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Estado de Minas

População faz fila para entregar doações a refugiados sírios em BH

Notícia de nas­ci­men­to em BH do be­bê Ab­boud, fi­lho de um ca­sal de sírios, se espalha pela internet e leva moradores a se mo­bi­li­za­rem por do­a­çõ­es para a família e para refugiados


postado em 18/09/2015 06:00 / atualizado em 18/09/2015 09:19

Filas se formaram em frente à Igreja Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Santa Efigênia, que está organizando ajuda para sírios que chegam à capital(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Filas se formaram em frente à Igreja Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Santa Efigênia, que está organizando ajuda para sírios que chegam à capital (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)

O pe­que­no Ab­boud, fi­lho de um ca­sal sí­rio re­cém-che­ga­do a Be­lo Ho­ri­zon­te, nas­ceu na noi­te da úl­ti­ma quar­ta-fei­ra na San­ta Ca­sa de Be­lo Ho­ri­zon­te e, in­vo­lun­ta­ria­men­te, se trans­for­mou em pi­vô de uma re­de de so­li­da­rie­da­de ar­ti­cu­la­da pe­las mí­dias so­ciais e que le­vou cen­te­nas de be­lo-ho­ri­zon­ti­nos a se mo­bi­li­za­rem pa­ra dei­xar doa­ções no adro da Igre­ja Sa­gra­do Co­ra­ção de Je­sus, no Bair­ro San­ta Efi­gê­nia, na Re­gião Les­te de BH. “Só um mi­nu­to, que já te aten­do. Pre­ci­so aju­dar a or­ga­ni­zar es­se tsu­na­mi”, di­zia o pa­dre sí­rio Geor­ge Ra­teb a to­dos que o pro­cu­ra­vam na tar­de de on­tem, se re­fe­rin­do às sa­co­las e cai­xas com as doa­ções que che­ga­vam em pro­fu­são.


O ca­mi­nho das rou­pas, sa­pa­tos, tê­nis, cai­xas de lei­te, brin­que­dos e to­da sor­te de uti­li­da­des pa­ra quem vai re­co­me­çar uma vi­da em um país dis­tan­te foi en­cur­ta­do pe­las tec­no­lo­gias e im­pul­sio­na­do pe­lo nas­ci­men­to de Ab­boud. “Nas­ceu um be­bê es­ta noi­te. Tem três grá­vi­das e crian­ças que usam fral­da”, re­la­ta­va um tre­cho de uma men­sa­gem que vi­ra­li­zou no What­sA­pp. Quan­do leu a men­sa­gem, es­pe­cial­men­te es­se tre­cho, a ad­mi­nis­tra­do­ra Joyce Al­va­ren­ga, de 28 anos, fi­cou co­mo­vi­da e de­ci­diu aju­dar.

“Criei um even­to no Fa­ce­book pa­ra con­vi­dar meus ami­gos a aju­da­rem os sí­rios. Quan­do olhei, já ti­nha mais de 60 mil pes­soas con­vi­da­das. Fi­cou gran­de de­mais”, con­ta Joyce, as­sus­ta­da com o nú­me­ro de pes­soas en­vol­vi­das. Dian­te da re­per­cus­são, ela com­bi­nou com uma ami­ga de acer­ta­rem os de­ta­lhes com o pa­dre Geor­ge Ra­teb, que é sí­rio e rea­li­za um tra­ba­lho de aco­lhi­men­to de seus con­ter­râ­neos, além de bus­car aju­da pa­ra que eles re­cons­truam suas vi­das na ca­pi­tal mi­nei­ra.

“Pre­ci­sam de em­pre­gos dig­nos. Já vie­ram ad­vo­ga­do, eco­no­mis­ta, en­ge­nhei­ro me­ta­lúr­gi­co e pro­fis­sio­nais de le­tras e tu­ris­mo”, des­ta­ca o pa­dre Geor­ge. Po­rém, o re­li­gio­so des­ta­ca que os sí­rios não fa­lam por­tu­guês e que é pre­ci­so pa­ciên­cia pa­ra o apren­di­za­do. “Por­tu­guês é uma lín­gua di­fí­cil, não se apren­de de um dia pa­ra o ou­tro”, res­sal­ta.

