
Flávio, Maria Cláudia, Washington, Eliene, Heloísa, Flávia e Ângelo. A lista de chamada é formada por pais preocupados com o futuro dos filhos. Enquanto as escolas buscam mostrar o que têm a oferecer para a formação de crianças e adolescentes, estampam cartazes que exibem relações de aprovados nas universidades ou notas do Enem e anunciam a seleção de novos alunos, as famílias se perdem diante de tanta diversidade. Mas quem pode está disposto a pagar altas mensalidades para que os jovens tenham acesso a uma educação de qualidade e, em um futuro próximo, deem continuidade à formação em uma boa instituição de ensino superior.
O médico Flávio Mendonça Andrade da Silva tem dois filhos no Colégio Santo Antônio: Lucas, de 12 anos, e Ana Flávia, de 17. A primogênita se prepara para começar, no ano que vem, a busca por uma vaga na universidade. Vai cursar o 3º ano do ensino médio na escola que sempre aparece entre as maiores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e que na semana que passou travou uma briga com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), por não ter seu nome incluído na lista que mostrava as notas médias da prova de 2012. O pai se identifica com o ensino da instituição e considera que a nota no Enem atesta a qualidade. “Vejo que a escola dá opção ao aluno de estudar, entrega a ele essa responsabilidade. Tem uma metodologia clara, transparente, é exigente, tem uma carga teórica muito grande, mas transforma o aluno em uma pessoa responsável por ela mesma e isso é importante para a geração atual”, disse. Flávio vai além: para ele, o mundo hoje é muito competitivo e o jovem precisa ter condições de enfrentar a concorrência.
O filho mais velho da economiária Maria Cláudia Lana Melo, Arthur, de 20, passou no vestibular após estudar desde a infância no Colégio Santa Maria unidade Floresta. Vendo que ele se dava bem com a escola e despontava como um bom aluno, ela decidiu colocar os outros dois filhos, Heitor, de 14, e Ana Luisa, de 4, na mesma instituição. É uma escola católica tradicional de Belo Horizonte e isso contou pontos na hora da escolha. “Não está entre as 20 primeiras do ranking do Enem, mas é bem conceituada e tenho deles um retorno muito bom. Gosto da metodologia, com uma abordagem cidadã, que prioriza os relacionamentos, o respeito”, disse. No sétimo ano, segundo ela, os alunos já começam a fazer simulados e a estudar para o vestibular. “A escola prepara o suficiente, mas a aprovação depende muito do aluno com a família. Não é uma questão só da escola”, afirmou, fazendo coro com o que defendem especialistas em educação.

Escolha de rotina mais apertada
Ser aprovada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no curso de engenharia química era o objetivo de Clara Valadares, de 17. Para alcançá-lo, ela percebia que precisava não só se dedicar, mas também ser mais cobrada. A jovem gosta de estudar e queria aprender mais. Pediu à mãe, a professora Heloísa Latalisa França, para matriculá-la no Colégio Bernoulli, que vem se destacando como o que obtém as maiores notas no Enem na média dos alunos. Clara queria fazer parte dessa turma para se reforçar na batalha para vencer a concorrência. Detalhe: ela estudava no Colégio Militar, referência entre as escolas públicas exatamente pelo alto índice de aprovação na UFMG. Mas Clara tinha feito sua opção e levou consigo a irmã, Cecília, de 11, que estudava em uma escola particular.
Heloísa apoiou a decisão, fez as contas e matriculou as duas após serem aprovadas no processo seletivo. “Ela escolheu por causa do resultado, queria uma escola ainda mais apertada, que cobrasse mais dela. Muita gente fala que os alunos de lá só estudam, mas isso não é verdade. Minhas filhas estudam muito, mas têm vida social, têm amigos”, justificou. A mensalidade das duas juntas ultrapassa R$ 2 mil, mas Heloísa considera que é um investimento. “A instituição prepara realmente para o vestibular e tem um diferencial, que são os professores. Eles são profissionais valorizados e isso faz muita diferença”, considerou.
