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Estado de Minas

Imagem guardada por décadas volta ao santuário da Serra da Piedade

Guardada por 30 anos, escultura do mineiro Alfredo Ceschiatti é instalada perto do acesso à ermida na Serra da Piedade, em Caeté. Estado anuncia R$ 2 milhões para obras no santuário


postado em 01/08/2013 06:00 / atualizado em 01/08/2013 06:43

Escultura de Nossa Senhora com o Cristo morto nos braços foi feita em 1983; autoridades no templo durante anúncio de recursos para obra(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
Escultura de Nossa Senhora com o Cristo morto nos braços foi feita em 1983; autoridades no templo durante anúncio de recursos para obra (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

 

Uma escultura de bronze do mineiro Alfredo Ceschiatti (1918-1989), guardada durante 30 anos, já pode ser vista a céu aberto na Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Instalada no meio de uma rotatória recém-construída, perto do restaurante e do acesso à ermida do século 18, a imagem de 1,70 metro mostra Nossa Senhora com o Cristo morto nos braços. Na manhã de ontem, depois da cerimônia de assinatura de convênio para restauração do Santuário de Nossa Senhora da Piedade – o governador Antonio Anastasia liberou recursos no valor de R$ 2 milhões, que se somam a R$ 200 mil de contrapartida da Mitra Arquidiocesa de Belo Horizonte –, o arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo explicou que a escultura foi feita, em 1983, a pedido de frei Rosário Jofylly (1913-2000), frade dominicano que ficou 51 anos à frente do santuário. Cerca de 150 mil peregrinos visitam a serra por ano e o local.

Entusiasmado com o restauro que já vai começar e com a escultura, dom Walmor disse que a rotatória, com um canteiro de flores brancas no meio, foi projetada para que os visitantes possam se sentar e contemplar a paisagem que, para ele, “é das mais bonitas do mundo”. A obra tem, na base, o ano (1983) e a assinatura de Ceschiatti. Na frente, há uma placa dourada com o título Nossa Senhora da Piedade. Feita especialmente para a Igreja Nova das Romarias, também no topo da serra, a peça ficou um tempo nesse templo, mas depois foi retirada por ser considerada muito moderna. No lugar, ficou outra mais piedosa, conforme os religiosos, dedicada à padroeira do estado e de autoria de Léo Santana. A solenidade comemorou ainda os 53 anos de proclamação de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas.

Guardada por 30 anos, escultura do mineiro Alfredo Ceschiatti é instalada perto do acesso à ermida na Serra da Piedade(foto: Gilberto Alves/Divulgação)
Guardada por 30 anos, escultura do mineiro Alfredo Ceschiatti é instalada perto do acesso à ermida na Serra da Piedade (foto: Gilberto Alves/Divulgação)
O convênio de cooperação técnica e financeira firmado ontem prevê a liberação de recursos via Secretaria de Estado do Turismo, acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) e execução da Mitra, com duração em torno de 10 meses. A ermida, cujo início da construção data de 1765, vai passar por uma reforma e manutenção, que inclui reparos das esquadrias em madeira, piso e forro, mantendo-se as características originais; construção de rampas de acesso à ermida, onde há escadarias, e restaurante; instalação de mais corrimãos no alto do maciço. E mais: iluminação externa e interna, redes hidráulica e elétrica, melhoria do sistema de comunicação e sonorização. O antigo espaço dos eremitas, o Erimitério Monsenhor Domingos, também vai receber intervenções. As ações estão previstas no decreto assinado ano passado por Anastasia, que declarou o conjunto paisagístico, artístico e cultural da serra Atrativo Turístico de Especial Relevância.

Na presença do governador, de cinco secretários de estado e outras autoridades, dom Walmor lembrou que um dos gargalos da visita à Serra da Piedade é a Rodovia BR-381. “A duplicação da rodovia é fundamental para facilitar a chegada de manhã, à tarde e à noite”, afirmou o arcebispo, que, nesse momento, recebeu muitos aplausos. “Estamos num lugar de fé, de grande força turística, cultural, riqueza peculiar e história de 300 anos. Este patrimônio é um caminho educativo. Trata-se de uma escola viva para a Igreja”, disse dom Walmor. Ele lembrou que a acessibilidade é importante, pois muitos visitantes são idosos ou portadores de necessidades especiais. Ao lado, o reitor do santuário, padre Nédio Lacerda, resumiu a condição da ermida: “Aqui é o coração do santuário”. Ressaltando que a BR-381 é uma rodovia federal, o governador disse que o estado fez obras na estrada de acesso ao topo da serra e na rodovia que a liga a Caeté.