Es­tão na ca­pi­tal 79 sí­rios, que che­ga­ram nos úl­ti­mos me­ses. De acor­do com o pa­dre Geor­ge, to­da aju­da é bem-vin­da, mas o ideal é con­se­guir em­pre­gos pa­ra os re­fu­gia­dos. Co­mo o vo­lu­me de doa­ções on­tem foi mui­to gran­de, o pa­dre já ar­ti­cu­la di­vi­dir par­te das ar­re­ca­da­ções com ou­tras ins­ti­tui­ções, in­di­ca­das pe­lo Vi­ca­ria­to de Ação So­cial, que aten­de co­mu­ni­da­des ca­ren­tes de Be­lo Ho­ri­zon­te e tam­bém mo­ra­do­res de rua.

O padre sírio George Rateb tem ajudado conterrâneos que buscam uma vida melhor(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
O padre sírio George Rateb tem ajudado conterrâneos que buscam uma vida melhor (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)

Joyce, que é mãe de uma crian­ça de 1 ano e meio, fi­cou sen­si­bi­li­za­da ao sa­ber que ha­via re­cém-nas­ci­dos e crian­ças pe­que­nas en­tre os re­fu­gia­dos. “Sem­pre crio even­tos pa­ra cha­mar meus ami­gos e ami­gas pa­ra doar san­gue, pa­ra ajudar o ban­co de lei­te ma­ter­no, mas às vezes é mui­to di­fí­cil con­se­guir con­ven­cer al­guém”, com­pa­ra a ad­mi­nis­tra­do­ra. Des­sa vez, po­rém, não fal­tou so­li­da­rie­da­de. Na tar­de de on­tem, o adro da igre­ja es­ta­va lo­ta­do de doa­ções e os vo­lun­tá­rios tra­ba­lha­vam in­ces­san­te­men­te pa­ra or­ga­ni­zar tu­do.

A es­tu­dan­te de pe­da­go­gia Sa­ra de Oli­vei­ra, de 21, foi até lá dis­pos­ta a ofe­re­cer seu tra­ba­lho pa­ra cui­dar das crian­ças. Le­vou o so­bri­nho Ber­nar­do Sca­lio­ni, de 3. “Ele (o so­bri­nho) aju­dou a se­pa­rar os brin­que­dos pa­ra doar e pe­diu pa­ra vir tam­bém pa­ra po­der brin­car com os ga­ro­tos de sua ida­de”, des­ta­cou Sa­ra. Po­rém, nem as crian­ças nem os adul­tos sí­rios fi­cam hos­pe­da­dos na igre­ja e já con­se­gui­ram aco­mo­da­ção com a aju­da de vo­lun­tá­rios.

O músico Paulinho Pedra Azul também foi à igreja:
O músico Paulinho Pedra Azul também foi à igreja: "Doar ajuda a aliviar dores" (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
O efei­to so­li­dá­rio atin­giu tam­bém um gru­po de ex-alu­nos do Co­lé­gio Loyo­la da dé­ca­da de 1980. A psi­có­lo­ga Ia­ra Ávi­la acio­nou seus co­le­gas e con­cla­mou pa­ra que eles aju­das­sem os sí­rios. “No gru­po, tem vá­rias pes­soas da área mé­di­ca, e mui­tos po­dem pre­ci­sar mais de aten­di­men­to do que de rou­pa. Vou pro­cu­rá-los, fa­zer uma tria­gem e ver do que pre­ci­sa, se­ja de um mé­di­co clí­ni­co ou de uma aju­da de psi­có­lo­go”, ex­pli­ca Ia­ra.

A mé­di­ca Ja­que­li­ne Azan apoiou a ideia da sua ex-co­le­ga de Loyo­la e se dis­pôs a aju­dar. “Tem­po a gen­te sem­pre ar­ru­ma. Se­ja à noi­te ou no fi­nal de se­ma­na”, se dis­põe a mé­di­ca, cu­ja es­pe­cia­li­da­de é clí­ni­ca ge­ral. Ja­que­li­ne tam­bém acio­nou seus gru­pos de Wha­tsA­pp com ou­tros mé­di­cos e já re­ce­beu vá­rias si­na­li­za­ções de aju­da.

AMI­GOS A aju­da vem de to­dos os la­dos e cren­ças. O ra­bi­no Uri Lam, da Con­gre­ga­ção Is­rae­li­ta Mi­nei­ra, foi até a igre­ja pa­ra le­var uma doa­ção e dis­se que es­tá ar­ti­cu­lan­do com os in­te­gran­tes da co­mu­ni­da­de ju­dai­ca de Be­lo Ho­ri­zon­te doa­ções pa­ra os sí­rios. “In­de­pen­den­te­men­te do cre­do, da et­nia e da ori­gem re­li­gio­sa, nós po­de­mos ser ami­gos”, acre­di­ta o ra­bi­no. Sí­ria e Is­rael não têm re­la­ções di­plo­má­ti­cas.

