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Estado de Minas

Julgamento do mensalão ganha contornos de novela e vira um campeão de audiência

Julgamento no Supremo levou o horário nobre para a parte da tarde, período em que ocorrem as sessões. E muitos capítulos ainda vêm por aí


postado em 16/11/2012 07:49 / atualizado em 16/11/2012 10:30

"Sempre falo desse assunto. Seja na mesa do bar, com minha namorada", diz Vinicius Ribeiro Pimentel, 32 anos, professor (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Na primeira semana do julgamento do mensalão, o advogado Leonardo Yarochewsky, defensor de Simone Vasconcelos, ex-funcionária de uma da empresas de Marcos Valério, apelou para a novela Avenida Brasil – então no auge da popularidade – na tentativa de sensibilizar os ministros do Superior Tribunal Federal (STF): “Até a Carminha diz que vai processar a Nina por formação de quadrilha”, criticando o que ele entende por banalização desse tipo de crime. A novela global acabou, os brasileiros conheceram o destino das personagens interpretadas por Adriana Esteves e Débora Falabella e o julgamento iniciado em 2 de agosto segue despertando o interesse nas tardes da TV Justiça, canal público de televisão que transmite ao vivo todas as sessões. Isso sem contar aquele telespectador que aguarda ansiosamente o noticiário dos canais privados para conferir o resumo da sessão do dia.

“É uma coisa que prende a gente. Igual uma novela”, compara a professora aposentada de história Alda Maria Mascarenhas Senra, de 64 anos. Ela assiste às sessões quase todos os dias. A TV Justiça, exatamente por ser um canal público, não registra a audiência. A última medição foi feita há dois anos, por um curto período de tempo, apenas para reajustar a programação. Entretanto, ao contrário do que ocorre nos canais de televisão tradicionais o horário nobre é sempre no período da tarde. Como em um típico folhetim, o ministro relator da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, e o ministro revisor, Ricardo Lewandowski, assumem posições antagônicas, travam discussões pesadas e agradam aos telespectadores.

“Acho superinteressante ver a discordância entre o relator e o revisor. Os dois são ríspidos, mas mantêm as posições. Acho bacana, pois eles têm opiniões diferentes”, destaca a aposentada. Outro ponto positivo, segundo ela, é não ter um script a ser seguido, ou seja, nada é combinado. “Eles discutem e não ficam escondendo, com medo do que o povo está pensando. Passei a respeitar mais o Judiciário”, avalia.

Alda, que em muitos dias assiste a todas as horas da sessão, diz ter ficado decepcionada com os advogados de defesa. “Os melhores advogados do Brasil estavam ali e eles foram muito fracos. Ficavam insistindo que determinada acusação não estava nos autos. Será que eles pensaram que os ministros iriam engolir isso?”, questiona a aposentada.

Entretanto, a comparação entre acompanhar uma novela televisiva e seguir o maior julgamento da história da política brasileira tem uma falha. O clímax sempre é deixado para o fim nas tradicionais novelas televisivas. Nos últimos capítulos uma série de acontecimentos que se arrastavam por toda a trama encontram um desfecho. Na vida real, por uma decisão de Joaquim Barbosa, a dosimetria das penas dos integrantes do núcleo político (a mais esperada), foi adiantada e feita antes da divulgação das penas do núcleo financeiro da ação penal.

Dessa maneira, o ápice da “novela” transmitida pela TV Justiça ocorreu na segunda-feira, quando o ex-ministro José Dirceu (PT) foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, além de multa de R$ 676 mil. Dirceu era a figura mais relevante entre os 25 réus condenados. Além dele, o ex-presidente do PT José Genoino pegou seis anos e 11 meses de reclusão e multa de R$ 468 mil, e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares foi condenado a oito anos e 11 meses de cadeia e multa de R$ 325 mil.

MOCINHOS E BANDIDOS
O professor Vinícius Ribeiro Pimentel, 32 anos, aproveitou um período de licença do trabalho e se aprofundou na trama do mensalão durante as tardes. “Tenho um olhar de leigo, mas no meu entendimento o Joaquim Barbosa ficou sozinho no embate”, destaca. Ele não esconde que tem um lado e torcia para que os réus pegassem penas altas. “Eu concordo com o ministro que é mais coerente. Na minha opinião, coerência é aplicar a pena mais alta”, afirma.

Vinícius diz não ser petista e muito menos tucano. “Sou apartidário. Não voto em ninguém. Ninguém merece o meu voto”, afirma o professor, que é formado em letras e mestre em teoria literária. Apesar de não votar em ninguém, ele gosta de se informar e acompanhar o processo. “Sempre falo desse assunto. Seja na mesa de bar, com minha namorada e minha sogra”, conta o professor.

O ponto alto da novela mensalão até o momento, na opinião de Vinícius, foi um arranca-rabo entre Barbosa e Lewandowski para decidir sobre a pena para o crime de peculato de Marcos Valério. “Lewandowski estava defendendo pena menor e Barbosa perguntou se ele estava advogando para Marcos Valério. O revisor, por sua vez, questionou se o relator trabalhava para a promotoria”, lembra, com detalhes, Vinícius.

Saiba mais
TV Justiça


A TV Justiça é uma emissora pública – transmitida pelo sistema a cabo, satélite (DHT), antenas parabólicas e internet – e é a primeira rede a transmitir ao vivo os julgamentos do plenário da Suprema Corte brasileira. No julgamento da Ação Penal 470, o mensalão, as únicas quatro câmeras permitidas para gravar dentro do plenário são as da própria emissora. Porém, o sinal é aberto para qualquer canal de TV ou internet que queria retransmitir as imagens. O canal foi criado há 10 anos, quando o ministro Marco Aurélio Mello era presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).


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