Mercearia Pérola do Atlântico, em cena do documentário Mercearias de Beagá -  (crédito: Divulgação)

Mercearia Pérola do Atlântico, em cena do documentário Mercearias de Beagá

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No dicionário, a palavra matula significa, entre outras coisas, “comida para levar”. Mas a Daniela Fernandes, da Le Petit, uma produtora cultural focada no audiovisual, idealizou o Matula Film Festival no ano de 2021, dando à palavra matula um sentido maior, que começou nas suas memórias e na relação afetiva com a avó e com os pratos que ela fazia e enviava em “matulas” para a neta.

Sendo assim, para o festival, o conceito não tem relação apenas com esse transporte de alimentos, mas sim, e principalmente, com um conjunto de memórias, desejos e anseios da vida cotidiana da Daniela e de grande parte dos trabalhadores do Brasil, que saem de casa todos os dias transportando a própria refeição.

Quando o projeto foi lançado no ano de 2021, visando se apropriar dos recursos audiovisuais para falar sobre comida e cultura alimentar, ele veio em uma edição online, e trouxe, como surpresa, o documentário MERCEARIAS DE BEAGÁ, com roteiro e curadoria do jornalista Daniel Neto, criador do perfil Baixa Gastronomia. O filme mostra a importância cultural das mercearias espalhadas pela cidade e o quanto elas escondem histórias, ingredientes, riqueza cultural e gastronômica, e, especialmente, mineiridade.

Ao longo dos poucos mas envolventes minutos de produção, conhecemos 5 lugares que são referências em suas regiões, atraindo público fiel - não de clientes, mas de amigos. São eles: Mercearia do Chico, Pérola do Atlântico, Bar e Café Cristal, Armazém do Zé Totó e Zé Correia.

Ainda que em versão online, a primeira edição foi um sucesso de público e de envolvimento, comprovando algo que sempre acreditei: somos sedentos por nossas origens e precisamos resgatá-la. É impossível criar um futuro, falar em sustentabilidade, em produção local, em valorização do que é nosso, sem olhar para o que existiu no passado. É nele que reside tudo que somos.

Na segunda edição, em outubro, Daniela Fernandes desenvolveu, com roteiro de curadoria da jornalista gastronômica Lorena Martins, um documentário sobre as três matriarcas da cozinha mineira: Maria Stella Libânio Christo (1918-2011), Dona Lucinha (1932-2019) e Nelsa Trombino (1938-2023).

Com o título TRÊS MARIAS, o documentário surgiu para integrar a programação da 1ª Bienal Internacional da Gastronomia de Belo Horizonte, que aconteceu entre os dias 16 a 31/11, e homenageou as mulheres que representam toda a ancestralidade da nossa comida, dando voz a tantas outras que ficaram esquecidas no tempo pela falta de valorização, de possibilidade ou, ainda, de interesse na criação de memórias locais.

Essa edição do Matula foi presencial, no Mercado Novo, com uma série de programações além da exibição dos filmes, mas o que quero destacar nessa conversa de hoje é que o audiovisual é tão relevante para o cenário cultural e da preservação histórica, que esses dois filmes foram exibidos na Mostra Imersiva Brasileira, que aconteceu em Los Angeles, na Galeria Visit Brasil, entre os dias 02 a 04/11.

Isso mostra, com certeza, a força da nossa cozinha, mas principalmente a importância dessas conexões criativas que existem para incentivar a valorização das nossas raízes e do nosso povo.

Valorizar o que é nosso é central e quero que reflita sobre isso para não cometer o equívoco de olhar para fora sem antes olhar para dentro. Pertencer a algo é o melhor dos sentimentos.

Até a próxima!

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