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Estado de Minas

Casal que doou 1,2 mil peças à arquidiocese proclama seu amor por Ouro Preto

Novo museu na cidade vai abrigar antiguidades e se somar a outros 13 espaços


postado em 22/12/2014 06:00 / atualizado em 22/12/2014 07:16

Maria Helena e Jacques doaram o tesouro adquirido durante anos em várias partes do mundo(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Maria Helena e Jacques doaram o tesouro adquirido durante anos em várias partes do mundo (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Ouro Preto – A voz tranquila de Maria Helena de Toledo Boulieu ganha o tom forte da emoção ao falar sobre a cidade, onde passa longas temporadas ao lado do marido, o empresário francês Jacques Joseph. “Sentimos um grande amor por Ouro Preto. Aqui encontramos amigos e pessoas maravilhosas. Na nossa decisão prevaleceu este afeto”, revela a paulista criada em Belo Horizonte e residente no Rio de Janeiro (RJ) a respeito da doação de 1,2 mil peças sacras, colecionadas desde 1959 pelo casal, à Arquidiocese de Mariana. “A Arquidiocese do Rio nos ofereceu um imóvel, mas vimos que o melhor destino para a Coleção Boulieu, formada por imagens, prataria e quadros, era um museu em Ouro Preto”, afirma.


A expectativa é de que, no máximo em dois anos, o Museu Boulieu – Caminhos da Fé esteja funcionando no anexo do antigo prédio da Santa Casa, no Paço da Misericórdia, no Centro Histórico do município. No local já está uma placa anunciando a empreitada. Na noite de quinta-feira, em solenidade presidida pelo arcebispo dom Geraldo Lyrio da Rocha, na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, na ex-Vila Rica, foi firmado o protocolo de doação do tesouro, que reúne objetos do país e de outras terras colonizadas por portugueses e espanhóis ao longo dos séculos: América Central, países andinos e Ásia, incluindo Filipinas, Ceilão, Indonésia, Índia e China.

O casal Boulieu chegou pontualmente às 20h e foi recebido com carinho e muitos abraços por moradores e autoridades. “Estou feliz, pois nossa coleção vai ficar sob os cuidados da Arquidiocese de Mariana e nas mãos da santa Igreja. Cada peça conta parte da nossa história”, destacou o empresário, radicado há décadas no Brasil. Ele e Maria Helena, que não têm filhos, fizeram questão de que a assinatura do protocolo ocorresse durante cerimônia de ação de graças. “Nossa alegria é imensa em transferir as peças e, por isso, abrimos o coração de gratidão a Deus. Queremos compartilhar e não deixar que o acervo se disperse”, afirmou Maria Helena.

Muitas das histórias foram recordadas pelo casal, incluindo a aquisição, em Cochabamba, na Bolívia, de uma peça de prata do século 17. Um dia, Jacques chegava à cidade do altiplano andino quando viu, na rua, um homem cortando com tesoura o metal gravado e cinzelado, que se assemelhava a porta-livros: “Senti um horror, vi a cena como profanação, pois o objetivo era derreter a prata e fazer brincos para vender.”

Determinado a impedir que o restante do material fosse transformado em bijuterias, o francês conversou pacientemente com o homem, perguntou quanto ele lucraria com aquele comércio e fez uma proposta. Deu certo. Agora, a peça, bem conservada, assim como todo o acervo, integra o patrimônio que poderá futuramente ser admirado. Ao ficar pronto, o Caminhos da Fé será o 14º museu de Ouro Preto.

PRESERVAÇÃO “A atitude do casal é generosa e nobre, movida pela fé e ganha mais amplitude nesta época do Natal, ao ser posta à disposição da coletividade. É um presente valioso em arte, história, cultura e religiosidade. Trata-se de um gesto a ser imitado, pois, em vez de fechar o ciclo da posse, eles abrem o ciclo da doação. Veja só, eles agradeceram a Deus pela chance de doar a coleção”, disse dom Geraldo Lyrio. Bispo emérito da Diocese de Oliveira e autor de um recém-lançado livro sobre a Igreja de São Francisco de Assis, o ouro-pretano dom Francisco Barroso Filho também destacou com entusiasmo a decisão dos Boulieu de deixar o acervo na cidade.

Segundo a coordenadora do projeto, arquiteta Deise Cavalcanti Lustosa, o museu ficará num casarão do início do século 20, em estilo eclético e com grandes ambientes, no qual estarão divididos os espaços sobre a procedência dos acervos – há peças eruditas e populares, barrocas e cusquenhas, arte ingênua do Nordeste e outras. De propriedade da prefeitura, o prédio foi cedido em comodato por 50 anos.


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