O governo brasileiro classificou de "extremamente grave" a denúncia de espionagem americana publicada neste domingo pelo jornal O Globo, baseada em documentos do ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana Edward Snowden, e pedirá explicações a Washington. "Consideramos extremamente grave o que saiu" na imprensa, disse à AFP Tovar Nunes, porta-voz do ministério das Relações Exteriores.Embora a informação não seja oficial, Nunes disse que "o que vimos é suficiente para que consideremos grave esta denúncia de espionagem. Haverá uma reação do governo brasileiro bilateralmente com pedido de esclarecimento".
"Não há números precisos, mas em janeiro passado o Brasil ficou pouco atrás dos Estados Unidos, que teve 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens espionados", acrescenta o texto, que contou com a assinatura de Glenn Greenwald, o repórter do jornal The Guardian que trouxe à tona o programa de vigilância ultrassecreto PRISM e outro para coletar registros telefônicos nos Estados Unidos. Greenwald vive no Rio de Janeiro.
Tovar Nunes indicou que o Brasil "promoverá no âmbito multilateral, em fóruns como as Nações Unidas, iniciativas para garantir a segurança das informações".
O Brasil confirmou na última terça-feira ter recebido um pedido de asilo de Snowden, que está há mais de duas semanas bloqueado na zona de trânsito do aeroporto de Moscou, mas indicou que não responderia à solicitação. O ex-consultor da NSA tem ofertas para se refugiar em Venezuela, Nicarágua e Bolívia. Snowden trabalhou na Booz Allen Hamilton, uma empresa que presta serviços à Agência de Segurança Nacional americana, e tinha acesso a uma grande quantidade de informação relacionada ao programa de espionagem das comunicações dos Estados Unidos.
"O Brasil, com extensas redes públicas e privadas digitalizadas, operadas por grandes companhias de telecomunicações e de internet, aparece destacado em mapas da agência americana como alvo prioritário no tráfego de telefonia e dados (origem e destino), ao lado de nações como China, Rússia, Irã e Paquistão", revela o texto.
Os documentos afirmam que a NSA coletava os dados do Brasil e de outros países através de sistemas como Fairview e X-Keyscore. Com o X-Keyscore, é possível rastrear "mensagens enviadas do Brasil em inglês, árabe ou chinês, assim como de correspondência eletrônica redigida em português, russo ou alemão", indica O Globo. Uma busca em tempo real no sistema de mapas do Google pode ser interceptada. O Fairview permite, por exemplo, interceptar chamadas telefônicas através de uma associação com uma empresa de telefonia americana, que, por sua vez, tem acesso à rede brasileira.
James Clapper, diretor de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, disse ao jornal O Globo: "deixamos claro que os Estados Unidos colhem informação de inteligência estrangeira do mesmo tipo coletado por todas as nações".