
Mas como será essa infraestrutura de comunicação e informação nas cidades brasileiras? Em quanto tempo vai ser possível acessá-la? As respostas para essas questões são justamente o que esperam encontrar os pesquisadores de diversos centros de ciência no país, reunidos no projeto Construindo cidades inteligentes: da instrumentação dos ambientes ao desenvolvimento de aplicações. Financiado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias Digitais para Informação e Comunicação (CTIC), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) do Ministério de Ciência e Tecnologia, o estudo propõe um aprofundamento da pesquisa em torno do tema cidades inteligentes. O conceito abrange a oferta de serviços de comunicação e informação com o objetivo de melhor atender o cidadão nos conglomerados urbanos, garantindo também uma gestão pública mais eficiente.
Um dos conceitos atuais de cidade inteligente é de que para ter rapidez de resposta frente a diversos problemas – de trânsito, saturação num determinado hospital, emergência na área central – um núcleo urbano precisa de comunicação eficiente. Mas, para viabilizar a aplicação prática do projeto, no entanto, serão necessários de 20 anos a 30 anos. "Há muito trabalho a ser feito nessa área e vai demorar bastante. Mas a proposta está fomentando gestões públicas inteligentes que tenham a ver com a tecnologia de comunicação e informação", acrescenta o professor.
Segundo explica Aldri dos Santos, o primeiro passo para construir uma cidade inteligente é adquirir dados urbanos, por meio de redes de sensores e internet. "Depois, vêm os sistemas de comunicação, armazenamento e acesso dos dados por meio de tecnologias de rede sem fio, além da construção de aplicações que beneficiem essa infraestrutura. Por isso, o projeto é subdividido em três vertentes: instrumentar para que sejam criadas tecnologias ligadas à internet, comunicação entre redes sem fio e sensoriamento de ambientes", diz.
Para isso, os pesquisadores estão sendo incentivados a pesquisar esses campos com o objetivo de criar ferramentas para que cada serviço planejado pelo poder público possa ser efetivamente usado. Para desenvolver um sistema de saúde, por exemplo, é preciso coletar dados e enviá-los para uma outra rede que possa armazená-los de maneira organizada e fácil de ser disponibilizados depois. "Ou seja, é preciso ter uma infraestrutura de comunicação para que os dados cheguem até onde o governo deseja. É o que o projeto propõe. A partir daí, será necessária uma segunda rodada de estudos para que o governo decida como essa plataforma será usada", especifica Santos.
O valor total financiado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, que envolve cerca de 30 professores, é de R$ 1, 88 milhão, a ser distribuído igualmente entre as instituições. Ao lado da Federal do Paraná, estão envolvidas na iniciativa as universidades federais de Minas Gerais (UFMG), São João del -Rei (UFSJ), Ouro Preto (Ufop) e Universidade de Formiga (Unifor), e ainda a Universidade de Brasília (UnB), PUC-Rio, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo, e as federais de Alagoas (Ufal), Espírito Santo (Ufes), Goiás (UFG), Fluminense (UFF), Federal do Pará (UFPa), Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio de Janeiro (UFRJ), Rio Grande do Norte (UFRN) e Santa Catarina (UFSC).
Rumo certo
Para o coordenador geral do Cidades inteligentes, as diferentes realidades entre os municípios brasileiros exigirá parâmetros específicos neste segundo momento. "Ainda não está definido como a plataforma poderá ser aplicada numa cidade pequena ou muito grande. A tecnologia de transmissão de dados numa metrópole como Belo Horizonte é muito mais complexa que numa cidade do interior", cita. Outro fator distinto de aplicação é a área envolvida. "A forma que tratamos a saúde pública e a educação é diferente. Um dos ambientes de teste do projeto ligado à comunicação e sensoriamento será Belém, capital do Pará, que é cortada por um rio muito grande, onde é preciso comunicar de uma margem à outra. Para isso, será usada uma tecnologia diferente do que a aplicada em São Paulo", revela o professor do UFPR.
Na visão de Santos, as cidades inteligentes são uma tendência inevitável. "O projeto permitirá ações dinâmicas. O país vai economizar dinheiro, melhorar o atendimento ao cidadão e poder planejar melhor. Hoje temos o princípio que é sempre necessário fazer uma estatística para levantar dados. Com as cidades inteligentes, tudo isso será acompanhado em tempo real", acrescenta.
