(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Melhoria do inglês fica de fora da lista de legados deixados pela Copa do Mundo

Mesmo com a visita de turistas durante o Mundial e iniciativas educacionais, BH, Minas e o Brasil ainda têm desempenho baixo em índice de proficiência na língua estrangeira


postado em 22/11/2014 06:00 / atualizado em 22/11/2014 07:46

Ana Lúcia, que trabalha em restaurante na Savassi:
Ana Lúcia, que trabalha em restaurante na Savassi: "Não estávamos preparados (para a Copa), mas os turistas estavam. Falavam palavras em português" (foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Belo Horizonte abriu suas portas durante a Copa do Mundo para milhares de turistas de todo o planeta e se tornou vitrine de Minas Gerais. Mas, para se comunicar com tantos estrangeiros, valeu de tudo, da mímica a fotografias. Isso porque nem o Mundial serviu de impulso para pôr os belo-horizontinos para falar outro idioma, segundo mostra o Índice de Proficiência em Inglês 2014 (EPI, na sigla em inglês), feito em 63 países. O ranking internacional é divulgado pela EF Education First, empresa de educação internacional e, pela primeira vez, mediu o nível de domínio da língua também nos estados brasileiros e em cinco capitais. Tanto Minas quanto BH tiveram desempenho considerado baixo.

O levantamento leva em conta cinco níveis de proficiência: muito alto, alto, moderado, baixo e muito baixo. O estado ficou em sexto lugar entre as unidades da federação, com pontuação de 51,43. A capital ocupa a quarta posição, com 50,89 . Na comparação mundial, o desempenho de BH é inferior a países como Vietnã, Peru e Equador. A média brasileira ficou em 49,96, pontuação que deixou o Brasil em 38ª colocação e proficiência baixa – os dois cenários são os mesmos do estudo divulgado ano passado.

Diretor de relações institucionais e acadêmicas da EF, Luciano Timm afirma que a melhora e o impacto da preparação para a Copa do Mundo, além da explosão de cursos de idiomas no país, foram retratadas no relatório de 2013, quando o Brasil saiu do nível de proficiência muito baixo para baixo. Para ele, um novo status será obtido nos próximos levantamentos, quando serão identificados os resultados das políticas públicas adotadas do país para suprir a lacuna do domínio do idioma estrangeiro.

Entre as conclusões do EPI, o estudo defende o alinhamento do sistema educacional para o investimento do inglês nas escolas desde o ensino fundamental, além da capacitação de professores e diminuição das barreiras para estudar no exterior. “O Brasil acaba de adotar as principais práticas, entre as melhores estratégias globais de proficiência que diferentes países estão adotando. Acreditamos que isso terá impacto grande nos relatórios dos próximos anos.”
Luciano Timm espera também que os governadores invistam em programas de incentivo, a exemplo de São Paulo e Brasília, que mantêm uma versão local do Ciência sem Fronteiras. As duas cidades são as únicas entre as capitais a ter proficiência moderada. “O interesse do brasileiro existe. Precisa é dar visibilidade a diferentes metodologias inovadoras. Não se pode mais ensinar inglês como antigamente, a partir da gramática.”

Diretor da Focus Soluções em Idiomas, Cláudio Aguiar conta que era grande a expectativa em relação à Copa do Mundo. A escola de BH ofereceu cursos específicos para lojistas e trabalhadores do setor hoteleiro, mas não houve o retorno esperado. “Percebo em BH uma resistência e dificuldade quando se trata de fazer novos investimentos em capacitação e treinamento, principalmente quando envolve relações internacionais, como o aprendizado de uma língua.”

Ele acredita ter havido mudança de comportamento nos últimos anos, especialmente relacionada às pessoas que ascenderam de classe social, que passaram a procurar por esse tipo de serviço. “Mas, quando a pessoa percebe que tem que estudar, comprar livros e investir recursos, desanima, pois não tem a cultura de estudar”, opina. Para Aguiar, as mudanças estão ocorrendo, embora a passos lentos: “BH já mudou. Antes era raro ver um estrangeiro por aqui, hoje não. Mas é um investimento, não é a curto prazo.”

JEITINHO Ana Lúcia Gomes Melo, de 35 anos, que trabalha em um restaurante de comida baiana na Savassi que foi destino de muitos estrangeiros durante a Copa do Mundo, conta que não fez curso de inglês, mas se saiu muito bem no atendimento. Dos 12 funcionários, apenas dois se prepararam. O cardápio em inglês, com fotos dos pratos, facilitou a compreensão dos pedidos dos clientes. “Tivemos muita sorte, porque não estávamos preparados, mas os turistas estavam. Eles chegaram aqui falando algumas palavras em português. Além disso, quase todos vieram por indicação de alguém que um dia passou por aqui, então, sabiam exatamente o que queriam.” Houve até um grupo de coreanos que chegou com nome e foto do prato num tablet, para não ter dúvidas.

Ana conta que todos os empregados da Baiana do Acarajé estavam preparados para fazer cursos de idiomas, mas desanimaram por causa das manifestações de 2013. “Todo mundo ficou com medo e ninguém sabia como seria a Copa, pois a das Confederações foi um desastre para nós. Soubemos que seria um sucesso apenas no primeiro dia do Mundial, quando chegaram os primeiros turistas.”

O garçom Jovelino Domiciano, de 72 anos, dos quais 44 de profissão, também não teve problemas para atender os clientes do Café Três Corações. Ele não fala qualquer palavra em inglês, mas se entende com qualquer estrangeiro por gestos e sorrisos. O cardápio em inglês também facilitou o trabalho. Na longa caminhada por restaurantes da capital, ele se acostumou a atender, principalmente, franceses e norte-americanos. “Não adiantaria eu fazer um curso rápido para aprender inglês para a Copa. Não saberia falar nem bom-dia”, diz. Um dos episódios mais marcantes foi quando uma professora de inglês pensou que ele passava dificuldade para atender um grupo de norte-americanos e resolveu ajudá-lo. “Eles não gostaram e ainda a xingaram. No fim, perguntei se estava tudo bem com o sinal de joia, e eles responderam que não havia problemas.”

"Não adiantaria fazer curso de inglês", conta Jovelino, garçom de café na Savassi. O desconhecimento de idiomas, porém, não o impediu de atender bem os turistas (foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A Press)


MEC lança programa

O Ministério da Educação (MEC) lançou no início desta semana o programa Idiomas sem Fronteiras (IsF), voltado para a formação e a capacitação de estudantes, professores e corpo técnico-administrativo de instituições de educação superior e de professores de idiomas da rede pública de educação básica. Os idiomas oferecidos serão inglês, francês, espanhol, italiano, japonês, mandarim, alemão e português para estrangeiros. O programa, complementar ao Ciência sem Fronteiras e a outras políticas públicas de internacionalização, prevê a aplicação de testes de proficiência e de nivelamento, cursos on-line e presenciais. Serão publicados editais específicos para cada idioma, com os requisitos a serem preenchidos para participação nos diferentes cursos e testes ofertados. Estudantes de universidades federais e estaduais e de institutos federais já podem se habilitar a uma das 1,5 mil vagas para o curso on-line de língua francesa do Français sans Frontières. Mais informações no www.mec.gov.br.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)