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Estado de Minas

Impopular e fragilizada, Dilma tem que engolir declarações de Temer

Com a leitura de que será a presidente e não o vice a mais prejudicada, ministros petistas evitam criticar publicamente o peemedebista. Mal-estar, porém, toma conta dos bastidores


postado em 05/09/2015 06:00 / atualizado em 05/09/2015 08:34

Enquanto Temer falava aos empresários, Dilma era orientada por Lula a retomar sua relação com o vice para garantir a governabilidade(foto: Lula Marques/Agência PT)
Enquanto Temer falava aos empresários, Dilma era orientada por Lula a retomar sua relação com o vice para garantir a governabilidade (foto: Lula Marques/Agência PT)
O governo não gostou nem um pouco das declarações dadas pelo vice-presidente, Michel Temer, na noite de quinta-feira, afirmando que a presidente terá dificuldades para chegar a 2018 se mantiver a taxas de popularidade tão baixas, oscilando entre 7% e 8%. Mas justamente por ser tão impopular e estar tão fragilizada, Dilma Rousseff e os ministros próximos a ela engoliram as palavras de Temer cientes que será a petista, e não o peemedebista, a principal vítima se houver mais um confronto direto entre eles. “O vice-presidente Michel Temer tem compromisso com o governo Dilma e com o Brasil. Estamos diante de um democrata e de um líder político muito correto. Seus gestos falam mais do que suas palavras”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.

Outros integrantes do primeiro escalão, ainda que reservadamente, defenderam o vice-presidente, mas reconhecem que ele tem mantido um equilíbrio sobre humano ao não se rebelar explicitamente contra o processo de fritura pelo qual passa internamente. “Não tenho nenhum motivo para achar que o Temer está conspirando contra nós. E entendo todos os motivos que o levam a estar chateados conosco”, disse um ministro com livre trânsito no Planalto. O mesmo graduado integrante do primeiro escalão disse que a razão da angústia de Temer tem nome, sobrenome e está no quarto andar do Planalto. “É preciso muita paciência para suportar as pressões feitas por Mercadante”, disse o aliado da presidente.

Mas nem todos os governistas são tão condescendentes com o vice-presidente. “As palavras dele foram um desastre. Ele estava diante de uma plateia ávida pela queda da presidente e, de um jeito sinuoso, disse exatamente o que eles queriam ouvir. Foi inacreditável”, afirmou uma liderança governista no Congresso. Para este parlamentar, o vice-presidente é experiente demais para dizer que escorregou nas palavras. “Ao falar o que falou, o vice-presidente deixou claro que é uma alternativa ao que aí está. Pessoalmente, não acredito que ele esteja trabalhando para minar a presidente da República. Mas esse tipo de discurso insufla os setores do PMDB que desejam ver Dilma pelas costas para assumir o Planalto”, criticou o aliado da presidente.

A interlocutores, Temer disse ontem que suas palavras foram descontextualizadas. Bateu na tecla de que a situação da impopularidade é passageira, desde que o governo retome o controle da economia e da política. Para um dos vice-líderes do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), o vice deu uma grande demonstração de lealdade. “Ele pode até ter o cometido o erro e aceitado participar de um evento de socialites desgostosas com o governo. Mas deixou claro que não se deve esperar, dele, qualquer movimento público para desestabilizar a presidente Dilma Rousseff”, lembrou Zarattini.

Para o vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), Temer reproduziu um diagnóstico correto que está sendo feito em todas as instâncias decisórias do país, inclusive no meio econômico. Mas negou que o vice esteja estimulando um desembarque do governo. “Ele não entregou os pontos. Ele fez uma constatação, um diagnóstico que todo mundo faz. A situação é grave, o governo tem baixíssima popularidade. Mas o PMDB quer ajudar o país e tem ajudado o governo”, reiterou.

Para lideranças da oposição, as palavras de Temer são uma prova de que o afastamento peemedebista em relação ao Planalto é irreversível. “Essa fala é um sintoma de que a relação não está tão tranquila como deveria ser. Acho que revela um certo nervosismo, uma certa impaciência do vice em relação à situação do País”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). As suspeitas oposicionistas são reforçadas pelo fato de Temer ter colocado um possível prazo de validade para o governo caso a popularidade não seja revertida diante de uma plateia contrária ao governo. O encontro foi organizado por Rosângela Lyra, que lidera o grupo batizado de ‘Acorda, Brasil’, que é a favor do impeachment da presidente.

A empresária já teria manifestado a políticos próximos que é a favor da “solução Temer”, ou seja, que o seu grupo apoiaria o vice caso ele viesse assumir à Presidência no lugar de Dilma.

GOLPISMO Para o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação no governo Lula e ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, a fala de Temer expressa “um golpismo explícito”. “É muito triste e muito grave. Falou o vice-presidente da República, o sucessor direto da presidente”, disse Amaral. Segundo ele, não se pode encarar esse como um deslize, já que as declarações em que Temer sinaliza com a hipótese de assumir o governo são recorrentes. “Dizer que não há uma tentativa de golpe é esconder o sol com a peneira.”

TROCA DE DISCURSO Um dia após ter dado uma declaração colocando em dúvida que a presidente Dilma Rousseff conclua o mandato caso mantenha a baixa popularidade, o vice-presidente Michel Temer afirmou, ao diário americano The Wall Street Journal, ter total confiança de que a presidente governará até 2018. “Você pode escrever isso: eu tenho certeza absoluta que isso vai acontecer, que será útil para o país, que não haverá nenhum tipo de perturbação institucional. Dilma governará até 2018”, cravou Temer.


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