Habitar um mundo dominado pela escrita sem compreendê-la é como viver no escuro, na eterna dependência da ajuda alheia para decifrar o código que dá acesso à vida social. Embora o analfabetismo tenha sido sobreposto por uma infinidade de siglas – Enem, Sisu, ProUni, Reuni, Ideb – e se tenha a impressão de que o problema está resolvido, muitos brasileiros ainda têm uma vida com pouca oportunidade de crescimento pessoal e profissional pela falta de acesso à educação. O país tem 13,9 milhões de analfabetos com mais de 15 anos, 10% da população. Em Minas, 1,6 milhão de pessoas não sabem ler e escrever (8,3%). Já Belo Horizonte amarga o maior número de analfabetos entre as capitais do Sudeste: são 69.183 pessoas, quase 3% da população, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por trás dos números estão histórias de vida forjadas pela falta de acesso à educação básica. Perdidas num emaranhado de letras, é impossível para essas pessoas fazer transações bancárias, preencher documentos e fichas para emprego sem ajuda. Apesar de invisíveis num país que cresce a passos largos e ostenta PIB de R$ 4 trilhões, os analfabetos existem e tentam superar as regras impostas pela condição sócioeconômica familiar. Gente como Cledison Santos do Nascimento, de 21 anos, que desembarcou em BH à procura de oportunidade em 2009 trazendo apenas as roupas e uma lata com farofa preparada pela mãe.
Mesmo tropeçando nas letras, em três anos ele conseguiu emprego de operador de betoneira, trouxe a mãe e os seis irmãos do interior da Bahia e hoje aprende o beabá na esperança de que isso lhe traga mais oportunidades. Mais velho de seis filhos, trabalha desde os 12 anos para ajudar a mãe a criar os irmãos. Aprendeu a ler sozinho, montando as letras. “Mas era muito difícil. Agora é que estou ‘desembolando’. Na escola não se aprende só a ler e a escrever, mas também a conversar e a ter o respeito das outras pessoas”, diz o jovem, que faz o equivalente ao ensino fundamental do curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sindicato da Construção Civil em parceria com o Sesi.
Dependência
“Ser analfabeto é como ser cego. Se você não sabe ler, não segue o próprio rumo. Vai ser uma bênção quando eu estiver lendo e escrevendo”, diz Joaquim Rodrigues Barbosa, de 49. Vindo do Vale do Mucuri, o operador de guincho já perdeu muitas oportunidades de trabalho. “Quero ter mais liberdade e não precisar pedir nada a ninguém. As pessoas têm muito preconceito e poucas são de confiança”, revela.
O que Joaquim busca, Júlia Martins Silva, de 52, experimentou há pouco. “Foi no ônibus que li a primeira palavra grande, ‘cidade administrativa’. Nunca mais vou esquecer isso”, comemora a bordadeira, que há quatro meses frequenta o EJA da Universidade Federal de Minas Gerais, para compensar a falta de oportunidade da infância. Para conseguir emprego, Júlia sempre omitiu a dificuldade, pois sabia que isso podia prejudicá-la. Conversada, fez da comunicação oral uma arma. “No serviço sou uma pessoa inteligente e gosto de aprender. Acho que o principal é falar bem e prestar atenção no que está acontecendo no mundo, na realidade”, comenta.
Por trás dos números estão histórias de vida forjadas pela falta de acesso à educação básica. Perdidas num emaranhado de letras, é impossível para essas pessoas fazer transações bancárias, preencher documentos e fichas para emprego sem ajuda. Apesar de invisíveis num país que cresce a passos largos e ostenta PIB de R$ 4 trilhões, os analfabetos existem e tentam superar as regras impostas pela condição sócioeconômica familiar. Gente como Cledison Santos do Nascimento, de 21 anos, que desembarcou em BH à procura de oportunidade em 2009 trazendo apenas as roupas e uma lata com farofa preparada pela mãe.
Mesmo tropeçando nas letras, em três anos ele conseguiu emprego de operador de betoneira, trouxe a mãe e os seis irmãos do interior da Bahia e hoje aprende o beabá na esperança de que isso lhe traga mais oportunidades. Mais velho de seis filhos, trabalha desde os 12 anos para ajudar a mãe a criar os irmãos. Aprendeu a ler sozinho, montando as letras. “Mas era muito difícil. Agora é que estou ‘desembolando’. Na escola não se aprende só a ler e a escrever, mas também a conversar e a ter o respeito das outras pessoas”, diz o jovem, que faz o equivalente ao ensino fundamental do curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sindicato da Construção Civil em parceria com o Sesi.
Dependência
“Ser analfabeto é como ser cego. Se você não sabe ler, não segue o próprio rumo. Vai ser uma bênção quando eu estiver lendo e escrevendo”, diz Joaquim Rodrigues Barbosa, de 49. Vindo do Vale do Mucuri, o operador de guincho já perdeu muitas oportunidades de trabalho. “Quero ter mais liberdade e não precisar pedir nada a ninguém. As pessoas têm muito preconceito e poucas são de confiança”, revela.
O que Joaquim busca, Júlia Martins Silva, de 52, experimentou há pouco. “Foi no ônibus que li a primeira palavra grande, ‘cidade administrativa’. Nunca mais vou esquecer isso”, comemora a bordadeira, que há quatro meses frequenta o EJA da Universidade Federal de Minas Gerais, para compensar a falta de oportunidade da infância. Para conseguir emprego, Júlia sempre omitiu a dificuldade, pois sabia que isso podia prejudicá-la. Conversada, fez da comunicação oral uma arma. “No serviço sou uma pessoa inteligente e gosto de aprender. Acho que o principal é falar bem e prestar atenção no que está acontecendo no mundo, na realidade”, comenta.