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Estado de Minas

Inquietações, angústias e alegrias de mulheres que chegaram aos 40

Com filhos ou não, a mulher de 40 sabe o que quer e como atingir seus objetivos. Modernas ou tradicionais, elas não temem os sinais da idade e querem envelhecer com qualidade de vida


postado em 08/01/2012 10:22

A advogada Cristianna Moreira Martins de Almeida, de 39 anos, fez o primeiro checape e diz que quer viver saudavelmente, mas sem neuroses(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. )
A advogada Cristianna Moreira Martins de Almeida, de 39 anos, fez o primeiro checape e diz que quer viver saudavelmente, mas sem neuroses (foto: Euler Junior/EM/D.A Press. )

Nada perturba mais uma mulher de 40 anos do que ainda não ser mãe. Nem os primeiros fios de cabelos brancos, nem o surgimento de uma ou outra ruga no canto dos olhos, nem o mercado de trabalho ou a dupla jornada tiram o brilho dela, que foi inclusive homenageada na música de Roberto Carlos e por poetas como Affonso Romano de Sant’Anna: “O rosto da mulher madura entrou na moldura dos meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes, ela passa por mim na rua entre camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria.

A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimée. Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites do seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda. A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno dos seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiescência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo...”

É justamente com o poema de Affonso Romano de Sant’Anna que a psicóloga clínica Regina Beatriz Silva Simões, de 52 anos, começa o livro A mulher de 40, sua sexualidade e seus afetos, da Editora Gutenberg. “É uma mulher que está num momento crucial da vida, numa espécie de divisor de águas,” define. “São mulheres que começam a se inquietar se até essa idade não tiveram oportunidades profissionais. São mulheres que já enfrentam o medo da solidão ou a insatisfação no casamento. E principalmente se preocupam com a questão da maternidade, porque o relógio biológico já está gritando.” Mas a própria autora diz que “a maternidade tardia é uma conquista das mulheres contemporâneas, que “se antes estavam fadadas a não serem mães, hoje pelo menos podem se arriscar com as várias técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro, inseminação artificial, entre outras”.

Com prefácio do sexólogo Gerson Lopes, do qual Regina foi aluna, o livro trata de questões íntimas, como tensão pré-menstrual (TPM), desejo e sexualidade, maternidade tardia, homo e bissexualismo, climatério e menopausa, até chegar ao envelhecimento.

Três mulheres contam ao caderno Bem Viver quais as angústias, frustrações e alegrias de chegar aos 40: a vendedora Ana Maria Gomes Costa, de 39 anos, que está tentando de tudo para engravidar e realizar o maior sonho de sua vida – ser mãe; Cristianna Moreira Martins de Almeida (foto), que completa 40 em setembro; e Caroline Pereira Marques, que está com três meses e meio de gestação aos 41 anos.

Maturidade conquistada


Para quem chega aos 40 com um casamento feliz há 16 anos, três filhos e uma bem-sucedida carreira como advogada na área trabalhista, a preocupação constante é com saúde e qualidade de vida. É por isso que Cristianna Moreira Martins de Almeida faz pilates e natação e não abre mão dos cremes para o rosto, mãos e corpo. Ela não faz dieta porque não precisa, come o que tem vontade e já realizou o primeiro checape, %u201Cporque com a idade a gente tem que se cuidar se quiser envelhecer bem, mas tudo sem neurose%u201D, garante.

Moradora de um condomínio fechado na Região da Pampulha, Cristianna confessa que o sentimento que mais a incomoda é a culpa por não poder se dedicar integralmente aos filhos ou à profissão. "A gente fica dividida por não ser só esposa, mãe e dona de casa ou profissional com dedicação exclusiva. Sinto-me culpada por não ter tempo."

