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Estado de Minas

Lobista acusado de forjar Lista de Furnas usava software para escanear assinaturas

Polícia mostra que Nilson Monteiro registrou ofício cobrando dívida por serviço prestado ao deputado Rogério Correia (PT)


postado em 03/02/2012 06:59 / atualizado em 03/02/2012 07:06

Nilton Monteiro está preso desde outubro. Só agora Polícia Civil descobriu como ele falsificava documentos contra políticos(foto: Glauco Deuttmar/ Editora Globo 12/1/05)
Nilton Monteiro está preso desde outubro. Só agora Polícia Civil descobriu como ele falsificava documentos contra políticos (foto: Glauco Deuttmar/ Editora Globo 12/1/05)
A Polícia Civil mineira revelou ontem o mecanismo usado pelo lobista Nilton Monteiro – mentor da Lista de Furnas – para falsificar documentos e cobrar dívidas de R$ 300 milhões: por meio de um programa de computador, ele escaneava assinaturas, logotipos de empresas e selos de cartórios. Também foi apresentada pela polícia cópia de documento em que ele cobra uma dívida do deputado estadual Rogério Correia (PT) por supostos serviços prestados ao parlamentar. Correia é acusado de ter encomendado a listagem com o nome de 156 políticos da oposição ao governo petista que teriam recebido recursos ilegalmente de Furnas na campanha eleitoral de 2002. Monteiro responde hoje a 97 processos por estelionato, falsidade ideológica e de documentos públicos e formação de quadrilha nos tribunais de Justiça de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF).

O delegado-geral da Polícia Civil, Márcio Simões Nabak, que conduziu dois inquéritos envolvendo o lobista, disse ontem nunca ter visto uma falsificação usando a técnica, que é “apurada” e “de alto nível”. O mecanismo foi descoberto pela perícia da Polícia Civil ao analisar um nota promissória assinada supostamente por Carlos Felipe Amodeo, falecido em 2006. Ele foi advogado do então diretor de Furnas, Dimas Fabiano Toledo. O documento apresenta uma dívida de R$ 3 milhões do advogado por uma assessoria prestada por Monteiro – sem especificar qual seria o serviço. Em documento de setembro do ano passado, as peritas Heliane Anghinetti e Flávia da Cunha Moretzsohn Quintão alegam que a assinatura de Amadeo é falsa. Com base nesse resultado, em dezembro a polícia encaminhou à Justiça uma ação contra o lobista.

Ainda estão em investigação outras notas promissórias apresentadas por Nilton Monteiro – preso desde outubro – contra alguns nomes expressivos da política mineira: R$ 650 mil seriam devidos pelo deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB), R$ 190,6 milhões pelo ex-deputado federal Vitorio Mediolli, R$ 1,86 milhão pelo ex-secretário do governo Azeredo Cláudio Mourão, R$ 50 mil pelo ex-ministro do Turismo e ex-vice-governador de Eduardo Azeredo, Walfrido dos Mares Guia, e R$ 14 milhões por Dimas Fabiano. Esses documentos são contestados judicialmente pelos políticos e de acordo com a Polícia Civil são falsos. Um relatório com as conclusões foi encaminhado para a 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, onde tramita uma ação contra Nilton Monteiro, com a sugestão de que seja enviado à Polícia Federal, responsável pela investigação da Lista de Furnas.

A grande dúvida para a Polícia Civil é por que o lobista teria falsificado tantas notas envolvendo empresários e políticos e a mando de quem. As notas somam cerca de R$ 300 milhões. Para tentar encontrar as respostas foi oferecida a “delação premiada” a Monteiro – instituto que permite a acusados ou indiciados que colaborarem com a investigação a redução da pena em até dois terços. No entanto, ele se recusou a colaborar. Na avaliação do delegado Márcio Nabak, o lobista é um “homem simples, que anda em um carro simples” e estaria agindo como “laranja” em nome de alguém – até mesmo um político. A pedido da polícia, o Ministério Público já teria feito pedido judicial para a quebra do sigilo bancário de Nilton Monteiro.

RESTO Ao verificar os computadores de Nilton Monteiro, a polícia encontrou minuta de documento produzido em 4 de janeiro de 2008 em que ele cobrava do deputado Rogério Correia parcela de pagamento por serviços prestados. O documento foi registrado quatro dias depois no cartório do 2º Ofício de Registro de Títulos de Documentos de Belo Horizonte. A cobrança foi recebida na Delegacia do Ministério do Desenvolvimento Agrário por Rogério Correia. No documento, o lobista pede o pagamento do restante devido em razão de acordo celebrado em 2 de junho de 2005.

O deputado Rogério Correia disse não ter ideia de que dívida Monteiro estaria lhe cobrando. Ele desconhece o documento e acusa o delegado de ter tentado cooptar o lobista para armar contra ele. (Colaborou Juliana Cipriani)

Opinião do EM

A encruzilhada de Correia

A resposta enviesada de Rogério Correia ao ser confrontado com a informação de uma suposta dívida com o falsário Nilton Monteiro só sublinha a enrascada em que se meteu o deputado. Se bradar que é falso o documento registrado em cartório e apreendido pela Polícia Civil, o parlamentar corrobora a certeza, verificada ao longo da investigação, de que Monteiro não pode ser considerado nem um pouco confiável. Mas, se insistir em apregoar a veracidade da lista preparada pelo estelionatário, Correia estará afirmando também que a sua dívida com ele é igualmente verdadeira. Cada vez mais enrolado, o parlamentar está diante de uma encruzilhada. E, independentemente do caminho que escolher, o seu mandato estará ameaçado, pois na vida pública a mentira não tem só perna curta – representa também quebra de decoro.


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