São Paulo – Os bastidores da Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, prometem discussões acaloradas. Um grupo de cientistas e pesquisadores vai concluir, até o fim do mês, documento com um alerta sobre problemas na agenda do evento, marcado para o período de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. O anúncio da intenção de apimentar o debate foi feito ontem pelo ex-ministro de Meio Ambiente e da Fazenda e ex-subsecretário da Organização das Nações Unidas (ONU) embaixador Rubens Ricupero, durante seminário organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na capital paulista.
“O documento exprime preocupação com a preparação do evento, que a nosso ver não inclui uma advertência, um alerta sobre problemas ambientais enfrentados no momento, como mudanças climáticas e extinção acelerada de espécies. Há uma tendência de incluir outros temas no debate, o que dilui a agenda e tira o foco do evento”, afirmou Ricupero, criticando a proposta de discussão de três pilares do desenvolvimento sustentável: ambiental, social e econômico. Segundo o diplomata, “a preocupação deve ser ambiental, que é a condição de existência dos demais pilares”.
O texto, que reunirá assinaturas de pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e de instituições de ensino do Rio de Janeiro, será apresentado no fim deste mês, em Nova York, numa das reuniões preparatórias para a Rio+20 e, em seguida, num fórum de ex-ministros de Meio Ambiente brasileiros. “Ainda que o assunto não entre na conferência como negociação, ele precisa ser dito. A Rio+20 trará uma visão mais oficial de governos e da ONU sobre os temas. Os documentos são sempre mínimos denominadores comuns. Por isso, a comunidade científica e ambiental vai circular o documento na opinião pública com outra visão, enfrentando o problema ambiental de frente”, acrescentou.
A abrangência do tema central da Rio+20 – “Economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” – também foi criticada por cientistas. Para o professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), há nos bastidores da conferência “a sensação de que a Rio+20 é a montanha que vai parir um rato”. Autor da palestra O valor dos serviços ecossistêmicos, ele apontou falhas na elaboração do documento que vai nortear o evento, como a importância dada ao Produto Interno Bruto (PIB) no debate. “O documento reconhece o PIB como ‘métrica do bem-estar’, ignorando a importância de conclusões de relatórios e conferências anteriores, segundo as quais as medidas de qualidade de vida devem ser mais complexas”, declarou.
PRÉVIAS
O seminário organizado pela Fapesp apresenta uma prévia das discussões que devem nortear a Rio+20. Nas palestras em São Paulo, pesquisadores, embaixadores e representantes de organizações internacionais debatem, nesta semana, temas como clima, biodiversidade e energia e apresentam trabalhos desenvolvidos nas universidades brasileiras relacionados aos tópicos da Rio+20. Ao fim do encontro, será redigido um documento com o parecer geral dos cientistas sobre a conferência.
A Rio+20 marca os 20 anos da Rio 92, ou Eco 92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992, e o 10º aniversário da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (WSSD), realizada em Johanesburgo (África do Sul), em 2002. A reunião de cúpula da conferência, que deve reunir cerca de 100 chefes de Estado, está marcada para o período de 20 a 22 de junho. Mas, a partir do dia 13 do mesmo mês, a Rio+20 terá reuniões dos comitês preparatórios e centenas de eventos da sociedade civil como parte da programação oficial na capital fluminense. A expectativa é de que o encontro resulte em um documento político focado nos novos desafios que se impõem a todos os países não só na área ambiental, mas também em um modelo de desenvolvimento econômico mais eficiente e sustentável, na diminuição das desigualdades sociais, na busca por justiça social e na equidade do direito à água, aos alimentos e à qualidade de vida.
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Agenda da Rio 20 preocupa cientistas
Pesquisadores definem os temas que serão tratados na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável
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