Ela trabalha desde que se formou, quando ainda era estagiária, mas só agora pode administrar seus horários. "Como o escritório fica na Região da Savassi e levo um tempo grande de deslocamento, resolvi administrar melhor meu tempo e ficar de manhã em casa com os filhos e só à tarde vou para o trabalho.%u201D Hoje, ela também pode se dar ao luxo de viajar com o marido, dar umas escapulidas, porque " tenho uma ajudante que é meu braço direito há 10 anos. Os avós maternos e paternos também estão sempre por perto dando uma força. Com as crianças mais crescidas %u2013 elas têm 16, 11 e 8 anos " me sinto mais livre para viajar com meu marido".

Cristianna acredita não se encaixar no perfil da mulher contemporânea, que se dedica ao trabalho antes de pensar em casamento e filhos. "Comecei a namorar meu marido com 18 anos, casei com 23 e tive minha filha mais velha aos 27. Estou na contramão do que ocorre com a maioria das minhas amigas, que só pensam em casar e ter filhos depois de se firmarem profissionalmente.%u201D Perto de completar 40 anos, em setembro, ela se sente privilegiada. %u201CNão me arrependo de nada e não trocaria minha vida de hoje pela que tinha aos 20 anos."

Hora de questionar

Quando estava com 45 anos e terminando o curso de sexologia clínica na Fumec, a psicóloga Regina Beatriz Silva Simões teve a ideia de escrever sua monografia sobre a mulher de 40. “Achava o discurso dessa mulher semelhante ao de uma adolescente. As queixas eram parecidas: insatisfação com o corpo, a questão hormonal interferindo na estabilidade afetiva, mudanças de humor, o que fazer da vida, entre outros questionamentos. Então, comecei a entrevistar mulheres nessa faixa etária e a colher depoimentos para mostrar como é que elas ocupam seu espaço na contemporaneidade.”

A monografia virou livro, lançado em 2006, até que em 2011 a Editora Gutenberg fez o convite a Regina para uma segunda edição, com prefácio do sexólogo Gerson Lopes. Com 27 anos de clínica e formação em psicanálise e sexologia, Regina hoje tem 52, é casada e tem duas filhas – Gabriela, de 27, e Marina, de 23. Vivendo em São João del-Rei, mas com visitas frequentes a Belo Horizonte, onde as filhas moram, Regina diz: “Deparar-se com os 40 anos é como adolescer. Assim como quem atravessa a puberdade descobre novidades e mudanças, quem completa 40 anos de vida se defronta com o medo, a insegurança, as mudanças corporais às vezes sutis, mas sempre nítidas, e com a instabilidade de humor. Isso sem dizer que esses momentos são férteis para uma nova postura em relação ao mundo e a si própria.”

Mas o que significa chegar a essa idade? De acordo com Regina, significa ficar mais sensível, ter o peito aberto, saber olhar para trás, estar mais experiente, perdoar mais, fazer um balanço da existência. “Significa também a possibilidade de ir e vir, de ter menos culpa. Ousar e experimentar. Entender o significado do tempo e ter o poder de decidir.” É como o depoimento de uma pedagoga, de 47 anos, que fala assim no livro: “Acho que, aos 40, nós, mulheres, deveríamos nos fechar para balanço; avaliar como foi a primeira metade de nossa vida e tomarmos um fôlego para trilhar melhor a outra metade. Repensar conceitos herdados, valores em desuso e subtrair ao máximo o que nos faz sofrer inutilmente. Hoje, aos 47, me sinto bastante feliz porque estou colhendo os frutos que plantei. Neste momento, o futuro ainda não me assusta, a síndrome do ninho vazio me traz a sensação de missão cumprida e a vontade de cuidar mais de mim. Estou madura, serena, aprendi a conviver com os meus fantasmas. Agora, na segunda metade da minha existência e com orgulho de ter vencido tantas dificuldades, espero continuar a ter forças para enfrentar as adversidades que virão. Afinal, se construí minha vida sobre a rocha, por que temer os ventos?”.

