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Estado de Minas CAPITAL COSMOPOLITA

Internacionalização é o principal legado do Mundial para Belo Horizonte

Cidade nunca havia visto tantos turistas estrangeiros e mostrou sua capacidade para promover grandes eventos


postado em 13/07/2014 07:00 / atualizado em 13/07/2014 08:22

É hora de pensar no legado da Copa para Belo Horizonte, depois de 32 dias de muita festa e alegria. Jogos de tirar o fôlego, surpresas, zebras e até o inimaginável estiveram em campo durante a Copa. A traumática eliminação da Seleção Brasileira nem de longe apagou a empolgação e as ótimas impressões dos turistas estrangeiros que estiveram na cidade para acompanhar os seis jogos disputados no Mineirão ou apenas conhecer a cidade. Dentro e fora do estádio, torcidas comemoraram e fizeram bonito.


A Savassi se tornou o principal ponto de concentração de torcedores de vários idiomas. O mundo descobriu BH, Belô para os estrangeiros.  Foram 158 mil pessoas de 75 países por aqui e, como resposta, a cidade mostrou o seu melhor. Ao todo, 345 mil pessoas assistiram aos jogos no Mineirão. Houve ainda um batalhão de torcedores, entre 30 mil e 40 mil, que vieram à cidade e nem sequer tinham ingresso. Nas centrais de atendimento ao turista (CAT), montadas em nove pontos da capital e em Confins, 23 mil pessoas pediram informações. Com tantos elogios sobre  a hospitalidade, a culinária e os serviços, fica o debate sobre a internacionalização de BH e o compromisso de traçar um futuro promissor depois de experiências tão ricas.

Turistas de outros países se impressionaram com a beleza arquitetônica da Praça da Liberdade, um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte(foto: EULER JUNIOR/EM /D.A PRESS)
Turistas de outros países se impressionaram com a beleza arquitetônica da Praça da Liberdade, um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte (foto: EULER JUNIOR/EM /D.A PRESS)

Circuito cultural bate recorde

Eles vieram por um motivo específico: ver a bola rolar durante a Copa do Mundo. Mas, passeando daqui e dali, descobriram outros atrativos e se encantaram com as belezas naturais e a cultura de BH e cidades do entorno. A Praça da Liberdade teve fins de semana que entraram para a história. Sempre lotada, recebeu sotaques e idiomas dos mais variados tipos. Os prédios do Circuito Cultural chamaram a atenção pela arquitetura e pela reunião de 12 museus no mesmo espaço.

Já na primeira fase do Mundial, mês passado, o Circuito Cultural da Praça da Liberdade teve recorde de público, com quase 125 mil visitantes – a média mensal é de 60 mil. O número foi quase três vezes maior que a quantidade de pessoas que passaram pelo local em junho do ano passado – 50 mil. Os turistas ajudaram a ultrapassar a marca de 3 milhões de visitantes desde a criação do circuito, em 2010.

No Instituto Inhotim, na Grande BH, a reunião de museu de arte contemporânea a céu aberto e jardim botânico conquistou os estrangeiros, que respondem por 20% da visitação. Eles triplicaram e alcançaram a marca de 60% dos frequentadores na Copa. O dia 2 deste mês foi o recorde do Mundial, com 5,8 mil visitantes. A expectativa é contabilizar, até hoje, de 50 mil a 55 mil visitas, bem acima da média mensal, que varia entre 20 mil e 30 mil.

No Mercado Central passaram mais de 2 mil turistas estrangeiros apenas pelo posto de informação, mas estima-se que o volume de visitantes aumentou entre 30% a 40% durante o Mundial. Colombianos, belgas, argentinos, norte-americanos, argelinos, chineses, alemães e muitos outros conheceram um pouco da cultura e da gastronomia mineira. “Nunca se vendeu tanto tropeiro, frango com quiabo, fígado com jiló, rosca, pão de queijo e broa de fubá. Fui procurado por turistas querendo feijoada em plena segunda-feira”, conta o superintendente do mercado, Luiz Carlos Braga.

Ele acredita que o retorno será em médio e longo prazo, depois que os visitantes voltarem a seus países e indicarem a familiares e amigos a capital mineira como referência de passeio. “Isso vai ficar de legado.”
"Os aspectos culturais foram valorizados com o legado de Niemeyer e a própria lagoa, que deveria ser assumida pelo belo-horizontino como patrimônio verdadeiro", Afrânio Alves de Andrade, presidente da Associação Comunitária do Bairro Bandeirantes (foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)

PAMPULHA Outro ponto turístico que encantou os turistas foi a Pampulha. O traçado de Oscar Niemeyer levou uma multidão à igrejinha, Casa do Baile, Casa de JK e Museu de Arte da Pampulha. Moradores da região, vizinhos do Mineirão, aprovaram e, por causa da experiência, cobram maior valorização do patrimônio. Presidente da Associação Comunitária do Bairro Bandeirantes, Afrânio Alves de Andrade conta que chamou a atenção a relevância dada pelos turistas aos aspectos culturais da cidade. “Os aspectos culturais foram valorizados com o legado de Niemeyer e a própria lagoa, que deveria ser assumida pelo belo-horizontino como patrimônio verdadeiro.”

