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Estado de Minas

O importante apoio da família quando os filhos assumem a homossexualidade

Aumento dos debates e maior acesso à informação estão entre os motivos que permitem aos pais aceitar melhor a homossexualidade dos filhos. Os que abraçam a causa ajudam a abordar o assunto entre parentes e amigos e comemoram a conquista de novos direitos


postado em 15/05/2011 09:35

Há 12 anos, por meio de uma carta, Jacinta soube que o filho Paulo era gay: diálogo em casa ajudou a família a ver a situação com naturalidade (foto: Antonio Cunha/Esp.CB/D.A Press)
Há 12 anos, por meio de uma carta, Jacinta soube que o filho Paulo era gay: diálogo em casa ajudou a família a ver a situação com naturalidade (foto: Antonio Cunha/Esp.CB/D.A Press)
“Meu filho nasceu gay. A gente percebeu pelas afinidades com o universo feminino. Não foi nenhuma surpresa quando ele contou”, reconhece a advogada Luiza Ribeiro, mãe de Fernando, 18 anos. Impensável em outros tempos, o comentário reflete uma realidade cada vez mais comum nos lares brasilienses.

“A dificuldade das famílias em aceitar a orientação sexual dos filhos diminui a cada dia”, destaca Evaldo Amorim, presidente do Grupo LGBT Elos, do Distrito Federal. O acesso facilitado à informação e o aumento dos debates em torno do assunto são alguns dos motivos que influenciaram a mudança na postura, segundo instituições defensoras dos direitos dos homossexuais.

Tanto Luiza — que não quis informar a idade — quanto o marido e o outro filho souberam lidar naturalmente com a homossexualidade de Fernando. Na família, o único medo é do preconceito. “A gente sente os olhares, ouve as piadinhas e percebe que algumas pessoas sentem pena de todos nós por ele ser homossexual. Como se isso fosse algo passível de pena”, lamenta.

Durante o desenvolvimento, Fernando mudou de escola diversas vezes. “Quando a coordenadora me chamava na escola, eu ia direto na secretaria e o mudava de colégio. Quem é mãe não aguenta o desrespeito. Falar mal do meu filho é muito pior que falar mal de mim”, completa. Com vontade de preservá-lo e evitar que o menino sofra discriminação, a mãe do adolescente torce para que ele arrume um namorado. “Hoje, ele vai a boates e barzinhos e paquera, igual a qualquer pessoa solteira. Eu torço para que ele encontre alguém e fique mais quietinho em casa, sem correr riscos”, desabafa.

Descoberta


Além de dar apoio para enfrentar o preconceito, os pais e os avós que defendem a causa gay aceitam os namorados dentro de casa e impõem aos filhos os mesmos limites determinados aos héteros. Para o presidente do Grupo Elos, a missão dos pais de aceitar a preferência dos filhos não é fácil. Lidar com os comentários da vizinhança ou dos colegas de trabalho pode ser uma missão árdua e, por esse motivo, é preciso trabalhar o lado emocional. “A família sabe de tudo, ainda que demore para admitir. Alguns casais buscam acompanhamento profissional e se preparam para lidar com isso, o que é bom para toda a família”, diz Evaldo.

Enquanto a maior reclamação dos jovens é a falta de diálogo com os pais sobre desejos, sentimentos e sexo, a mãe, psicóloga e sexóloga Jacinta Fonte dá uma lição. Ela tem cinco filhos em casa: três mulheres e dois homens. Um deles é gay. “Toda a vida fui amiga deles. Eu e meu marido nos juntamos para ensinar como lidar com situações de violência física, psicológica e sexual. Criamos uma ligação de cumplicidade e respeito”, conta.

Desde pequeno, Paulo, hoje com 27 anos, mostrava indícios de qual seria sua orientação. “Ele tinha um jeito diferente, não sei, é inexplicável. Não há relação com brincar de boneca ou dançar, como as pessoas pensam. Na escola, ele tinha muitas amigas e era desprezado pelos meninos. Me lembro de rezar para ele ter um coleguinha”, lembra Jacinta. Enquanto a família desconfiava, Paulo tinha se descoberto. Aos 15 anos, ele entregou uma carta para a mãe contando como se sentia. Dois anos depois, o namorado dele passou a frequentar o apartamento da família como “um novo irmão dos meninos”, conta a psicóloga e sexóloga.