História

Na manhã de ontem, no alto da Serra da Piedade, um vento cortante tornava pior a sensação de frio. De vez em quando, uma nuvem cobria o topo, aumentando a beleza da chamada “magnífica arquitetura divina” do santuário. Mesmo com a friagem, nada tirou o brilho da cerimônia, que começou às 10h e foi realizada em frente à ermida do século 18 que guarda a imagem esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814).

A fama do maciço teria começado entre 1765 e 1767, conforme a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. Nesse momento, a menina teria recuperado a fala. Na sequência, em 1773, o templo seria construído pelo ermitão português Antônio da Silva, o Bracarena. Nessa história de quase três séculos, devem-se destacar personagens importantes, caso de padre José Gonçalves, irmã Germana; frei Luís de Ravena, monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, com suas religiosas auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, cardeal Motta, e frei Rosário Jofylly e o missionário italiano padre Virgílio Resi.


Caminho religioso tem nova etapa

Tombada pelo estado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP), onde está a imagem da protetora do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Na manhã de ontem, o governador Anastasia determinou o início das obras da segunda etapa de implantação da rota. O projeto completo, com investimento de R$ 1,7 milhão, visa a apropriação turística do patrimônio da Estrada Real numa extensão de 1 mil quilômetros.

O secretário de estado do Turismo, Agostinho Patrus, afirmou que o serviço para sinalização do caminho está licitado, devendo ser instaladas 1,9 mil placas no percurso. Como o trajeto poderá ser feito de carro, a pé, de bicicleta e a cavalo, algumas providências estão sendo tomadas, como implantação de bicicletários, estrutura locais para turmas de cavalgada, quiosques e bebedouros. “Escolhemos as rotas que fogem das estradas asfaltadas. Quem sair da Serra da Piedade, por exemplo, percorrerá caminhos de terra até Sabará, Ouro Preto, Mariana e outras cidades de passado colonial”, disse Patrus, destacando que o governo de São Paulo também está envolvido no projeto e vai colocar igualmente placas de sinalização.

Para facilitar a vida de quem percorrer o Crer, disse Patrus, será lançado um guia dirigido aos visitantes, contendo mapas e informações sobre hospedagem, alimentação e aspectos fundamentais. Outra novidade é que os caminhantes terão um documento, tipo passaporte, que será carimbado nas paróquias e valerá, no fim, um diploma. O projeto é baseado no Caminho de Santiago de Compostela, entre a França e Espanha, num total de 750 quilômetros. Em Minas e São Paulo, serão beneficiadas 86 cidades, sendo 37 na rota principal (32 em Minas e cinco em São Paulo) e 49 na área de influência.


SAIBA MAIS: Parceiro de Niemeyer
Filho de imigrantes italianos, Alfredo Ceschiatti nasceu em Belo Horizonte. Escultor, desenhista e professor, ele viajou para a Itália, em 1937, beneficiado por um programa governamental do país europeu e, no retorno, fixou-se no Rio de Janeiro, estudando na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1945, foi premiado no Salão Nacional de Belas-Artes pelo baixo-relevo do batistério da Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte. Naqueles tempos, conheceu Oscar Niemeyer (1907-2012), que lhe encomendou uma escultura para a Pampulha. Ceschiatti criou então O abraço. Em 1960 esculpiu, em granito, As três Forças Armadas, um dos temas no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio. Em nova parceria com Niemeyer, tornou-se o principal escultor de Brasília, com destaque para As banhistas, em bronze, no espelho d'água do Palácio da Alvorada; A Justiça, em granito, em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal; Os anjos e Os evangelistas, na Catedral Metropolitana; As gêmeas, em bronze, na cobertura do Palácio Itamaraty; Anjo, em bronze dourado na Câmara dos Deputados; A contorcionista, no foyer da Sala Villa-Lobos. Na cidade, fez parte da Comissão Nacional de Belas Artes e foi professor de escultura e desenho na UnB.


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