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Estado de Minas

Projeto que proíbe garrafa de vidro recebe avalanche de críticas em BH

Projeto aprovado pela Câmara de BH, a mesma que baniu sacolas plásticas comuns, proíbe garrafas de vidro em casas noturnas e abre controvérsia ao incentivar uso de copos de plástico


postado em 15/06/2011 06:00 / atualizado em 15/06/2011 06:26

O especialista em vinhos Nelton Fagundes destaca a importância de garrafas e taças para servir a bebida e ironiza: 'Cadeiras e garfos também podem ser armas'(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O especialista em vinhos Nelton Fagundes destaca a importância de garrafas e taças para servir a bebida e ironiza: 'Cadeiras e garfos também podem ser armas' (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Se a intenção foi boa, o resultado e a repercussão, nem tanto. O projeto de lei que proíbe o uso de garrafas de vidro em casas noturnas de Belo Horizonte, aprovado em votação definitiva na sexta-feira, recebe uma saraivada de críticas, mesmo com a emenda que limita a abrangência do texto, restringindo a proibição a locais com cobrança de entrada, destinados à apresentação de shows artísticos e eventos esportivos. A medida, que inicialmente visava a todos os estabelecimentos, tem a justificativa de tentar evitar casos de agressão em boates e casas de shows, mas desperta polêmica. Comerciantes afirmam que a lei acarretará demissões, enquanto amantes da boa bebida e ambientalistas questionam a eficácia do projeto. E todos lembram a existência de outros elementos nesse tipo de ambiente que, assim como o vidro, representam risco numa possível briga. Destacam ainda o aumento do consumo de copos plásticos, nos quais a lei determina que devem passar a ser servidas as bebidas, e a produção de lixo não biodegradável, que seria prejudicial ao meio ambiente. Tudo isso votado por uma Câmara que recentemente baniu as sacolas de matéria plástica, sob o argumento de proteger o meio ambiente.

Profissionais que trabalham em casas noturnas têm várias reservas ao projeto, que ainda será submetido à sanção ou ao veto do prefeito Marcio Lacerda (PSB). O bartender Felipe Brasil diz que é preciso analisar o texto por aspectos diversos. Para ele, o principal problema é o aumento na produção de lixo plástico. Felipe lembra ainda a importância do vidro em relação à garantia da higiene e segurança do produto, e diz que não há como as garrafas de bebidas para coquetéis e drinques, como vodca, gim, licores e uísque, serem banidas de bares e boates.

“Essas garrafas normalmente ficam dentro do balcão, sem que o cliente tenha acesso a elas. As que vão às mesas podem até representar perigo, mas nesse sentido os copos também são de vidro. Há ainda os talheres e pratos que podem ser usados numa briga de bar. É difícil dizer o que não é perigoso na noite. As garrafas de vidro evitam contaminação e são mais seguras e higiênicas para transporte e armazenamento das bebidas do que as garrafas de plástico. Para o meio ambiente, essa lei é prejudicial pela quantidade de lixo que vai ser produzida. O plástico não é biodegradável e a reciclagem desse material é mais cara do que a do vidro”, afirma o bartender.

A proibição das garrafas de vidro não arranha o charme e o ritual das enotecas, espaços reservados aos apreciadores de vinho, mas recebe críticas do sommelier Nelton Fagundes, que destaca a importância de preservar esse tipo de bebida, quando vendida em casas de shows e boates. “O vinho precisa de um recipiente adequado, limpo e livre de impurezas. As garrafas de vidro do vinho tinto são escuras, para proteger a bebida da luz. As do vinho branco têm a função de mostrar a bebida genuína. Há todo um contexto: quem gosta de beber vinho aprecia ver a garrafa com rótulo e rolha. Os vinhos são servidos assim no mundo inteiro, com garrafas originais compradas diretamente do produtor. Imagina servir vinho em garrafas PET ou em copos plásticos? Esse projeto de lei é infeliz e não tem cabimento. Sobre a questão da violência, cadeiras também podem ser armas, assim como garfos e facas, o jarro de decoração e até a caneta do garçom. Aonde vamos parar?”, questionou.

Para o coordenador do Laboratório de Ciências e Tecnologia de Polímeros e professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roberto Fernando de Souza Freitas, o projeto de lei é desastroso. “O material plástico trouxe facilidades e vantagens, mas também o descarte inadequado e a consequente poluição. Exposto à natureza, o plástico leva de 100 a 500 anos para se decompor e a troca das garrafas de vidro pelos copos plásticos vai gerar ainda mais resíduos. Nesse sentido, o projeto de lei vai contra a proibição das sacolinhas plásticas e a preocupação com o meio ambiente”, afirmou Roberto. “Sou defensor do plástico, mas não para beber cerveja”, brincou.

Professor de ciências biológicas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Hiran Sartori admite que o projeto de lei favoreceria o aumento no consumo dos copos plásticos, mas é a favor da lei. “É verdade que criar problemas, por causa dos copinhos, mas é justificável, caso se dê destinação adequada ao plástico. A lei parte do princípio de que a população não vai mudar, que uns vão agredir outros com garrafas. Se a ideia é eliminar o vidro para reduzir os riscos, é preciso pensar em outras opções para servir a bebida. É o velho problema de sempre: a falta de educação e conscientização do ser humano.”


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