da Grande BH e no Cinturão Metropolitano, onde um grande volume de veículos de carga e passageiros concorre com aqueles de passeio . É o caso de vias com muitos registros de acidentes e mortes, como a MG-435 (Caeté-BR-381), MG-020 (Santa Luzia-Taquaraçu), MG-432 (Ribeirão das Neves-Esmeraldas) e a MG-270 (Carmópolis-Entre Rios). A mesma fonte de dados do DER-MG mostra que entre as rodovias estaduais há 12 onde o fluxo de veículos de carga supera o de passageiros e de passeio: MG-135, MG-187, MG-188, MG-190, MG-251, MG-342, MG-352, MG-354, MG-424, MG-439, MG-491 e a AMG-900.


O maior movimento é o da MG-251,que no trecho entre a BR-116 e a entrada para Águas Vermelhas e no segmento entre Laje Velha e Água Boa concentra mais de 83% de seu movimento nos veículos de carga. O terceiro trecho com mais caminhões e carretas é no colar metropolitano de Belo Horizonte, na MG-424, entre Sete Lagoas e Prudente de Morais, passando de 78% de movimento de cargas.


OUTRO LADO

O Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e a Secretaria de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) são os responsáveis pela infraestrutura e conservação da malha rodoviária estadual e concedida. Segundo o DER-MG, para implantar as rodovias estaduais, os técnicos levam em consideração o objetivo principal da via, condições climáticas, hidrológicas, do solo e relevo, bem como o orçamento e o tráfego. A sinalização horizontal e vertical orienta a uma condução compatível.


“Respeitar a velocidade é essencial para prevenir e evitar acidentes. As medidas adotadas para a redução dos acidentes nos pontos críticos vão desde campanhas educativas, reforço da sinalização até a implantação de radar para controlar o excesso de velocidade. Nos locais onde os radares foram instalados pelo DER-MG, os acidentes se reduziram a nível próximo de zero”, informou o departamento.


No momento, o DER-MG informou ter 699 radares instalados em 22.627 quilômetros de rodovias pavimentadas. “Menos de 1% dos motoristas que passam por um radar são multados. Para controlar o excesso de peso, um dos fatores que causam desgaste precoce do pavimento e acidentes pelo fato de o veículo de carga não conseguir realizar a frenagem de modo adequado, o DER-MG tem 35 praças de pesagem em operação em locais estratégicos. Este número deve ser ampliado para 50 nos próximos três anos”, informa o DER-MG.


Sobre os trechos referidos pela reportagem e que são de responsabilidade do DER-MG, o departamento informou sobre ações específicas. A MG-270 (Carmópolis / Entre Rios de Minas); MG-187 (MG-230/BR-262); MG-188 (Unaí – Paracatu -Patrocínio), MG-190 (Coromadel – Monte Carmelo – Iraí – Nova Ponte – Sacramento) e MG-439 (Pains /BR-354) fazem parte do programa de conservação rotineira do DER-MG com tapa-buracos, roçada, sinalização horizontal e vertical, além de alguns tipos de problemas em pontes e pontos com erosões, informou. “A MG-424 vai passar por um processo de recuperação funcional do pavimento e, em seguida, será concessionada”


Na BR-459, a concessionária recuperou 118 quilômetros de pavimento e implantou nova sinalização horizontal. A rodovia recebeu 1.938 placas, 47,8 mil taxas refletivas e 303,7 metros de defensas metálicas. “O trecho concedido da MG-190, entre Romaria e Nova Ponte, passou por limpeza e tapa-buracos. Mais de 35 quilômetros de ações no pavimento da MG-290, com 45 quilômetros de sinalização horizontal e 80 placas. A partir de 2025, terão início às obras para aumento da capacidade das rodovias, como a implementação de terceiras faixas, implantação de trevos, entre outras”, informa o DER-MG.


Na MG-050, que é concedida e conta com cobrança de pedágio, em Divinópolis, a concessionária afirma ter investido R$ 222 milhões em duplicação (17,4km); intersecção com pistas duplas; nova ponte sobre o Rio Pará; três viadutos para retorno e dois acessos de nível; nova ponte sobre o Rio Itapecerica; quatro passagens inferiores; interseção em dois níveis com duas passagens inferiores; novo viaduto e alargamento antigo; passagem superior para retornos operacionais. “A realização dessas e outras melhorias no trecho são constantes e fizeram com que os índices de acidentes fossem reduzidos, ao longo dos anos, em 40%, em comparação com 2008, no início da concessão”, informou o DER-MG.