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Estado de Minas DE TEMPLO DO VÍCIO A CASA DE ORAÇÃO

Casa usada como cracolândia se transforma em local de oração em BH


postado em 17/03/2013 06:00 / atualizado em 17/03/2013 07:18

 

Almir deixou o crack e a bebida por conta própria e agora auxilia os amigos a fazer o mesmo(foto: cristina horta/EM/d.A Press)
Almir deixou o crack e a bebida por conta própria e agora auxilia os amigos a fazer o mesmo (foto: cristina horta/EM/d.A Press)

 “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…” Quem entrava nessa casa no Bairro Serra Verde, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, usada como cracolândia por até 50 viciados, ficava sem chão. “Na loucura das drogas, os caras furavam as paredes, subiam no telhado, destruíam tudo”, revela o porteiro Almir Alves dos Santos, de 33 anos, que frequentou o lugar por cinco anos. Diante do cenário de horror, os vizinhos chamaram a polícia, acionaram a Justiça, mas não havia jeito de intervir no caso, por se tratar de propriedade particular.

A resposta ao impasse veio de Almir, o primeiro a deixar a chamada casolândia do Serra Verde. Depois de recuperado das drogas, ele voltou ao local para buscar os amigos, entre eles o dono do imóvel, Oswaldo Santos, de 40 anos. Com um histórico de três overdoses, Santos estava entregue aos efeitos do crack. “Ele tinha desistido de viver. Estava muito magro e não tomava banho. Sem dinheiro, abria as portas da residência a quem oferecia um pedaço de pedra ou um gole de cachaça. As pessoas foram entrando e a casa foi enchendo”, explica Almir. E completa: “Com o uso da pedra, a pessoa se torna antissocial, deixa de trabalhar, larga a família e se isola no meio do lixo, vivendo como mendigo”.

A casa caiu, como se diz na gíria, quando até o dono do barraco bateu em retirada. Com o esvaziamento da boca de fumo, 10 usuários saíram direto para a internação, cinco voltaram para o estado de origem (São Paulo) e os outros seguiram o próprio rumo, de um total de 43 pessoas identificadas no local. Almir foi o único que não precisou de tratamento na clínica. Parou por conta própria com o crack e o álcool. “Decidi mudar minha história em função dos meus filhos. Era um domingo de manhã e eu já estava bebendo cachaça. Minha filha de 6 anos pediu água. Dei o copo e ela pediu para tomar daquela outra ‘água’ do papai. Naquele dia, decidi que seria um pai diferente”, conta ele, que vai ser pai de novo daqui a dois meses.

Na semana que vem, uma caçamba vai parar em frente a Rua Maria José Duarte, 93. O lixo começará a ser recolhido do espaço, que será reformado em regime de mutirão, com a ajuda dos ex-dependentes químicos que costumavam se reunir no endereço. O grupo promete arregaçar as mangas e reconstruir a única moradia de Oswaldo, que não pode voltar a viver nas mesmas condições de antes, sob risco de ter uma recaída. Além de resgatar a antiga casa de Oswaldo, conhecido entre os amigos como Ticão, vai passar a funcionar ali uma casa de oração. “Desde que dobrei meus joelhos diante de Jesus, eu me transformei. Sou da opinião que não adianta fugir para um lugar distante das drogas, pois os jovens fumam embaixo da minha janela”, diz Almir, que se tornou agente social depois de várias passagens pela polícia por assalto a casas lotéricas e roubo à mão armada em Belo Horizonte.


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