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Estado de Minas

Moradores já deixam pertences em sacos plásticos para enfrentar enchentes em Betim

Família que teve a casa invadida pelas águas do Rio Paraopeba já se preparam para mais uma temporada de chuva


postado em 12/11/2012 14:37 / atualizado em 12/11/2012 15:17

Às margens do Córrego Bandeirinhas, que deságua no Rio Paraopeba, a residência da dona de casa Maria José Campos, de 60 anos, é sempre a primeira da Rua São Geraldo, na Colônia Santa Izabel, em Betim, a ser alagada. Nos primeiros dias de janeiro, a equipe do Aqui Betim a acompanhou, junto com seu marido, retirando às pressas os móveis de dentro de casa e depois tentando tirar barro e sujeira de dentro do local. Foi durante a madrugada de 1º de janeiro que o barracão em que o filho do casal morava, com esposa e três filhos, foi invadido pelas águas, fazendo com que eles fossem embora, carregando nada mais que o essencial. O barracão ainda fica nos fundos da casa de Maria José e a chegada das águas lá era o aviso de que também era hora dela ir embora. Era esse o início de mais uma jornada em abrigos, realidade que a dona de casa infelizmente conhece muito bem.

Foram cerca de 20 dias vivendo de forma improvisada em um cômodo alugado por um vizinho, em uma parte do bairro que permaneceu seca. Ela e a família do filho pagaram juntos, na época, R$ 200 pelo aluguel temporário e já procuram novamente um lugar caso o rio volte a subir. Os pertences também já estão organizados e os sacos plásticos comprados. Depois de quase 20 anos morando às margens do rio, a família já sabe ler os sinais que ele dá quando vai subir e, por isso, se prepara sempre para o pior. Mas Maria José não é a única que vê com medo a chegada do fim de ano. Assim como ela, todos os moradores ribeirinhos da Colônia Santa Izabel se preparam emocionalmente para a chegada das chuvas, temendo pela repetição de um dos piores episódios da história recente do local. Na reportagem de hoje da série sobre chuvas você irá conhecer o relato de alguns desses moradores.

Localizada em uma das curvas do córrego, a casa de Maria José foi protegida por um murro de arrimo, feito em parceria pela prefeitura e pela Copasa, que também fez um sistema de drenagem pluvial na rua. Todo o bairro ganhou bueiros e sistema de drenagem, mas o esgoto continua sem tratamento, indo direto para os rios. Dentro de casa, os moradores também gastaram. Maria José teve a casa trincada, fez a substituição de vigas do telhado, pintou a casa e substituiu os móveis de madeira por de alvenaria. O primeiro a ser trocado foi o sofá da sala, que agora é de concreto e cerâmica. “Ainda vou fazer armários para a cozinha, guarda roupa e até a cama. Vou trocar tudo que puder, assim quando a água subir é só juntar as panelas e ir embora. A água não espera ninguém.”

A aposentada Regina Mazine da Fonseca, de 73 anos, também mexeu nas economias que tinha para construir uma segunda casa no andar de cima de sua residência. “Ano passado, a Defesa Civil avisou sobre os riscos, mas não acreditei. Quando o rio encheu, a água invadiu minha casa e tive de sair correndo. Não perdi nada, porque tive ajuda para tirar minhas coisas daqui, mas não quero passar por tudo de novo. Se Deus quiser, até o fim deste mês termino a obra e coloco todos os móveis no andar de cima”, espera a aposentada.

Investimento contra a enchente

A dona de casa Aparecida de Fátima Ribeiro, de 45 anos, também investiu um pouco na casa para se preparar para a chuva. Ela e a família, que inclui um idoso de 82 anos, moram na Rua São Geraldo em uma área que rapidamente fica alagada em época de cheia. Na última inundação, a água invadiu todo o primeiro andar, subindo 40 centímetros do segundo pavimento também, o que obrigou a família a por todos os móveis no sobrado. Em seu ápice, o nível do córrego subiu quatro metros e meio. “Até hoje temos as marcas. A gente fez um puxadinho no terraço para evitar perdas e auxiliar os vizinhos. Conseguimos também um bote emprestado, porque sempre ficamos ilhados.”

Ano passado, somente o marido de Aparecida ficou para cuidar dos pertences da família. Esse ano, com a expansão do sobrado, ela diz que todos ficam. “Em 2008 colocamos os móveis no sobrado e saímos, mas fomos saqueados.” Além do bote e das obras, a família já começou a organizar os pertences e, em breve, começará a estocar mantimentos. “O que a gente mais se preocupa é com água potável. Sempre falta água e energia”, comenta. “Por mim, a gente não estaria mais aqui, só que não temos para onde ir. O meu temor é piorar, porque a gente nota que, pelos nossos atos, pode ser que a cada ano piore”, conclui.

Temeridade

Sem condições para investir em mudanças, a cabeleireira Maria Aparecida Reis teme pelo pior. No início do ano, a casa em que mora foi tomada pela água. As paredes ainda ostentam as marcas da água barrenta que deixou marcas de mais de dois metros de altura. “Não deu tempo de tirar nada. Quando vi, a água já estava no quintal e invadiu tudo.” Com a força da enchente, as paredes e o telhado foram danificados e todos os móveis, eletrodomésticos e roupas foram jogados fora. Ao longo do ano, a família vem tentando a todo custo remendar a casa, com várias rachaduras. No entanto, a Defesa Civil já alertou Maria Aparecida sobre os riscos. “Eles disseram que vão ter de derrubar, mas a gente não deixou, porque não temos para onde ir”, lamenta a mulher que já não dorme direito desde que as primeiras nuvens carregadas começaram a surgir. “Às vezes, são 2h da manhã e estou lá na ponte para ver se o rio está subindo. Tenho muito medo. Se pudesse venderia este lugar, mas não quero passar para frente o sofrimento que passei aqui”, desabafa.

Clima de medo

Quase um ano depois de uma das piores inundações que a Colônia Santa Izabel já viu, a casa do aposentado Josenil Lucas, de 53 anos, também tem as marcas das águas do Rio Paraopeba que subiram quase três metros, em todas suas paredes. Localizada na Rua Ana Neri, o imóvel tem um vizinho que entra sem bater e destrói tudo por onde passa. No quintal, que fica às margens do rio, as árvores ainda carregam sacolas e um pouco de lixo trazidos pela última enchente. Do lado de dentro, as paredes descascadas e a tinta marcada por infiltrações são exemplos do descontentamento de uma família que vive em clima de medo. “A gente fica muito aflito vendo aquela água. É uma das piores coisas da vida ter a casa alagada. Já estou preocupado. De que adianta ter uma casa desse tamanho se todo ano a gente tem que correr? A gente não pode ter nada, porque trabalha e daí a um ano joga tudo fora”, diz o aposentado que ainda tem esperança de ser indenizado pela casa e mudar para longe. A chuva já vinha castigando a cidade quando o rio começou a subir.

Esse foi o sinal para a família do aposentado começar a empacotar os pertences pessoais. Contudo, foi só quando a água já chegava aos degraus da cozinha, nos fundos da casa, que a família saiu, à pedido da Defesa Civil. A família ficou alojada, como em anos anteriores, em uma escola. “A prefeitura ajudou muito. Para limpar foi a maior dureza. Precisamos da ajuda da Defesa Civil e de um caminhão pipa. A gente perde muita coisa. Só de ter que mudar móvel de lugar já estraga, perdemos fogão, guarda-roupa, um bocado de coisa. O que dava para carregar a gente levou.”


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