Washington Luiz Teixeira Dias, engenheiro, pai de Priscila, de 8, e Daniela, de 11, estudou no Marista Dom Silvério e a mulher, Patrícia, no Colégio Santo Agostinho. Duas escolas tradicionais, bem conceituadas na cidade e que foram determinantes para que os dois ex-alunos se formassem no ensino superior. Mas, na hora de escolher a escola das filhas, o casal optou pelo Colégio Arnaldo. Queriam uma instituição que cobrasse das meninas, mas também as deixasse viver a infância. “A criança, além de estudar, precisa ter tempo para brincar, ver TV, fazer outras atividades, senão fica estressada cedo e acaba pulando etapas na vida”, considera o pai. Ele não se preocupa que as filhas sejam aprovadas na UFMG: considera que há outras instituições de ensino superior de qualidade para que elas escolham.
O engenheiro assimila bem o ponto que especialistas tanto enfatizam: a família é fundamental no processo educacional. “O aluno tem que estudar. Estamos sempre ao lado das meninas, ajudando nas atividades, e esse sim é um fator decisivo. Para passar no vestibular é preciso uma boa escola e uma base em casa.”
Entre o fator emocional e as cobranças em sala
Além do vestibular e da aprovação, a escola precisa estar atenta a cada um dos seus alunos. Esse foi o critério principal analisado pela empresária Eliene Alves Coelho para escolher o Colégio Padre Eustáquio para a filha Bruna, hoje com 12 anos. Devido à dislexia, ela precisaria de um apoio na alfabetização, época em que entrou no colégio, aos 6. Para Eliene, a escola tem uma preocupação em aprovar seus alunos no vestibular e que eles consigam boas notas no Enem, mas nada que seja massacrante para o jovem. “A instituição me ajudou muito a entender o problema e me indicou formas de tratamento. Os professores fizeram cursos para aprender a lidar com alunos com dislexia e mostraram interesse em ajudar”, contou.
A psicanalista Flávia Rocha Galvão tem receio de que o Enem aprisione os alunos e de que as escolas sempre busquem esse estudante modelo. A filha dela, Ana Luiza, de 12, estuda no Santa Dorotéia há dois anos. Flávia conta que não considera a nota no exame tão fundamental, mas também não ignora que a escola esteja entre as melhores. A família mora no Bairro Anchieta, perto do colégio, e isso pesou na decisão. Para ela, a escola precisa dar importância a valores emocionais, ao conhecimento e incentivar o aluno a aprender a lidar com o outro. “Essa para mim é a pessoa que vai se dar bem. Quanto mais emocionalmente equilibrada, melhor vai se sair nas seleções”, disse.
Além de valorizar o aluno, conhecê-lo e dar equilíbrio para passos futuros, a escola precisa mostrar ao aluno a autoridade do professor. A opinião é do servidor público Ângelo Loyola Mantovani, que paga cerca de R$ 1.600 pela mensalidade do filho Gabriel, de 12, na Fundação Torino, sem reclamar. “Eles resgatam a importância do professor para a sociedade: é a autoridade dentro da sala de aula e o que vemos é que esse conceito hoje está perdido.” “A escola precisa valorizar cada um de seus alunos. Uma criança é diferente da outra e isso não acontece se o foco for só nos resultados”, considera a mãe, Cláudia Fernandes.
Ambiente é determinante
Se há escolas para todos os gostos e crenças, as famílias precisam estar sintonizadas com a escolha. Isso quer dizer, segundo a pesquisadora em história da educação e professora emérita da UFMG Eliane Lopes, que, ao buscar um colégio porque o projeto pedagógico valoriza a formação humana, é preciso que esses valores estejam realmente dentro do ambiente familiar. “O fundamental é dentro de casa, não adianta jogar para a escola”, disse. Na prática, significa que não adianta colocar o filho em certo estabelecimento de ensino que valorize a leitura, se dentro de casa ninguém lê. “O que a escola pode fazer? Nada. Tudo isso tem sido delegado à instituição, mas ela pode muito pouco diante do que lhe é apresentado.”
Ouvir o filho também é fundamental na hora de escolher a escola ideal, diz a especialista. “Parte do sucesso vem do desejo da criança ou jovem para que tudo funcione. Se for um processo forçado, gera frustração. Os pais não podem ter a ilusão de que a escola determina o futuro do filho, porque não é assim, não há garantia”, afirmou.
Para Francisco Soares, integrante do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Faculdade de Educação da UFMG, a escolha considera ainda o ambiente que o filho vai ter para crescer, com quem ele vai conviver e o propósito da família. “Certamente as escolas que ficaram bem colocadas no Enem estão funcionando bem para serem reconhecidas nisso”, disse. Mas, alerta ele, escolher onde o filho vai estudar é algo mais amplo do que simplesmente esse desempenho.