Amor sem reservas

A psicóloga Ângela Moyses Nogueira Rodrigues, hoje com 48 anos, começou a sentir que a filha, de 23, andava deprimida e com os olhos sempre vermelhos de tanto chorar. Na época, Thaís Rodrigues, tinha 16. Uma noite, a garota chegou do cursinho pré-vestibular e a mãe resolveu encostá-la contra a parede: "O que está acontecendo?". Ângela achava que a adolescente poderia estar usando drogas.

Mas a resposta foi inesperada. Thaís contou que era lésbica desde os 12 anos e que se incomodava com a vida dupla. Por isso, sofria tanto. Ciente do preconceito e imbuída do instinto de proteção, Ângela logo respondeu: "Filha, seu caminho vai ser sofrido". "Você acha que se fosse escolha, eu ia querer o caminho mais difícil", questionou a garota.

Um mês depois, enquanto Thaís viajava, Ângela contou ao marido, Carlos Nogueira, à irmã da garota e, finalmente, seis meses depois, à avó Therezinha Federigui Moyses, 77 anos. "Temíamos que ela tivesse um piripaque", brinca Thaís. "Me chamaram para uma conversa em uma lanchonete. Eu, ingenuamente, pensei que ela estivesse grávida", conta aos risos a avó.

O que Thaís não esperava era que a atitude de assumir aos parentes sua preferência sexual fosse além da aceitação no ambiente doméstico. Toda a família resolveu contar para amigos e familiares, no intuito de evitar preconceito e fofocas. A matriarca, Therezinha, chegou a ouvir: "Vocês não se envergonham? Algo dessa natureza tem que ficar no seio da família".

Mas, embora tenham recebido críticas, os parentes de Thaís ouviram mais reações positivas do que negativas. Mais familiares se abriram e assumiram os filhos homossexuais. "O armário foi abrindo na família inteira", disse Ângela. Hoje, ela faz parte da Associação Brasileira de Pais e Mães de Homossexuais (Grupo de Pais de Homossexuais) e ajuda pais a entenderem os filhos.

Agora, a família pensa no futuro. A mãe e a avó desejam que decisões como a do Supremo Tribunal Federal deem cada vez mais garantias para os homossexuais viverem como cidadãos comuns. "Assistimos ao julgamento como uma Copa do Mundo: seis a zero, sete a zero. Esperamos que os gays tenham mais liberdade e não ajam como se estivessem fazendo algo errado", acredita a mãe.

Cronologia

5 de maio
» Os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecem por unanimidade a união estável entre homossexuais como entidade familiar. Isso significa que casais homoafetivos terão os mesmos direitos e deveres de casais heterossexuais, como plano de saúde para o (a) companheiro (a), pensão alimentícia em caso de separação, adoção de filhos, acesso à pensão do companheiro após a morte dele (a) e possibilidade de declarar o (a) parceiro (a) no Imposto de Renda.

11 de maio
» A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida na 49ª assembleia geral, se pronuncia em nota oficial e
diz não reconhecer a união homoafetiva. O documento ainda acusa o STF de ter ultrapassado os limites de sua competência. A carta realça ainda que é contra qualquer espécie de discriminação e violência aos casais homossexuais.
» O Exército Brasileiro divulga que vai cumprir o que determinar a legislação em relação ao pagamento de pensão para dependentes do mesmo sexo. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, evitou polêmicas, mas reconheceu que a decisão do Supremo era soberana.
» O Correio publica uma foto com um casal gay se beijando. Mais de 130 comentários contra e de apoio são postados no site do jornal e a polêmica invade a internet.

12 de maio

» O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a senadora Marinor Brito (Psol-PA) bateram boca no Congresso durante a reunião da Comissão de Direitos Humanos do Senado. Na sessão, discutia-se o Projeto de Lei 122/06, que torna crimes as manifestações homofóbicas. Depois da reunião, a proposta foi retirada de pauta, sem data prevista para retornar.
» A Diocese Anglicana de Brasília divulga nota reconhecendo a decisão do STF.

13 de maio
» O Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev-DF) se posiciona
contra a decisão do STF.

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