Desejos
É assim que Regina vai desvendando o universo da mulher de 40, perguntando o que ela deseja nos dias de hoje. Como ela vive seus afetos e sua sexualidade? O que a torna diferente da mulher de gerações passadas? A própria autora vai respondendo capítulo por capítulo e ouvindo confissões como esta: “Acordei com 40 anos. Resisti um pouco em sair da cama. Tive medo de me deparar com os espelhos naquele dia. Aprendi, pela vida afora, que depois dos 40 a gente estava velha. E eu não queria envelhecer. O que aprendi não estava combinando com o que eu sentia e sinto de verdade. Gosto de ser observada na rua. Gosto de me sentir bonita. Gosto das alegrias que as mulheres mais novas usufruem. Tenho consciência das coisas que a idade me faz sentir. Já prefiro a calma às noitadas intempestivas. Fazer amor com muita vontade é o mais importante para mim. Gosto de envelhecer ao lado do meu parceiro. Ele também já tem o corpo diferente do que era antes. Luto muito para não engordar. Isso é a tragédia dos 40. Mas nem por isso diminuiu o meu prazer. Não é qualquer relação que me satisfaz. Gosto de ser seduzi da, de me perfumar, ser acariciada, preparar o momento do amor”, conta M.P.A., atriz amadora, de 41 anos.

Medo de não viver

O sexólogo Gerson Lopes, que escreve o prefácio do livro de Regina, diz: “Até há pouco tempo, não se falava sobre a mulher de 40 anos, principalmente no que diz respeito à sua sexualidade e seus afetos. Muitas vezes, a reflexão e a discussão sobre essa mulher não avançavam, ficando restritas à questão da reprodução e aos problemas decorrentes da gravidez nessa etapa da vida, fruto do avanço da medicina e algo inconcebível em outras épocas. A maternidade tardia, porém, é apenas uma das conquistas da mulher contemporânea”.

Gerson alerta que a passagem pelos 40 anos não significa necessariamente uma etapa de sofrimentos. Muitos costumam relacionar essa idade a um período de crise, o que pode ocorrer. “Mas é preciso entender que crise é um momento para se organizar e planejar um amanhã melhor. É hora de se movimentar, provocar mudanças. Sair de onde está. Essa etapa pode ser vivida de muitas maneiras. Rever valores, usufruir possíveis conquistas, dar uma reviravolta e também dar atenção às coisas deixadas de lado podem ser uma opção de vida. A mulher de 40 anos não tem medo de morrer. Tem medo de não viver.”

Ele sabe que algumas mulheres tendem a se sentir velhas ou têm medo da velhice e outras se sentem em plena maturidade. “As mulheres de 40 não abrem mão de algumas conquistas, entre elas a maternidade tardia, pois antes de dar a vida elas querem ter vida, apesar de saberem que dobra o risco de gerar um feto com má-formação genética. Mas ninguém nunca discutiu a paternidade tardia, portanto, as mulheres têm esse direito, pois se encontram num momento de maior comprometimento com a maternidade. Elas também não abrem mão de um relação de equidade de gênero, querem condições de igualdade nas diferenças construídas entre homens e mulheres. Não aceitam mais o sexismo. Não querem guerra, mas uma relação de dois por dois, em que ambos têm direitos e deveres iguais.”

Do parceiro, elas querem o respeito à individualidade e que ele seja colaborador. E muitas já estão experimentando namorar e casar com homens mais novos do mesmo jeito que eles sempre fizeram. “A mulher de 40 tem medo de perder o corpo jovem, que a sociedade tanto valoriza, mas vai depender de cada uma viver essa etapa dos 40 aos 60. É uma fase de preparação para o envelhecimento, que tem início cronologicamente a partir dos 60. Ela tem que se preparar bem, porque vai ter, no mínimo, mais 40 anos de vida.” E ele lembra a todos que “a idade não dessexualiza ninguém, a sociedade sim”.


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