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Estado de Minas

Milhares de foliões provam que BH tem vocação para carnaval, mas falta planejamento


postado em 14/02/2013 06:00 / atualizado em 14/02/2013 07:11

Avenida sempre deserta em outros carnavais, a Afonso Pena, no Centro de BH, foi ocupada por milhares de foliões este ano(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
Avenida sempre deserta em outros carnavais, a Afonso Pena, no Centro de BH, foi ocupada por milhares de foliões este ano (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)


A famosa frase “No carnaval, pode-se andar pelado pela Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, porque ninguém verá” acaba de cair por terra. Este ano, a capital mineira provou ter redescoberto sua vocação para a folia e, em nome de Momo, pelo menos 72 blocos arrastaram multidões pelas ruas da cidade nos quatro dias da festa, 30 além do número cadastrado antes da folia pela Belotur. Foram tantas pessoas que nem as autoridades nem os próprios organizadores têm a real dimensão do número de foliões. Sabe-se apenas que todo o planejamento foi feito para uma quantidade bem inferior e, no fim, todos foram pegos de surpresa.

O máximo esperado para um bloco eram 1,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, mas o público chegou a 12 mil. Na mesma proporção os problemas se ampliaram. Falta de banheiros químicos, sujeira e até moradores bloqueados em suas garagens causaram muitos transtornos. Diante do potencial mostrado, prefeitura e organizadores caminham para pensar grande e evitar os mesmos erros em 2014.

A Belotur vai convocar, na semana que vem, reunião com os responsáveis pelos blocos, com carnavalescos e os representantes do Conselho de Monitoramento da Violência em Eventos Esportivos e Culturais (Comoveec) para discutir a folia do ano que vem. O conselho é formado por autoridades, como polícias Civil e Militar, Guarda Municipal e fiscalização.

O presidente da Belotur, Mauro Werkema, informou que 42 blocos estavam cadastrados. Dentro dessa expectativa, foram instalados 650 banheiros químicos em locais diversos. Para o Bairro Santa Teresa, na Região Leste de BH, um dos locais de maior aglomeração de foliões e para onde estavam previstos oito blocos, foram destinados 19. Mas a folia cresceu e a Praça Duque de Caxias e arredores receberam 12 mil pessoas por dia e muito mais blocos. Resultado: número de banheiros insuficientes, um plano de trânsito que não contemplou a demanda, muitos ambulantes vendendo garrafas de vidro sem fiscalização, garagens bloqueadas e até moradores se desentendendo com foliões. Foi preciso, de última hora, pôr mais 26 banheiros para dar conta de tanta gente e reforçar o policiamento.

Redes sociais

Na Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, o Approach reuniu 10 mil pessoas e os problemas foram visíveis. Na Savassi, a multidão foi refém também da falta de infraestrutura. No Bairro de Lourdes, o Baianas Ozadas, que esperava um público entre 100 a 500 pessoas, recebeu entre 8 mil e 10 mil. “Temos de fazer uma reflexão sobre esse fenômeno que está ocorrendo para nos prepararmos para o ano que vem. “Será que o mineiro venceu sua dificuldade antropológica e se entregou ao carnaval? Ou foram as redes sociais?”, questiona Mauro Werkema. “Estamos diante desse acontecimento e cabe a nós, da prefeitura, compreender esse fenômeno e tomar medidas objetivas”, acrescenta.

A PM concorda com uma readequação. O comandante de Policiamento da Capital, coronel Rogério Andrade, conta que foi preciso remanejar policiais para dar conta do público, já que o número final de foliões superou em muito a previsão inicial. Ele acredita que parte disso foi causada pelas redes sociais. “A internet não nos deixa fazer um cálculo seguro. Para assegurar um nível de controle, teremos de ter um planejamento contemplando muito mais gente que o esperado”, afirma.
O coronel diz que, apesar da grande quantidade de pessoas, foi uma festa pacífica. “É importante a atenção dos organizadores em alguns pontos, como não permitir garrafas nos locais de dispersão, ambulantes trabalhando sem fiscalização e instalar lixeiras”, avaliaw. Foi um carnaval de alegria, seguro, as pessoas se divertiram realmente, mas pode ter uma infraestrutura melhor para que a comunidade local não seja pega de surpresa”, ressalta.

Cinzas

O carnaval de rua continuou nessa quarta-feira em BH. Quatro blocos saíram depois do meio-dia no Bairro Santa Tereza. Com participação enxuta de foliões, a maioria de trabalhadores autônomos e estudantes, os blocos atraíram pessoas com energia e disposição para aproveitar o rescaldo da festa. “Mais que uma retomada do carnaval, o que estamos fazendo é uma inovação”, afirmou Sandra Leão, 25 anos, estudante de música e criadora do Blocolorido. Ela hospedava em casa amigos cariocas e paulistas.

“BH está a pulsar”, resumiu o restaurador português David Arranhado, de 28 anos. Ele mora na capital há quatro anos com a mulher, a estudante de arquitetura Juliana Valente, de 24, mas, nesse período, costumava fugir para Olinda ou cidades do interior de Minas. Este ano, decidiu ficar em BH e não se arrependeu. “A festa aqui é mais espontânea, não vai na onda”, compara o português. E a mulher completa: “Por ser uma manifestação nova, há mais liberdade para criar”.

Ocupando espaços

Sarah Assis, Janaína macruz e Guto borges
Organizadores de Blocos

 

(foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
(foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
No mesmo ano em que BH ganhou mar, moradores decidiram reavivar o carnaval. Em 30 de janeiro de 2010, em trajes de banho, uma pequena multidão transformou em balneário a tradicional Praça da Estação, rebatizada então como Praia da Estação. Inspirados pelo evento e convictos de que espaços públicos deveriam ser mais bem aproveitados, alguns jovens criaram blocos e saíram pelas ruas com  marchinhas e fantasias. 2010 é o marco do renascimento do carnaval de BH, segundo organizadores de novos blocos. “A Praia da Estação e o carnaval têm a mesma preocupação: retomar o valor da vida comunitária na cidade”, avalia o historiador e músico Guto Borges, de 30 anos, participante da nova fase da festa momesca.

Em 2013, ele diz que integrou a equipe de “uns 15 blocos”, como o Tico-Tico Serra Copo e o Mamá na Vaca. Os jovens à frente desse movimento exibem traços em comum. Costumam ter entre 20 e 30 anos, são de classe média e universitários, quando já não têm diploma. E muitos são produtores culturais ou artistas. A maioria ajuda a “puxar” mais de um bloco. “Os amigos ajudam uns aos outros, é tudo coletivo. O que precisar, a gente apoia”, diz a produtora cultural Janaína Macruz, de 30, co-organizadora do Alcova Libertina e do Manjericão. “Em 2012, a gente sacou que BH tinha virado uma cidade de carnaval, mas não esperava que a festa fosse crescer tanto”, diz. Desde 2010, os blocos se multiplicaram. Em 2012, cerca de 40 desfilaram em BH. A divulgação é feita no boca a boca e na internet, pelas redes sociais, como Facebook e Twitter. “O novo carnaval de BH surgiu de forma espontânea, com amigos que se juntaram para criar os blocos”, avalia a coorganizadora do Bloco Tico -Twico do Serra Copo, Sarah Assis. (Tiago de Holanda)

 

 

Balanço da festa

O QUE DEU CERTO

Animação

Convivência pacífica

 Grande diversidade de blocos

O QUE DEU ERRADO

Número insuficiente de banheiros químicos

 Falta de lixeiras

lPlano de trânsito não atendeu a demanda


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