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Estado de Minas

Pará de Minas sofre com a pior crise de abastecimento em 20 anos

Drama se estende a cidades vizinhas no Centro-Oeste. Solução será bombear água do Rio Paraopeba


postado em 12/07/2014 06:00 / atualizado em 12/07/2014 07:19

Moradores fecharam ruas do Bairro Padre Libério a fim de cobrar solução para o abastecimento na cidade (foto: FOTOS BETO NOVAES/EM/D.A PRESS )
Moradores fecharam ruas do Bairro Padre Libério a fim de cobrar solução para o abastecimento na cidade (foto: FOTOS BETO NOVAES/EM/D.A PRESS )

Pará de Minas – Dos 20 mil litros de água transportados pelo caminhão-pipa da Copasa para a caixa que abastece parte do Bairro Padre Libério, os 500 litros que sobram no fundo e não podem ser bombeados são disputados em filas caóticas de gente que se empurra desesperada por estar com a torneira seca há 10 dias. A situação no bairro é uma das mais graves de Pará de Minas, município de 90 mil habitantes no Centro-Oeste  com estado de calamidade decretado para enfrentar a pior crise de abastecimento dos últimos 20 anos. A prefeitura informou que todas as regiões sofrem falta de água. Ontem, cerca de 100 moradores do Padre Libério fecharam ruas para exigir uma solução. O mesmo ocorreu no Bairro São Paulo. A Copasa e a prefeitura dizem que é preciso buscar água do Rio Paraopeba, mas não se entendem sobre o contrato de serviço, que está suspenso desde 2009.

Segundo o Atlas do Abastecimento da Agência Nacional de Águas (ANA), Pará de Minas precisaria de um investimento mínimo de R$ 4 milhões para ampliar a captação de água antes de 2015, quando se estima um colapso. Contudo, os dois mananciais que abastecem a cidade, os córregos dos Paivas e Paciência, deixaram de produzir a média de 240 litros por segundo, caindo para 60 cada.

Cidades vizinhas também sofrem com o desabastecimento. Igaratinga, Onça de Pitangui e São José da Varginha também teriam de ampliar a captação até 2015, segundo a ANA. O Ministério Público conseguiu liminar na Justiça para obrigar que o abastecimento seja providenciado. Enquanto recorre da decisão, a Copasa tenta garantir o abastecimento com 18 caminhões-pipa e a perfuração de 15 poços artesianos. Já a prefeitura disponibilizou dois caminhões-pipa. Ainda assim, revoltados, os moradores do Padre Libério interditaram ontem as avenidas João Paulo II e João XXIII com pneus e lenha em chamas e fecharam dois dos principais acessos a cidades da região.

Homem misericordioso considerado santo na região e cuja sepultura é destino de romarias, o Padre Libério certamente se compadeceria ao ver a situação do povo que vive no bairro que leva seu nome. Na casa da desempregada Elisângela da Cruz, de 38 anos, apenas um galão com 20 litros de água restou para ela e os quatro filhos, de 18, 16, 11 e 8 anos. Na sua cozinha, os pratos e as panelas empilhados não são lavados nem preparam comida há 10 dias por falta de água. O banheiro não pode mais ser usado. A poeira vermelha imunda tudo. A filha caçula, Yasmim, sobe mancando todos os dias os morros para chegar ao posto médico. Levam 30 minutos, ela e a mãe, de mãos dadas, para chegar ao único lugar onde a menina encontra água para limpar uma queimadura de café fervente que sofreu há alguns dias na coxa direita. “Não temos água nem para nossa saúde. Tomamos banho na casa dos parentes que ainda têm reserva”, protesta Elisângela.

Famílias enfrentam fila várias vezes por dia para disputar a água trazida pelos caminhões-pipa
Famílias enfrentam fila várias vezes por dia para disputar a água trazida pelos caminhões-pipa


Dor e descanso Se pudesse, a doméstica Maria Lúcia Messa, de 40, iria de hora em hora até a fila que espera a água sobrar do caminhão-pipa que abastece a caixa d’água da Copasa. Mas as dores no peito e a pressão alta a fazem ter de descansar por horas seguidas do trabalho que tem de empurrar um carrinho de mão com dois galões de 20 litros que têm sido o que garantiu nos últimos dias a higiene, alimentação e matou a sede de sua família.

“Enfrento esta fila pelo menos seis vezes por dia. Se não for assim, não tenho água em casa. Nosso sofrimento é muito grande. Estávamos usando uma bomba do poço de um clube, mas ela queimou e só deve voltar a funcionar na terça-feira. Não dá para esperar cinco dias sem água”, reclama.

 

Captação também é problema

A captação de água 75% menor que a regular fez com que restasse apenas um filete do Córrego dos Paivas depois que suas águas são desviadas para matar a sede dos moradores de Pará de Minas. O nível do manancial, que hoje corre entre pedreiras cobertas de musgo seco e que faziam parte de seu leito, está dois metros abaixo do normal. No outro corpo d’água que abastece a cidade, o Córrego da Paciência, o reservatório tem apenas um palmo de água e expõe cerca de 1,80 metro de altura do barranco de terra nua que era coberto por sua linha d’água.

Tanto a Copasa quanto a prefeitura têm um plano de ampliação de captação que resolveria a situação pelos próximos 30 anos e deve ser licitado neste ano pela prefeitura, levando mais dois anos para ser concluído, enquanto a Copasa procura interessados numa parceria público-privada (PPP). Pelo projeto municipal seria preciso empregar R$ 80 milhões para canalizar e tratar a água do Rio Paraopeba por cerca de 25 quilômetros até Pará de Minas.

Pelo projeto da Copasa, seriam mais 200 litros por segundo a serem escoados do Paraopeba para a cidade. Na quinta-feira, a companhia lançou um procedimento de manifestação de interesse pelo qual espera atrair empresas para seu projeto de PPP. Enquanto isso, as pessoas vão dando provas de que não aguentam mais essa situação. “Não dá mais para meus meninos (filhos) e eu ficarmos batendo baldinho (trazendo e levando baldes dos caminhões-pipa). Pago minhas contas em dia e a da Copasa é de R$ 270. Isso é um descaso, um absurdo”, reclama a dona de casa Maria de Lourdes Monteiro, moradora do Bairro Seringueiras.


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