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Estado de Minas

Baleia Azul espalha desespero entre famílias de Minas; PF alerta sobre prevenção

Série de tarefas que induz jovens a se automutilar e que pode culminar em suicídio tem mais casos apurados. Conter pânico também é desafio


postado em 20/04/2017 06:00 / atualizado em 20/04/2017 09:00

Mãe de jovem que se cortou denunciou caso à polícia(foto: WhatsApp/Reprodução)
Mãe de jovem que se cortou denunciou caso à polícia (foto: WhatsApp/Reprodução)
Mais relatos de vítimas, apelos desesperados de mães e pais e boatos capazes de deixar cidades inteiras alarmadas são os novos lances em Minas Gerais do “Baleia Azul”, jogo macabro que vem induzindo crianças e adolescentes à automutilação e ao suicídio. Na Zona da Mata, mães de dois jovens moradores de Manhuaçu e Leopoldina procuraram autoridades para denunciar o envolvimento dos filhos com o game e cobrar providências. Em Ipanema, no Vale do Rio Doce, reação a um boato disseminado pelo WhatsApp congestionou o telefone da Polícia Militar. A Polícia Civil mineira investiga a ligação de casos com o game, inclusive com morte. Em meio ao clima de apreensão, especialistas e autoridades alertam para cuidados e formas de se prevenir. Em Belo Horizonte, o sindicato das escolas particulares pede cautela sobre o assunto para não criar pânico, mas já há unidades alertando oficialmente as famílias.

Depois do registro de duas mortes em Minas Gerais – uma em Belo Horizonte e outra em Pará de Minas –, em que foi levantada a possibilidade de relação com o jogo, o perigo avança pelo interior do estado. A dona de casa E.R., de 38 anos, procurou a polícia em Leopoldina, na Zona da Mata, depois que foi alertada pela sogra de que o filho mais velho, de 18 anos, estava envolvido com o jogo e chegou a desenhar uma baleia no braço, com lâmina, ajudado por uma colega de sala. Ela denuncia que há indícios do envolvimento de outros adolescentes com o game e está aflita por uma providência das autoridades. Em Ipanema, o desespero foi motivado por um boato que se espalhou como rastilho de pólvora pela internet e assustou até mesmo mães em Belo Horizonte. A mensagem dizia que uma pessoa estaria pronta para desempenhar uma das tarefas do jogo, que seria distribuir balas envenenadas para crianças em escolas da cidade, o que gerou uma enxurrada de ligações ao telefone da Polícia Militar.

“Eu sei que não é uma coisa fácil de se resolver por causa da internet, mas a polícia precisa encontrar uma maneira de acabar com isso, estamos desesperados”, afirma E.R., mãe de quatro filhos. O mais velho cursa o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Botelho Reis, em Leopoldina, e em 11 de abril seu comportamento levantou suspeita. “Ele saiu para a escola às 17h20 e só voltou depois de 1h da manhã. Também mudou a foto do perfil no Facebook e no WhatsApp para o desenho de uma baleia-azul no mesmo dia”, afirma. No dia seguinte, foi alertada pela sogra de que o filho estaria com um corte no braço com o desenho de uma baleia, o que a motivou a procurar imediatamente a polícia.

Segundo a Polícia Civil, o delegado André Lima vai ouvir o jovem e a colega de sala dele, que o teria ajudado a fazer o desenho e o induzido a participar da brincadeira. A mãe relata, inclusive, que ele recebeu uma mensagem de uma terceira pessoa pedindo para ele mostrar o desenho no braço com uma foto e também perguntando em qual estágio ele se encontrava. O jovem está afastado temporariamente da escola. Segundo a mãe, ele desconversa quando é questionado sobre o assunto e iniciou um acompanhamento com um psiquiatra.  Diretor da escola, Fenando Miranda Vargas esteve ontem em cada turma para orientar e tranquilizar estudantes e professores. “O aluno é um menino normal, sem problemas psíquicos. Acho que fez isso por curiosidade”, avalia. Ele também fará reunião com pais. “A escola faz a sua parte, mas a família tem que ficar em cima”, alerta.

SUSPEITA
Em Manhuaçu, também na Zona da Mata, uma adolescente de 13 anos deixou ontem o hospital depois de ser encontrada desmaiada dentro de casa, na madrugada de segunda. Ela ingeriu cartelas de um medicamento para tratamento de epilepsia e outra para dores musculares. A tia da garota afirmou que ela participava de um grupo do game. A mãe da menina ouviu um barulho e, ao entrar no quarto da filha, a viu desacordada. “Minha irmã me ligou e, como moro perto, fui até a casa dela. Encontrei minha sobrinha no chão e a primeira coisa que fiz foi ver se ela estava respirando. Em seguida, liguei para o Corpo de Bombeiros”, comentou a tia da adolescente, que preferiu não se identificar.

Segundo a familiar da garota, o braço dela estava com arranhados. “Encontrei uma lâmina próximo à cama dela, mas não era desenho de baleia”, comentou. A adolescente foi levada para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade. Ela ficou desacordada até terça-feira. A menina será atendida por psicólogos.

A suspeita de que a garota participava do jogo Baleia Azul veio por causa do comportamento nos últimos dias. “Ela vinha andando meio estranha, falando que estava vendo filmes de terror, ouvindo músicas estranhas, usando somente blusas de mangas cumpridas, vendo séries. Isso desde o início de janeiro. Conversei com uma amiga dela depois do ocorrido, e ela me informou que minha sobrinha participava de um grupo do jogo, mas que não estava jogando”, explicou. O celular da garota foi apreendido e será analisado pela Polícia Civil. Os agentes já estão colhendo o depoimento de familiares da vítima e a amiga dela também deve ser ouvida nos próximos dias.

