
Foi durante uma das corriqueiras manutenções que os funcionários da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) fazem numa balsa ao redor da lagoa, no fim de fevereiro, que o corpanzil foi avistado boiando, nas proximidades do parque Ecológico. Os trabalhadores do parque foram chamados e contactaram os especialistas da Fundação Zoo-Botânica para retirar o animal da água. O corpo estava em estado de decomposição e era de um macho. Depois de medido e de amostras terem sido retiradas, esse material foi encaminhado aos departamentos de patologia e toxicologia da Escola de Veterinária para determinar qual a causa da morte do jacaré.
De acordo com Eder Aguiar Faria Júnior, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Veterinária da UFMG, o jacaré é um dos animais mais antigos da Pampulha, uma vez que a espécie pode chegar aos 50 anos, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Não foi possível determinar exatamente a idade do animal, mas se trata de um jacaré mais velho. O tamanho também intriga. A Lagoa da Pampulha é um ambiente muito modificado e ainda é preciso determinar se algum fator específico possibilitou o crescimento desse espécime”, disse.
Próximo ao jacaré foram encontrados destroços de uma grande tilápia e o pesquisador da UFMG afirma ter presenciado o grande crocodiliano se alimentando quando ainda estava vivo. “Ele consumia peixes, pequenas aves, pequenos mamíferos, artrópodes e insetos. Muita gente fala das capivaras, mas nunca se viu um jacaré comendo esse roedor na lagoa. Por outro lado, já vi os dois animais coexistindo muito próximos, sem qualquer hostilidade”, observa Eder Júnior. A área de domínio do jacaré é muito ampla e o grande réptil era mais facilmente avistado no dique que represa o lago na Bairro Copacabana, mas aparições também foram registradas nas proximidades do Parque Ecológico, da Ilha dos Amores e até mesmo da Igrejinha de São Francisco de Assis. “São animais territorialistas. As fêmeas, principalmente, têm a questão de proteção de ninhos muito forte, mas como é um ambiente modificado (a lagoa poluída) não é possível comparar com a dinâmica territorial dos jacarés encontrados na natureza”.
