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Estado de Minas

Queda do volume do Lago de Furnas assusta empresários e turistas

Baixa acelerada da represa vem liberando mais do dobro da água que recebe. Responsável pelo reservatório diz que a prioridade é gerar energia


postado em 26/07/2017 06:00 / atualizado em 26/07/2017 07:51

Represa tem hoje pouco mais que um terço do volume útil, o que tornou rampas de acesso inúteis e ameaça tráfego de embarcações (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Represa tem hoje pouco mais que um terço do volume útil, o que tornou rampas de acesso inúteis e ameaça tráfego de embarcações (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)

Capitólio – O ritmo de esvaziamento do lago da Represa de Furnas, no Sul de Minas, está tão acelerado que tem preocupado o setor turístico. De acordo com a associação das empresas de turismo do reservatório, duas das quatro principais atrações estão prestes a ficar inacessíveis por meio aquático: a Cascatinha e o Cânion dos Tucanos. Mas bares flutuantes e atracadouros para barcos e lanchas também foram afetados e ou estão distantes de seus pontos originais ou encalhados. Trabalhadores e turistas reclamam que a hidrelétrica de Furnas tem liberado mais água que o de costume para a época de estiagem (maio a outubro), quando praticamente não há mais chuvas para recargas.

Como consequência, o volume médio útil do lago cai a cada mês (veja quadro). Pior: a quantidade de água que sai do reservatório é mais que o dobro da que chega: 571 metros cúbicos por segundo contra 236m3/s, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) relativos a segunda-feira. O volume útil da mesma da data, o último dado divulgado pelo ONS e pela Agência Nacional de Águas até as 18h de ontem, era de pouco mais de um terço da capacidade: 38,72%, o que explica a indignação de quem sobrevive do turismo ou pesca nas águas da represa. Já a empresa que administra a hidrelétrica informou que a prioridade do lago é a geração de energia, e que opera de acordo com as determinações do ONS.

Uma das atrações mais procuradas em Furnas é a Cascatinha, uma cachoeira que é encontrada depois de se vencer as intrincadas passagens pedregosas dos cânions, e que desce por mais de 25 metros entre paredões irregulares. O caminho para chegar até a queda d’água é muito estreito e pedras que ficam no fundo podem danificar as embarcações, pois já estão visíveis, a cerca de meio metro de profundidade. “Neste ritmo que a represa vem baixando, a um palmo por dia, na semana que vem não conseguiremos mais chegar na Cascatinha, que é a segunda maior atração do nosso programa turístico”, disse o vice-secretário da associação dos trabalhadores do setor de turismo, Ricardo Nascimento Morais.

Quando as lanchas de passeios desta que é uma das lagoas com a maior frota da América Latina se aproximam da cachoeira que desemboca na represa, precisam passar por uma área que tem muitas rochas fechando um circuito que na seca é perigoso e até impede a aproximação, dependendo da profundidade atingida. “Se nada mudar, da semana que vem em diante já não poderei vir mais, porque uma hélice danificada me custa R$ 2 mil e outras peças podem chegar a R$ 12 mil se toparem com uma rocha no raso”, disse Ricardo, também dono da empresa turística Minas Passeios Náuticos, uma das mais requisitadas do lago.

(foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
(foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
A outra atração prejudicada é o Cânion dos Tucanos, um dos menores, mas mais bonitos entre as formações rochosas conjugadas em labirinto com as águas represadas do Rio Grande. Lá, o nível já est´pa tão baixo que troncos submersos da vegetação encoberta quando a represa foi formada despontam nesta época, deixando o trajeto dos barcos ainda mais perigoso e cheio de obstáculos, ao mesmo tempo que evidenciam a seca abrupta do reservatório. “Há uma semana essas árvores ainda não tinham aparecido ainda, agora, não sei se poderei trazer pessoas aqui na próxima semana, pois a insegurança aqui é enorme”, disse Ricardo.

Várias rampas de lançamento de embarcações já estão expostas além da área construída, o que cria a necessidade de ancoradouros flutuantes, que podem avançar pelo leito seco adiante. Até os bares com dispositivos para boiar, projetados para sofrer menos com o isolamento durante a estiagem, têm sido prejudicados, de acordo com os proprietários, devido a baixa de nível ser rápida demais, o que acaba deixando as estruturas encalhadas.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
Para uma família de turistas de Rio Claro (SP), os sinais preocupam, pois as belezas que testemunharam em lanchas pelos cânions impressionaram. “Achei tudo aqui lindo demais e seria uma pena as pessoas de um momento para outro não poderem desfrutar de tudo isto. É um dos lugares mais lindos que já vi aqui no Brasil”, disse a artesã Luciana Amado, de 44 anos. O marido dela, o autônomo Paulo Amado, de 44, disse que ficou impressionado, mas também preocupado. “Achei tudo aqui muito lindo e estava programando a vinda do ano que vem com as crianças, mas realmente a gente percebe que já está dando para ver o fundo do lago. Isso pode preocupar para uma próxima vinda”, disse.

Procurada para se manifestar sobre a preocupação do setor turístico, a empesa Furnas informou que suas “usinas hidrelétricas são componentes do Sistema Interligado Nacional e sua operação é planejada e programada pelo ONS”. “Os níveis dos reservatórios e a energia despachada são programados pelo ONS, responsável por operar o conjunto de reservatórios brasileiros de forma integrada, com o objetivo de garantir a segurança energética”, acrescentou.

Ao informar que sua represa tem como objetivo prioritário a geração de energia elétrica, Furnas acrescentou que “a ocupação para fins comerciais e turísticos do entorno do reservatório ocorreu de forma espontânea por empreendedores locais que buscaram aproveitar o potencial de negócios que se apresentou no lago”. Segundo a empresa “Furnas é um reservatório de regularização e opera enchendo no período chuvoso (novembro a abril) e sendo esvaziado na estiagem (maio a outubro)”, o que permite a produção de energia o ano todo e o fornecimento de água rio abaixo. Procurado pelo Estado de Minas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico não retornou aos contatos. (Com Paulo Henrique Lobato)


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