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Estado de Minas

Sistema público de saúde faz cerca de 10% das cirurgias bariátricas no país

Em BH, mais de 400 pessoas esperam pela operação


postado em 01/11/2015 06:00 / atualizado em 01/11/2015 07:14

Empresário Rogério Nogueira fez a intervenção na rede privada e comemora resultado, mas evolução não é tão positiva para todos(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press.)
Empresário Rogério Nogueira fez a intervenção na rede privada e comemora resultado, mas evolução não é tão positiva para todos (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press.)

Mesmo respondendo pela demanda de 70% da população brasileira, a rede pública de saúde no país realiza apenas entre 8% e 10% das cirurgias bariátricas no Brasil. Em Minas, a proporção estimada é ainda menor, segundo a Sociedade Mineira de Cirurgia Geral (Somcirge): 5% do total dos procedimentos. Os 95% restantes são feitos pela rede privada – 80% de convênios e 10% em clínicas privadas (veja arte). Atualmente, seis hospitais estão credenciados para realização do procedimento em Minas pelo SUS, dois na capital e quatro no interior. Em BH, a Santa Casa de Belo Horizonte e o Hospital das Clinicas da UFMG. No interior, o Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, em Juiz de Fora (Zona da Mata); o Hospital São Samaritano, em Governador Valadares (Vale do Rio Doce); o Hospital das Clínicas de Uberlândia (Triângulo Mineiro); e a Santa Casa de Poços de Caldas (Sul de Minas).

Na avaliação do vice-presidente da Somcirge, o cirurgião Marcelo Girundi, os índices mostram um desafio para a rede pública, que, segundo ele, deixa o paciente muito tempo na fila de espera. Em Belo Horizonte, por exemplo, existem atualmente 407 pacientes aguardando a cirurgia, apesar de a Secretaria Municipal de Saúde ter informado que “a média de espera varia de acordo com a prioridade clínica do paciente”, a pesquisa da UFMG mostrou que o tempo médio da rede pública é de até quatro anos. De acordo com a pesquisadora Silvana Bruschi Kelles, a instituição de protocolo de atendimento, a partir de 2013, diminuiu esse tempo em Minas.

Obeso desde a juventude, o empresário Rogério Rossato Nogueira optou por não esperar tanto tempo na fila do SUS. Contratou plano de saúde e aguardou o prazo de carência para fazer a cirurgia, que diminuiu em 37% seu peso corporal: de 180 quilos, agora pesa 112. “Fiz a cirurgia por necessidade. Era gordo há muito tempo e há cinco anos vinha tomando remédio para controle da pressão alta. Quando o nível de glicose ficou alto e tive risco de ficar diabético, chegou a hora de operar”, afirma ele, classificando o procedimento como “um sucesso”.

Mas nem todos têm a mesma avaliação. Há casos tristes relacionados às cirurgias bariátricas, principalmente se o paciente não for bem assistido ou não cumprir o acompanhamento médico e nutricional e não praticar atividades físicas, como explica o médico Marcelo Girundi. “As técnicas são muito avançadas e o índice de mortalidade é baixo. Mas a adesão do paciente ao tratamento, que continua após a cirurgia, é fundamental”, disse o especialista, que somente neste ano já operou cerca de 600 pacientes na rede particular. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e da pesquisa da UFMG mostram que o índice de mortalidade intra-hospitalar é de 0,5%, considerado baixo.

Nairma Andrea Silva, de Itabira, que fez a cirurgia em 2006, não teve o que comemorar. Sem seguir à risca a agenda de consultas na rede pública para acompanhamento do pós-operatório, a paciente teve um quadro crônico de dor abdominal cinco anos após o procedimento. Levada a nova cirurgia, teve infecção generalizada e morreu. A irmã dela, Norma Iracema Silva, de 71 anos, lembra as dificuldades. “Era burocrático remarcar os retornos para consulta em BH e ela se descuidou”, lembra. Casos como o de Nairma confirmam, na avaliação do médico Marcelo Girundi, um desafio da Rede SUS, que resulta, segundo ele, em mais mortes no sistema público: “A taxa de mortalidade para pacientes atendidos pela rede pública é o dobro da encontrada na rede particular, justamente por causa da rede de atenção”, disse.

(foto: ARte)
(foto: ARte)


DÉFICIT

Também alertando para os riscos do ganho de peso descontrolado e do sedentarismo, o presidente da SBCBM, Cláudio Mottin, diz que há muito mais gente a ser operada. Ele explica que cerca de 20% da população brasileira está obesa, o que representa cerca de 40 milhões de pessoas. Segundo a entidade, nada menos que 4,5 milhões de brasileiros atendem aos requisitos para o tratamento cirúrgico da obesidade; destes, 3,5 milhões são atendidos na rede pública (SUS).
Mesmo com percentual baixo em relação às operações de redução de estômago feitas no país, Minas é hoje o terceiro estado que mais realiza essas cirurgias, atrás apenas de Paraná e de São Paulo. De acordo com o Secretaria de Estado da Saúde (SES), a pasta está revendo as linhas de cuidado adotadas nos anos anteriores, para que o usuário tenha outras opções dentro do sistema, e também tenta incentivar o credenciamento de hospitais.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, é oferecido aos pacientes com quadros de obesidade o suporte técnico e terapêutico necessário, com acompanhamento multiprofissional durante todo o tratamento, havendo ou não indicação cirúrgica. Para iniciar o tratamento/acompanhamento, o paciente deve procurar, inicialmente, o seu Centro de Saúde de referência. A Rede SUS-BH realiza cirurgias gastrectomia com ou sem desvio duodenal e as gastroplastias com derivação intestinal. (veja técnicas na arte).

Excesso de peso atinge 52% no país

O aumento das cirurgias bariátricas no Brasil coincide com a escalada da obesidade no país. Conforme a última pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, mais da metade da população (52,5%) está com excesso de peso e 17,9% se enquadram na categoria obesos. Em Minas, 24,39% da população apresentou algum grau de obesidade.
Mesmo assim, para a coordenadora do estudo da UFMG sobre cirurgias bariátricas, a análise dos pacientes acompanhados até 10 anos após a operação (2001 a 2010) mostra que pode estar havendo excesso na busca pelo procedimento. “Fiquei muito preocupada com a banalização da cirurgia. Ela certamente tem boas indicações, mas acho que está ficando muito corriqueira. Vejo problemas pós-operatórios horríveis em jovens que não tinham outra doença, senão a própria obesidade”, disse Silvana Bruschi Kelles. Embora não sejam consideradas frequentes, as complicações da operação podem ser graves e até levar à morte, principalmente se o pós-operatório não for bem acompanhado.

Médicos alertam que a cirurgia não é, por si só, capaz de resolver definitivamente o excesso de peso. Estudos mostram que, em geral, pacientes operados recuperam boa parte do peso em até 10 anos. “Mas, com certeza, a operação é excelente oportunidade para mudança de hábitos alimentares e para, com isso, alcançar níveis melhores de saúde”, afirma Silvana Bruschi Kelles.


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