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Estado de Minas

Cachorra ecológica recolhe garrafas nas ruas da capital

Animal da raça cocker spaniel encanta moradores de dois bairros da Região Centro-Sul de BH ao recolher na rua garrafas plásticas para os donos reciclar em casa


postado em 20/04/2013 06:00 / atualizado em 20/04/2013 07:08

Nala (E) foi treinada pelos donos, o austríaco Adalbert Bernhard e a psicóloga brasileira Mércia Bernardes(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Nala (E) foi treinada pelos donos, o austríaco Adalbert Bernhard e a psicóloga brasileira Mércia Bernardes (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Com suas orelhas redondas e olhar esperto, uma cocker spaniel malhada tornou-se a atração entre os adeptos das caminhadas dos bairros São Bento e Santa Lúcia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Batizada originalmente de Nala, a cadela recebeu dos moradores o apelido de cachorrinha da reciclagem, porque sempre teve o hábito de carregar uma garrafa plástica na boca. Ela não pode ver uma embalagem vazia descartada nas ruas. Seguindo o próprio faro, recolhe o recipiente entre os dentes e o carrega por quilômetros até chegar em casa, onde será devidamente reciclado pelos donos, o professor de idiomas austríaco Adalbert Bernhard, o Adi, de 65 anos, e a psicóloga Mércia Bernardes, de 61.


Faz nove anos que esse gesto se repete, durante a caminhada diária do casal, tornando-se difícil calcular quantos PETs a cachorrinha já retirou do meio ambiente. “Não há como dizer isso sem parecer chavão, mas, se cada um fizer uma pequena parte, acaba ficando grande”, explica Mércia. Ela conta ainda que a generosidade do animal desperta o melhor sentimento nos vizinhos da pista de cooper: “As pessoas estão sempre sorrindo para nós, elogiam a iniciativa”. De origem perdigueira, a cocker queria levar para casa todas as embalagens que encontrava jogadas nas praças e ruas. Nala queria “reciclar” latas de alumínio e até garrafas de vidro, como cascos de cerveja. Preocupados com sua segurança, os donos a treinaram a pedir permissão antes de catar a garrafa. Se for de água mineral ou refrigerante, está liberado. Se for de detergente ou inseticida, sinal vermelho.

Nala enche os donos de orgulho e provoca ciúmes na golden retriever Bah, que deveria chamar mais atenção pelo tamanho e cor caramelo, além da bandana roxa na coleira. “Ela até tenta tomar a garrafa da outra, mas Nala é mais danadinha e sempre vence a disputa. Por ser de uma raça de cães caçadores, a cocker tem por instinto sempre carregar algo na boca. Já a outra não consegue”, comparam os donos, sem esconder a satisfação com o animal. Como se prestassem atenção na conversa, as duas iniciam uma divertida briga pela garrafa de água mineral azul. Bah se aproveita de uma distração de Nala, toma a embalagem para si e corre na frente, em disparada. Mas a dianteira dura pouco e logo Nala retoma seu troféu, que Bah deixa escapar da boca.

O comportamento de Nala é um espelho da convivência com os donos. Segundo Adi, que ostenta a bandeira brasileira no chapéu de lona de abas largas, reciclar seria equivalente a respirar na Áustria. O costume já está incorporado na cultura do país nórdico desde os anos 1980. “Cada casa na Áustria tem em frente lixeiras nas cores amarela, verde, azul, vermelha e preta. Todas as pessoas separam o lixo durante uma semana e, em um dia definido, passam os lixeiros. No Brasil, ainda não funciona assim”, compara.

Coisas do Brasil

Entre coisas que não funcionam em BH, Adi inclui o trânsito e os bancos. “Às vezes a burocracia aqui me estressa muito, mas existem compensações como o futebol. Aqui, qualquer time de bairro derruba a Seleção da Áustria”, brinca. “Tem também a cultura, o artesanato, a música, a comida e o clima”, exalta Adi, que prefere caminhar sob o sol, com o cuidado de usar chapéu e protetor solar para proteger a pele clara. Ele e Mércia, nascida no Brasil, se recusam a mudar para a Europa por causa do frio. “Ele me fez ver o Brasil com outros olhos e a valorizar o verde. Na Áustria, na maior parte do ano a vegetação está coberta por neve. A paisagem é branca, com alguns pinheiros. Só nascem jardins no verão”, explica Mércia.

A brasileira pactuou com o marido adotar a prática da reciclagem no apartamento onde moram, no Santa Lúcia. Os dois estão no segundo casamento e se conheceram por intermédio da troca de e-mails, apresentados por uma amiga em comum. Maravilhado com o Brasil em viagem anterior de negócios, Adi interessou-se em conhecer o idioma antes de voltar ao país. Iniciou uma conversação a distância com Mércia e descobriram interesses em comum. Antes de se aposentar, ambos atuavam no setor de recursos humanos nos países de origem. Ele é engenheiro de formação. “Lembro-me até hoje que levei uma hora para escrever o primeiro e-mail de três linhas para a Mércia, consultando diversos dicionários. Guardo até hoje a mensagem”, conta.

Com Mércia, o austríaco aprendeu a falar o português (apesar do sotaque carregado) e a amar os cães. Protetora dos animais, a psicóloga recolhe muitos abandonados na rua e cuida deles. A mãe de Nala foi achada na Barragem Santa Lúcia, grávida, atolada na lagoa, em época de forte estiagem. Estava anêmica e recebeu todos os cuidados de Mércia, que esperava acolher uma ninhada cruzada de vira-latas. Para sua surpresa, porém, nasceram seis filhotes de cocker spaniel, entre eles a malhada, que chegou a ser doada para uma família e depois devolvida, já batizada de Nala (a namorada do rei Leão no desenho animado de mesmo nome da Disney). “Pegamos para criar, porque ela não podia ficar mudando de casa toda hora. Gosto muito dos cães e meu companheiro assimilou bem isso. Eles interagem com a gente, dão suporte quando a gente precisa. São as nossas meninas, a nossa nova família, agora que os filhos se tornaram adultos”, define.


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