Sara levou o sobrinho Bernardo para brincar com as crianças(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Sara levou o sobrinho Bernardo para brincar com as crianças (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
O mú­si­co Pau­li­nho Pe­dra Azul tam­bém foi dei­xar sua doa­ção. “Doar aju­da a ali­viar nos­sas do­res”, fi­lo­so­fa. En­tre­tan­to, nem to­dos acre­di­ta­ram nas men­sa­gens que re­ce­be­ram. A es­ta­giá­ria da Fa­cul­da­de de Far­má­cia da UFMG, Ana Cla­ra Cam­pos, re­ce­beu o tex­to com o pe­di­do de aju­da pe­lo What­sA­pp e de­ci­diu ir à igre­ja con­fe­rir de per­to pa­ra ver se era ver­da­de. “Vou fa­zer um ví­deo e pas­sar pa­ra meus ami­gos. Quan­do é uma cor­ren­te, mui­ta gen­te acha que não é sé­rio”, ex­pli­ca Ana Cla­ra.

‘Quero meu filho em ambiente de paz’, diz síria

Paz. Es­se é o mai­or so­nho da pro­fes­so­ra sí­ria Ns­ri­ne Chahla pa­ra o seu fi­lho Ab­boud, que nas­ceu quar­ta-fei­ra na San­ta Ca­sa de Be­lo Horizonte. “Que­ro que meu fi­lho vi­va em um am­bi­en­te de paz”, dis­se a mãe, que há um ano e dois me­ses fu­giu da guer­ra em seu país jun­to com o ma­ri­do, o bom­bei­ro hi­drá­u­li­co Ja­mel Aladra. O ca­sal mo­ra­va em São Pau­lo e há seis me­ses veio ten­tar uma vi­da me­lhor em Be­lo Horizonte.

Os dois es­pe­ram en­con­trar em­pre­go e ga­ran­tir um fu­tu­ro me­lhor pa­ra o fi­lho re­cém-nascido. “A úni­ca aju­da que que­re­mos ago­ra é tra­ba­lho”, dis­se a mãe, que já fa­la português. “A vi­da aqui é mui­to boa, mas te­nho mui­ta sau­da­de dos meus pais, que fi­ca­ram no meu país, e da mi­nha ir­mã, que es­tá na Austrália. Gos­ta­ria mui­to que eles es­ti­ves­sem aqui com a gen­te”, dis­se a professora.

A fa­mí­lia mo­ra em um apar­ta­men­to no Cen­tro de Be­lo Ho­ri­zon­te e, en­quan­to não ar­ru­ma em­pre­go, Ja­mel pas­sa o tem­po na co­zi­nha, pre­pa­ran­do gu­lo­sei­mas tí­pi­cas do seu país. Ven­der co­mi­da tem aju­da­do o bom­bei­ro hi­drá­u­li­co no sus­ten­to da família.

COMO AJUDAR A Paróquia Sagrado Coração de Jesus orienta que o local para deixar as doações é na Avenida Amazonas, 558, no Centro de Belo Horizonte. Pela página no Facebook Refugiados sírios chegam a BH e precisam de ajuda!, ou no link https://goo.gl/SRPJUN.

Veja outros locais de doação em Belo Horizonte

  • Escola de Engenharia UFMG - Campus Pampulha
  • Clube Atlético Mineiro - Vila Olímpica Planalto/Vila Clóris/São João Batista
  • Cidade Administrativa - 5º andar, Prédio Minas, Ala ímpar - Rod. Pref. Américo Renê Gianeti, 3777 - Serra Verde
  • Escritório de Integração - Arquitetura PUC Coração Eucarístico - Rua Dom Jose Gaspar, 500, Coração Eucarístico
  • Butic Bardot - Rua Paraíba, 1.352, loja 13, de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h

Anos de conflito

Aguerra na Síria completou quatro anos de conflitos entre tropas leais ao regime, vários grupos rebeldes, forças curdas e organizações jihadistas, entre elas,o Estado Islâmico. Desde 2011, a guerra já matou mais de 240 mil pessoas no país, sendo 12 mil crianças. Estimativas da ONU apontam que mais de 7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do paísequase 60% da população vive na pobreza. Os trágicos números refletem na alta taxa de emigração do país – seriam 4 milhões de refugiados sírios, a maior população de refugiados do mundo.O principal destino dos sírios é a Turquia, que já recebeu 1,8 milhão de refugiados desde o início da guerra civil no páis, seguido por Iraque, Jordânia, Egito e Líbano.


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