A Polícia Civil já investiga dois casos de morte que levantaram suspeita de familiares sobre o jogo. Em Pará de Minas, um carpinteiro de 19 anos admitiu para a mãe que queria sair do jogo, mas estava sendo pressionado a ficar. Ele foi encontrado morto em casa depois de ingerir uma grande quantidade de remédios. Já em Belo Horizonte, a Polícia Civil diz que inicialmente não há relação com o jogo no caso de um jovem de 16 anos encontrado enforcado e com as mãos amarradas do Bairro Ribeiro de Abreu. Apesar de parentes falarem sobre o desenho de uma baleia no corpo do garoto, a perícia não teria encontrado nenhum corte que fosse semelhante ao símbolo do jogo.

BOATO
Em Ipanema, no Vale do Rio Doce, uma mensagem que começou a circular pelo WhatsApp dizia que um participante do Baleia Azul estava pronto para envenenar crianças de três escolas do município, que tem pouco mais de 18 mil habitantes. No texto, que se espalhou por várias cidades, um homem diz que está na décima tarefa das 50 relacionadas ao jogo, e que essa seria distribuir balas envenenadas para 30 crianças de três escolas da cidade. “Peço desculpas às mães, mas tenho que cumprir ou eles vêm atrás de mim. Sinto muito pelos filhos de vocês. Desafio aceito”, diz a mensagem, que começou a circular no início das aulas do período vespertino na cidade.

“No horário em que saiu essa mensagem o 190 aqui disparou”, explica o comandante do pelotão da Polícia Militar de Ipanema, tenente Bruno de Miranda Fernandes. “Todo mundo preocupado, mas pelo que a gente levantou é spam mesmo. Essa mensagem está se espalhando por outras cidades, só muda o nome da cidade e escolas”, explica. O militar disse ter recebido uma versão do texto sobre Caratinga. Policiais militares foram até as escolas para orientar diretores, professores e alunos.

As regras do "jogo"


>> COMO NASCEU O BALEIA AZUL?
Segundo levantamento da Polícia Federal, o nome do game teria relação com o comportamento suicida de baleias, que em certas circunstâncias forçam o encalhe coletivo em praias. O jogo que se disseminou pelo mundo surgiu na Rússia, em 2015, quando uma jovem de 15 anos se atirou de um edifício. Dias depois, uma adolescente de 14, Rina Palenkova, se jogou nos trilhos de trem da cidade de Ussuriysk. Após investigar, a polícia russa ligou os fatos a um grupo que participava de um desafio com 50 missões, sendo a última delas acabar com a própria vida. A partir daí, foram relatados cerca de 130 suicídios na Rússia até abril de 2016, quase todos atribuídos a integrantes do mesmo grupo na internet

>> CAUSAS DO SUICÍDIO
Autoridades listam como causas principais casos de amor não correspondido, problemas familiares, dificuldades na escola, luto na família, saúde mental, falta de oportunidades, desemprego e abuso de drogas

>> COMO OS CIBERCRIMINOSOS COAGEM OS ADOLESCENTES?
Os alvos: Games com apelos de riscos potencialmente letais – como o “desafio da asfixia” – têm se disseminado entre adolescentes e pré-adolescentes, que passam por uma fase em que ainda não percebem claramente as consequências de seus atos. Administradores desse tipo de “game”  se valem da inocência dessas pessoas ou da paranoia e da neurose daquelas mais vulneráveis, fazendo-as acreditar que estão à mercê de suas ordens.

Os canais: Crianças e adolescentes são coagidos a participar via redes sociais, chantageados com uso de material colhido pelos criminosos em banco de dados diversos, nos quais acessam informações pessoais, como nome completo, escola em que estuda, média de notas, cidade, endereço IP (“identidade” do computador na internet) e nome de amigos próximos. Amedrontada e pressionada, a vítima passa a interagir com os “mentores”. As ameaças se seguem com frases tais como: “Desenhe uma baleia com estilete no braço, depois tire uma foto quando estiver sangrando e me envie. Você, seus amigos e sua família correm perigo, espero que você os salve. Dez minutos para a conclusão, fico no aguardo”.

As brechas: Outro caminho de chegar até as vítimas são informações pessoais deixadas on-line por elas próprias, como problemas ou morte na família, notas baixas na escola ou tristeza por ter acabado um namoro. Aproveitando-se da fragilidade sentimental, os “mentores” incentivam as vítimas a participar do jogo. Para achar seus alvos, entram em grupos até de autoajuda, de superação da depressão, discussão sobre transtorno de ansiedade e aconselhamento pró-vida no Facebook.

>> ONDE SE JOGA?

Por meio de links em grupos contidos em redes sociais, inclusive uma russa, atualmente com mais de 33 milhões de usuários ou até mesmo em grupos de mensagens por celular criados com essa finalidade.

>> COMO FUNCIONA?
Jovens são previamente selecionados para participar de 50 desafios macabros, nos quais alguém por trás da tela, o chamado curador ou mentor, manipula o jogador e dá as ordens para serem cumpridas. As tarefas são automutilação com lâminas, queimaduras, subir em edifícios, escutar músicas depressivas até culminar, na última “missão”, com o autoextermínio.

>> JÁ HOUVE VITIMAS NO BRASIL?
Pelo menos em três estados: em Minas Gerais é investigada a morte de dois jovens – um por overdose de medicamentos e outro por enforcamento; no Mato Grosso, a morte de uma menina em uma represa é relacionada ao jogo; e, na Paraíba, a polícia apura caso de uma classe de alunos que já estariam em procedimentos de automutilação.

FONTE: Superintendência Regional de Polícia Federal em Pernambuco


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