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Estado de Minas

Estudo mostra que cocaína comercializada em Minas é a mais "batizada" do Brasil

Exames mostra que pó apreendido em Minas tem giz, bicarbonato e talco, causando mais danos à saúde


postado em 04/04/2014 06:00 / atualizado em 04/04/2014 07:38

Apreensão em Montes Claros: mais de 70% das amostras mineiras encaminhadas pela polícia para análise têm menos de 20% de cocaína pura(foto: Solon Queiroz/Esp. EM - 29/8/13)
Apreensão em Montes Claros: mais de 70% das amostras mineiras encaminhadas pela polícia para análise têm menos de 20% de cocaína pura (foto: Solon Queiroz/Esp. EM - 29/8/13)

A cocaína mineira é mais “batizada”, como se diz na gíria do tráfico de drogas, em relação à média nacional. Pesquisa do laboratório do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com o Instituto de Criminalística (IC) de Minas Gerais, demonstrou que mais de 70% das amostras da droga apreendidas pela polícia e encaminhadas à análise do instituto levam menos de 20% de cocaína pura em sua composição. O resultado é inferior ao patamar de 15% a 36% da concentração de cloridrato de cocaína registrado no Brasil pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc).

Pó de giz, talco, bicarbonato e até pó de mármore são alguns dos diluentes usados pelos traficantes para fazer ‘render’ a droga em Minas. Segundo o estudo, como forma de ludibriar os usuários de cocaína, são ainda acrescentados à mistura adulterantes como a cafeína, encontrada em 76% das amostras analisadas. A cafeína garante aos usuários a desejada sensação de ‘estar ligado’. Da mesma maneira, 66,7% das amostras contêm o anestésico lidocaína, que tem o efeito de anestesiar as mãos.

As análises foram feitas em um estudo comparativo, observando os componentes de amostras recolhidas em Minas Gerais e no Amazonas. A primeira conclusão é a de que a cocaína no estado do Norte do Brasil apresenta pureza superior à apreendida em Minas. Em Minas, a quantidade de cocaína presente na maior parte das amostras não ultrapassa 50%, enquanto nas amostras amazônicas a concentração atinge até 70%. “O Amazonas faz divisa com países que são produtores primários, ou seja, plantam a folha de coca, extraem, purificam e revendem a droga. No processo de transporte, cada laboratório ou traficante vai aumentando o volume da droga, o que reduz a concentração de cocaína e aumenta o lucro”, explica a professora de química da UFMG Clésia Nascentes .

Para o psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade, presidente do Conselho Estadual Antidrogas, a ínfima concentração de cocaína encontrada nas amostras mineiras pela UFMG é surpreendente. Segundo ele, o que se espera é que a mistura atinja de 25% a 60%. “Socialmente falando, é bom que a cocaína não seja pura, porque o pó aumenta muito a agressividade dos usuários. Agora, quando se fala do usuário, as misturas trazem prejuízo individual, ocasionando malefícios definitivos à saúde”, afirma. Ele alerta que o acréscimo do pó de mármore à mistura é criminoso, podendo provocar graves lesões pulmonares, como a silicose.

TESTES

Em algumas da amostras analisadas em Minas, a concentração de cloridrato de cocaína é tão insignificante que impede a identificação da substância por meio do teste de colorimetria, que costuma ser feito diretamente nas delegacias, pelos técnicos das divisões de tóxicos e entorpecentes. “Geralmente o resultado dá negativo, e o traficante é solto por falta de provas. Em seguida, por lei, as amostras são encaminhadas ao instituto, que repete o teste com técnicas mais apuradas. Em 100% dos casos, reverte-se o resultado. No entanto, já se perdeu o flagrante, e a polícia terá de fazer novas investigações para chegar ao traficante”, alerta o perito criminal Rogério Lordeiro, do IC.


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