(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas O PERIGO ESTÁ À ESQUERDA

Caminhoneiros ignoram regras de trânsito e desprezam faixa da direita

Nos 27 quilômetros do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, desrespeito reina


postado em 09/08/2014 00:12 / atualizado em 09/08/2014 07:41

Pedro Ferreira

No trecho próximo ao Bairro Palmeiras, caminhões flagrados pelo EM ocupavam as três pistas do Anel (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
No trecho próximo ao Bairro Palmeiras, caminhões flagrados pelo EM ocupavam as três pistas do Anel (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A qualquer hora do dia ou da noite, um desrespeito atrás do outro no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Motoristas de caminhões ignoram as leis de trânsito e trafegam pela faixa da esquerda em alta velocidade. Veículos de carga chegam a usar as três faixas do Anel ao mesmo tempo, emparelhados, impedindo a passagem dos carros menores, causando acidentes e aterrorizando motoristas. Na tarde de ontem, vários caminhões de carga foram flagrados pelo EM trafegando na faixa da esquerda, junto à mureta de proteção central. O risco era maior na descida do Anel entre os bairros Olhos D’Água e Betânia, trecho de 7 quilômetros considerado o mais perigoso dos 27 quilômetros da via.

O Código de Trânsito Brasileiro determina que “quando uma pista de rolamento comportar várias faixas de circulação no mesmo sentido, são as da direita destinadas ao deslocamento dos veículos mais lentos e de maior porte, quando não houver faixa especial a eles destinada”. Mesmo na subida do Anel, os caminhões andam embalados, fazendo ultrapassagens pela faixa proibida.

A velocidade máxima permitida para o local é de 70 km/h para carros pequenos e de 60 km/h para veículos pesados, mas o desrespeito é geral. A situação fica mais complicada onde há afunilamento da pista, como na passagem sob um pontilhão da linha férrea no Bairro Madre Gertrudes, Região Oeste. São apenas duas faixas para cada sentido da rodovia, que recebe uma média diária de 153 mil veículos, dos quais 20% são caminhões de cargas. Em alguns trechos, o tráfego é maior. Entre o viaduto do Bairro Amazonas e o Viaduto São Francisco são 168 mil veículos/por dia. “Caminhões de carga que vão para o Nordeste do país, Norte de Minas, Espírito Santo e Triângulo Mineiro passam por aqui”, disse o tenente do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPMRv), Geraldo Donizete.

O assistente de suprimentos Paulo Vínícius Campos Lima, de 25 anos, mora no Bairro Bonsucesso, Região Oeste, e passa todos os dias de carro pelo local mais trágico da rodovia, na altura do Bairro Betânia, a caminho do trabalho. O trecho é palco de várias tragédias e Paulo disse se sentir ameaçado o tempo todo. O medo dele aumentou depois que seu carro foi fechado por um motoqueiro e capotou. “Dou passagem para os caminhões em alta velocidade que vêm atrás, com medo de ter que frear de repente e o caminhão passar por cima de mim. Todos os dias e em qualquer horário tem caminhões na faixa da esquerda”, reclama.

Fernando Júnior, de 22, é piloto de avião e disse que tem mais medo de dirigir no Anel do que quando está nas alturas. “Sempre passo pelo Anel e o movimento de caminhões é grande. Eles andam em alta velocidade pela faixa da esquerda e na subida ficam lentos demais e param o trânsito”, relata. O empresário Marcos Vinícius Veira da Silva, de 27, percebe que os motoristas de caminhão preferem mais andar na faixa da esquerda do que nas destinadas a eles. “Colocam em risco a vida de todo mundo”, denuncia.

REFORMA A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) informou que o projeto executivo para reforma do Anel, elaborado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagens de Minas (DER-MG), foi entregue no início deste mês ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). As intervenções serão em três pontos prioritários, considerados os mais perigos.

A obra é do governo federal, mas a elaboração do projeto é do governo de Minas, por intermédio do DER-MG, e abrange 5,2 quilômetros da rodovia. O DER-MG continuará elaborando o projeto executivo para os 22,1 quilômetros restantes do Anel.

O Dnit informou que está analisando a parte do projeto recebida e que até o final da próxima semana saberá se tem alguma inconformidade com as normas estabelecidas. O fato de o projeto ter sido entregue, segundo o Dnit, não significa que ele está finalizado. Mesmo se aprovado, não há previsão de início das obras, pois é necessário abertura de edital de licitação. O DER-MG informou que trabalhará com equipes do Dnit para eventuais ajustes.

 

Multas não inibem infrações

Caminhoneiros que trafegam na faixa da esquerda no Anel Rodoviário são multados em R$ 84, garante o tenente Geraldo Donizete, do Batalhão da Polícia Militar Rodoviária (BPMRv). “Não temos como parar o caminhão em qualquer lugar do Anel. É feita a multa pela placa, e não pela abordagem”, disse. Segundo ele, a fiscalização é constante, principalmente nos pontos de maior risco, mas mesmo assim os caminhoneiros insistem em desrespeitar a lei. “Estamos fazendo planejamentos e monitoramentos para coibir essa prática”, disse o tenente. “É impossível fiscalizar esse povo o tempo todo”, disse.

A expectativa do tenente é que a situação melhore a partir de outubro com a privatização de 11 quilômetros do Anel – do Bairro Olhos D’Água à saída para a BR-040, sentido Brasília. “Vamos ter base de fiscalização no Betânia com socorro médico e guinchos. A Via 040 vai assumir a responsabilidade desse trecho do Anel que é do Dnit”, disse Donizete. A concessionária Via 040 vai assumir a administração da BR 040 entre Juiz de Fora, Zona da Mata, e Brasília, porém, a fiscalização permanece com o BPMRv.

Segundo o tenente, em 2011, morreram 11 pessoas em acidentes somente nos sete quilômetros de descida do Anel entre o Olhos D água e Betânia. “Os motoristas de caminhão alegam que estavam descendo e o freio não funcionou. Não existe isso. Eles não controlam a velocidade na marcha, que deve ser a mais forte também nas descidas para utilizar o freio menos possível. Chega um momento em que o freio esquenta tanto e não para mais. Não tem freio que consegue parar uma carreta bitrem, que chega a transportar um peso bruto de 74 toneladas, quando depara com um congestionamento, mesmo a 60 km/h”, afirmou o tenente.

RADARES Em 2012, segundo o tenente Donizete, foram instalados sete radares de velocidade no trecho perigoso e as mortes caíram para três. No ano passado e no primeiro semestre deste ano, de acordo com ele, não houve nenhuma morte nesse trecho. Na BR-040, no Olhos D Água, foram mais quatro aparelhos para controlar a velocidade desde o Viaduto da Mutuca. “Estamos buscando a instalação de mais radares junto à concessionária que vai assumir esse trecho do Anel. Também é preciso construir pontos de ônibus fora da pista. Queremos reduzir o número de vítimas”, disse O policial. (PF)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)