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Estado de Minas

História do fotógrafo que registrou o cotidiano de Itabira nos séculos XIX e XX é reeditada em livro

Setenta e cinco anos depois de sua morte, o itabirano Brás Martins da Costa tem, pela segunda vez, obra reeditada com fotos feitas na terra de Drummond, entre 1895 e 1910


13/10/2012 08:21 - atualizado 13/10/2012 08:51

Grupo de tropeiros na então Itabira do Mato Dentro, caminho natural para as entranhas de Minas(foto: Bras Martins da Costa / Divulgacao )
Grupo de tropeiros na então Itabira do Mato Dentro, caminho natural para as entranhas de Minas (foto: Bras Martins da Costa / Divulgacao )

Entre o fim do século 19 e as primeiras três décadas do século 20, em Itabira do Mato Dentro, hoje Itabira, Região Central de Minas, um homem chamado Brás Martins da Costa – latinista, jornalista, tabelião, juiz de paz e, sobretudo, um boa-praça – tinha uma câmera Pony Premo. Com essa máquina fixada num tripé, equipamento pesado e difícil de ser carregado – mas principalmente com muitas ideias na cabeça e uma sensibilidade incomum –, ele foi fotografando, com paciência e engenho (a produção mais intensa aconteceu entre 1895 e 1910), o cotidiano da cidade, que na época tinha pouco mais de 7 mil habitantes na área urbana. Tirou retratos de tropeiros se preparando para mais uma jornada sertão adentro, de enterros de gente grande e de anjinhos, de fiéis levantando uma pesada cruz, de procissões nas tortuosas ruas de pedra e casario antigo, de casamentos, bandas de música e até de Carlos Drummond de Andrade, então com dois anos, e que tempos depois iria correr o mundo, tornando-se a sua obra mais famosa.

Brás Martins da Costa, latinista, jornalista, tabelião e juiz de paz, retratado por ele mesmo(foto: Bras Martins da Costa / Divulgacao )
Brás Martins da Costa, latinista, jornalista, tabelião e juiz de paz, retratado por ele mesmo (foto: Bras Martins da Costa / Divulgacao )
Ao morrer, em 1937, com 71 anos de idade, vítima de uma fulminante ataque cardíaco, o “Tio Brás”, como era carinhosamente chamado em Itabira, onde todo mundo o conhecia, havia deixado para a posteridade um precioso acervo com cerca de 350 negativos. Em 1982, depois de terem sido disponibilizados pela família, começaram a ser pesquisados pelo jornalista Robinson Damasceno Reis, pelo engenheiro Altamir José de Barros e pela historiadora Mariza Guerra de Andrade. O resultado do trabalho, feito com dificuldade na época, foi a publicação, no mesmo ano, do livro No tempo do Mato Dentro, do qual Drummond gostou tanto que escreveu o poema “Imagem, terra, memória”, com o qual saúda o fotógrafo: “Vai-me guiando Brás Martins da Costa/Sutil latinista/fotógrafo amador/repórter certeiro/preservador da vida em movimento./Vai-me levando ao patamar das casas/ao varandão das fazendas/ao ínvio das ladeiras/à presença patriarcal de seu Antônio Camillo...”.

Passados 30 anos da sua publicação, o livro, agora com o nome Retratos na parede, ganha uma nova edição, pela Editora Autêntica, e vem com 250 fotografias, além do poema de Drummond, numa perfeita sintonia com a obra de Brás Martins da Costa. De acordo com a editora, todos os negativos, depois de digitalizados, foram também higienizados, para que continuem em bom estado de preservação.

Carlos Drummond de Andrade, com 2 anos, é a obra mais importante do fotógrafo itabirano(foto: Bras Martins da Costa / Divulgacao )
Carlos Drummond de Andrade, com 2 anos, é a obra mais importante do fotógrafo itabirano (foto: Bras Martins da Costa / Divulgacao )
Para a professora Mariza Guerra de Andrade, autora do ensaio “Certo aluvião de memórias”, escrito especialmente para essa edição, toda a sociedade itabirana da época em que as fotos foram feitas está retratada no trabalho do artista. “Retém-se diante dessas imagens construídas por Brás Martins da Costa acompanhadas pelas do narrador Carlos Drummond de Andrade, na sua aventura da memória, a nítida impressão de que elas foram trabalhadas também com forte senso de sociedade”, escreveu.

 

Serviço
Retratos na parede, de Brás Martins da Costa, organização de Altamir José de Barros e Robinson Damasceno, coordenação editorial de Mariza Guerra de Andrade, Editora Autêntica, 176 páginas, R$ 79, lançamento dia 18, às 19h, no Crea-Cultural, 1º subsolo, Avenida Álvares Cabral, 1.600, Santo Agostinho. Informações: (31) 3222-6819.

LINHA DO TEMPO
1866: Brás Martins da Costa nasce na Fazenda do Rosário, em Bom Jesus do Amparo. Era filho do guarda-mor Custódio Martins da Costa e de Anna Cândida Teixeira da Motta
1895: De posse de uma câmera Pony Premo , o fotógrafo trabalha com intensidade, documentando, com suas fotos, toda a sociedade itabirana da época
1900: Brás Martins da Costa fotografa Carlos Drummond de Andrade, então com dois anos de idade. Essa se tornaria a sua foto mais famosa, hoje conhecida em várias partes do mundo
1910:  Brás Martins da Costa, em Itabira, foi um dos mais entusiasmados cabos eleitorais de Ruy Barbosa na sua campanha para a Presidência da República
1937: Às 10h do dia 12 de janeiro, Brás Martins da Costa morre em Itabira, que chora a perda do filho ilustre
1982: Suas fotografias são reunidas no livro No tempo do Mato Dentro,e a respeito Carlos Drummond Andrade, escreve o poema “Imagem, terra, memória”
2012: Trinta anos depois de ter sido publicado, agora com o nome de Retratos na parede, o livro com as fotografias de Brás Martins da Costa ganha uma nova edição, pela Editora Autêntica


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