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Estado de Minas

Vetor Sul em Nova Lima está à beira de um colapso

Sem esgoto e enfrentando problemas cada vez maiores de trânsito, moradores dos condomínios da região veem sonho de uma vida bucólica se tornar um pesadelo


27/03/2011 07:05 - atualizado 27/03/2011 07:33

Beleza ameaçada: saneamento básico precário, riscos ambientais, falta de investimentos em infraestrutura e desrespeito à legislação põem em xeque o crescimento da mais charmosa região de condomínios da Grande BH
Beleza ameaçada: saneamento básico precário, riscos ambientais, falta de investimentos em infraestrutura e desrespeito à legislação põem em xeque o crescimento da mais charmosa região de condomínios da Grande BH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A falta de infraestrutura urbana, principalmente saneamento básico e mobilidade, põe em risco o desenvolvimento econômico de Nova Lima, o crescimento imobiliário e a qualidade de vida dos moradores de empreendimentos erguidos ou em construção no município, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que se uniu à capital no chamado Vetor Sul. Destinados a um público de alto poder aquisitivo, arranha-céus, que recortam montanhas, e amplas casas vivem uma realidade já próxima do colapso, se nada for feito em curto prazo. Os bairros populares situados na região têm problemas idênticos, que variam da falta de saneamento básico ao trânsito caótico, passando por agressões ao meio ambiente e acúmulo de lixo e entulho.

A situação é preocupante e, para agravar o quadro, não há perspectiva de melhoria. Principal responsável pelo planejamento e execução das obras que poderiam minimizar o drama enfrentado pelos moradores, o prefeito de Nova Lima, Carlos Roberto Rodrigues (PT), reconhece que a situação é de extrema gravidade: "A região das Seis Pistas e os condomínios não estão preparados para esse crescimento urbano do ponto de vista de água, esgoto e trânsito", admite.

Para especialistas em meio ambiente e urbanismo, ocorre no município algo simples: a prefeitura se beneficia com atração dos empreendimentos, que significam aumento da arrecadação, geração de emprego e renda e melhoria do Produto Interno Bruto (PIB). Mas não oferece contrapartida. Não investe em saneamento e melhoria do trânsito. Tampouco se preocupa em diminuir as agressões ao meio ambiente e o acúmulo de lixo e entulho. O resultado é um extenso leque de problemas que anunciam o caos. Se nada for feito, os sonhos de quem investiu em busca de uma vida mais tranquila e saudável serão inviabilizados.

A região é um paraíso cercado de 11 matas, dois parques, 10 cursos d’água, quatro lagoas e responsável por 65% do abastecimento de água potável da capital, um oásis sob uma ameaça cada vez maior. Os lençóis freáticos situados nas reservas ecológicas de Fechos e do Mutuca, mananciais de captação de água da Copasa, correm o risco de contaminação. O maior perigo vem do sistema de esgoto deficitário, que trata apenas 13,9% dos dejetos. Também há problemas quanto à disposição adequada de resíduos. Tal quadro levou a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) a considerar Nova Lima uma ameaça à bacia do Rio das Velhas, que também fornece água para Belo Horizonte e outros municípios da região metropolitana.

Oportunidade ameaçada


Para o presidente da Associação de Empreendedores dos bairros Vila da Serra e Vale do Sereno, Luiz Hélio Lodi, a precariedade da infraestrutura põe em risco o desenvolvimento econômico do município. “Nova Lima tem a oportunidade de se tornar autônoma e de ter uma movimentação financeira e de serviços separada
Caos no trânsito, uma rotina para quem mora no Vetor Sul e tem de se deslocar para Belo Horizonte
Caos no trânsito, uma rotina para quem mora no Vetor Sul e tem de se deslocar para Belo Horizonte (foto: Jorge Gontijo/EM/D.A Press )
da capital. Esses empreendimentos vão gerar mais receitas e empregos”, diz, acrescentando que, no entanto, o município precisa investir para dar retorno a quem escolhe a região para morar.

Urbanistas e ambientalistas, por sua vez, deixam claro que são necessárias medidas que harmonizem a expansão imobiliária com a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida de quem mora na região. “Não somos contra os empreendimentos, contra a construção de imóveis, mas queremos que contemplem condicionantes para preservação do meio ambiente e a eliminação dos impactos no trânsito”, explica o coordenador da Frente de Associações de Condomínios do Vetor Sul e presidente da Associação Residencial do Vale dos Cristais, Valmir Braga, morador do residencial há três anos. Ele relata que, nesse período, as mudanças no fluxo de veículos na região foram impactantes. “Os congestionamentos ocorrem em qualquer horário”, conta.

Para a presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Cláudia Pires, o descaso do município em relação às áreas remanescentes de mata atlântica, às nascentes e à paisagem não pode continuar. Segundo a arquiteta, o impacto desse processo é muito grande. “Podemos ter assoreamento de cursos d’água, poluição de nascentes, desmatamento em fundos de vale. São prejuízos para o meio ambiente e para a população não só de Nova Lima como de toda a região metropolitana.”

A atual administração de Nova Lima autorizou em seis anos a construção de 98% dos 3.166 empreendimentos imobiliários (casas, prédios e lojas) erguidos nos últimos 10 anos no município. Também saiu das mãos do prefeito Carlos Roberto Rodrigues o aval para construir, no mesmo período, 75% dos 186 prédios nos bairros Vila da Serra e Vale do Sereno, próximos ao BH Shopping, na divisa com Belo Horizonte. Para os ambientalistas, números tão significativos são uma razão a mais para investir em infraestrutura e reduzir os impactos causados pelo crescimento imobiliário do Vetor Sul, o que não está sendo feito.

Análise de notícia

As declarações do prefeito de Nova Lima são no mínimo preocupantes. Ele se posiciona de forma até fatalista diante de um problema que pode se transformar em caos, sem apresentar proposta de solução. Não deveria ser assim para um município em franco desenvolvimento. E não deveria ser assim também porque a questão envolve crescimento econômico e investimentos de milhares de pessoas interessadas apenas em uma moradia saudável e tranquila. Economias de uma vida inteira, até, aplicadas em áreas ameaçadas pela falta de planejamento e de adequação urbana. Ainda há tempo de mudar essa realidade e para isso é preciso que Executivo e Legislativo se unam, não para frear a expansão imobiliária, mas para oferecer a ela os equipamentos necessários a uma ocupação digna. Se preciso, convocar audiências públicas e ouvir moradores. E é importante também que a Prefeitura de BH faça sua parte e busque meios de viabilizar o projeto da Alça Sul, criado para desafogar o trânsito no acesso à cidade da região metropolitana. (Arnaldo Viana)


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