Desistência de cursos chega a 60% na UFMG

A retenção de alunos na graduação a distância é um dos principais desafios da UFMG, que tem 60% de evasão nos dois primeiros cursos implantados na instituição. O alto índice foi revelado por um estudo do Departamento de Contabilidade que analisou os custos da universidade com cada aluno. As licenciaturas de química e ciências biológicas foram ofertadas no vestibular de 2007 em cinco polos: Araçuaí, Governador Valadares, Montes Claros, Frutal e Teófilo Otoni. De 2008, quando houve a primeira entrada, até 2012, 1.350 vagas foram abertas, mas apenas 77% (1.042) preenchidas. Ao longo dos anos, restaram apenas 546 matriculados, 40% da capacidade original.

A pesquisa concluiu que há desperdício de recursos da universidade, já que foram investidos R$ 627.927 na implantação de salas e laboratórios nas cinco cidades. Com a evasão alta, o investimento por aluno, que seria de R$ 465 se os polos estivessem totalmente ocupados, é 147% maior do que o previsto, cerca de R$ 1.150. O polo de Frutal, no Triângulo Mineiro, foi o de pior desempenho, onde apenas 47 estudantes usam a infraestrutura, que custou R$ 115 mil. O custo inicial por aluno triplicou para R$ 2.876.

“Estudamos dois cursos com laboratórios de análise de investimento alto. É preciso rever as políticas de preenchimento de vagas e de manutenção do aluno. Com práticas pedagógicas mais consistentes, para o aluno ser motivado a ficar”, explica Márcia Athayde Moreira, que orientou o trabalho e é coordenadora do grupo de pesquisa Custos e Eficiência Financeira da Educação a Distância do Centro de Apoio à Educação a Distância (Caed) da UFMG.

A UFMG também oferece licenciatura em pedagogia e matemática e bacharelado em geografia. Ao todo, são 16 cursos de educação a distância, entre graduação, pós-graduação e extensão. Atualmente, 6.457 alunos estão matriculados e comparecem aos 33 polos que contam com biblioteca, laboratórios de informática, laboratórios técnicos e salas de aula e tutoria. Na tentativa de se aproximar de nove comunidades onde estão instalados esses polos, neste mês, serão realizadas atividades de difusão do conhecimento produzido pela instituição.

O diretor do Caed, Fernando Fidalgo, diz que ainda é cedo para se falar em evasão da educação a distância, pois os candidatos ainda estão se adaptando ao novo modelo. Por isso, muitos desistem no início das aulas. “A expectativa é que controlando melhor a entrada desses alunos, vamos ter a evasão muito próxima dos cursos presenciais. Muitos acham que é mais fácil fazer virtual, mas descobrem que precisam estudar muito e desistem. Há turmas em que metade foi embora na primeira semana”, conta. Segundo Fidalgo, o perfil do aluno de educação a distância ainda está sendo descoberto. “Talvez, ele tenha que ter mais dedicação que o estudante da universidade presencial. Temos percebido menos evasão nas turmas de agora”, completa.

CONCLUSÃO

Das cinco graduações a distância, apenas pedagogia tem alto índice de conclusão do curso, com 91% de formados, segundo o Caed. Em seguida, está biologia, com 59%, e geografia, com 33%. Química é o que menos conclusão, com 11%. “Tem a ver com o campo do conhecimento, com a dificuldade da formação. Química demanda conhecimento de cálculo, que retém muitos alunos em algumas disciplinas. Os cursos de humanas costumam ter retenção menor devido à proposta pedagógica. É difícil comparar um com outro”, explica Fidalgo.

Os alunos têm encontros presenciais toda semana, além de atividades em laboratórios, o que corresponde a 30% da grade curricular. Segundo a assessoria pedagógica do Caed, as faculdades têm autonomia para desenvolver estratégias de redução da evasão. Mas professores e tutores passam por capacitações periódicas no centro. (JF)

EVASÃO

Ciências biológicas e química

Vagas - 1.350

Alunos matriculados - 1.042

Alunos evadidos - 496

Alunos matriculados em 2012 - 546

Fonte: Eficiência na utilização de ativos imobilizados: estudo comparativo entre os polos de ensino a distância do Caed/UFMG

Conclusão de graduação a distância

Química - 11% se formaram (entraram em 2008)

Biologia - 59% se formaram (entraram em 2008)

Matemática - não tem formandos (entraram em 2010)

Geografia - 33% (entraram em 2009)

Pedagogia - 91% (entraram em 2008)

Fonte: Caed-UFMG