Ele lembra que nem mesmo o transtorno de ter a região parada depois das 11h em dias de jogos tirou a paciência dos moradores, que souberam valorizar o evento. Afrânio lamenta a ausência de uma programação cultural para a Pampulha que mantenha esse dinamismo entre a população. “A minha expectativa é que as autoridades olhem com mais carinho para esses equipamentos e as pessoas entendam que essa região deve ser preservada com as características naturais e originais”, afirma.

“No período em que estivemos com esses turistas, todos colaboramos, pois todos queriam ver a Copa prevalecer com a beleza que ela representou, inclusive a lição de moral que ela nos deu: humildade acima de tudo”, ressaltou.

Para o presidente da associação, outra lição foi a do planejamento: “A intervenção da prefeitura foi bem feita, não vimos amontoado de lixo e nada que pudesse manchar a imagem da Pampulha. Isso mostra que, com planejamento, é possível cuidar e fazer um belo evento. Passamos no teste.”

 

Vocação para turismo e negócios
O secretário municipal Extraordinário para a Copa do Mundo, Camillo Fraga, acredita que o maior feito da Copa foi internacionalizar BH. “Nosso primeiro jogo foi Colômbia x Grécia e muitos colombianos foram vistos na cidade depois. Ou seja, eles voltaram ou nem foram embora. A despeito de todas as obras e legados materiais, esse legado imaterial é o que vamos colher no futuro”, avalia. Para ele, outro exemplo que reforça a tese é a escolha da Inglaterra de fazer a base de suas equipes olímpica e paralímpica em BH. “A última cidade que sediou as Olimpíadas nos escolheu. É Londres optando por BH.”

Fraga ressalta que, com a Copa, a capital mostrou capacidade para realizar grandes eventos e receber grandes equipes, um reforço e tanto na vocação para o turismo de eventos e de negócios. “Os turistas vão indicar a cidade para um amigo ou até voltarão. Tenho certeza de que BH tem ainda muito a colher.”

O exemplo da fala do secretário está na avaliação de turistas, como o dirigente da federação argelina de futebol, Ahmed Mebrek, que ficou impressionado com a alegria dos belo-horizontinos. “As pessoas são acolhedoras, sorridentes e têm sempre bom humor. Vocês são sempre assim?”, perguntou.

O alemão Mario esteve pela 10ª vez no Brasil e pela segunda em BH. Operador de turismo no país europeu, ele se definiu como um “alemão carioca”. Em vez de identificar o sobrenome, preferiu assinar como MaRio, destacando no próprio nome o estado brasileiro de sua preferência. “Falta praia em ‘Bélo’”, desculpou-se em português quase perfeito. Elogiou o frango com quiabo e se deslumbrou também com Ouro Preto, Tiradentes e Congonhas, cidades históricas que lembram as vilas alemãs, segundo ele.

Gerentes de teatro de comédia em Colônia, no Oeste da Alemanha, o casal Elena e Stephan Bramer, de 38 e 52 anos, esteve bem à vontade na Savassi. Desde criança, ele tinha o sonho de conhecer o Maracanã. Em 2007, ao saber que a Copa seria no Brasil, começou a se preparar. Eles estão acompanhando a Seleção Alemã de carro – a exceção foi a viagem para o Rio Grande do Sul, para onde seguiram de avião. Ambos preferem cidades menores e mais aconchegantes. “I love (eu amo) Ouro Preto e Canoa Quebrada (CE). É a minha primeira vez no Brasil, mas ainda vou voltar”, garantiu Stephan.

Eles gostaram do jeitinho do belo-horizontino, da culinária e até do sistema de transporte. O Expresso Copa foi considerado por moradores e turistas brasileiros e estrangeiros a melhor forma de chegar ao estádio, apesar de o percurso durar cerca de uma hora. Para o Mundial, a BHTrans pôs nas ruas 400 coletivos especiais, com partida de quatro pontos da cidade e do aeroporto de Confins. Além disso, eles foram considerados o meio mais rápido de acesso ao Mineirão. A empresária Marilene de Assis, de 43 anos, moradora do Bairro de Lourdes, Centro-Sul de BH, usou ônibus para chegar a estádios em Copas de outros países e, agora, em BH, também optou pelo sistema. “Foi confortável e relativamente rápido, muito melhor que ir de carro. Além do estresse do trânsito, existe dificuldade para estacionar. Não pensei duas vezes ao optar pelo coletivo.” (Colaborou Sandra Kiefer)


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