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Estado de Minas

Religiosos criticam UFMG por barrar candidato com turbante em vestibular


postado em 16/01/2013 17:21 / atualizado em 16/01/2013 19:08

Heitor Correa foi impedido de fazer prova da segunda etapa da UFMG com turbante(foto: Reprodução Facebbok)
Heitor Correa foi impedido de fazer prova da segunda etapa da UFMG com turbante (foto: Reprodução Facebbok)
O estudante que foi barrado ao chegar para fazer provas de segunda etapa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), devido ao uso de um turbante, levantou polêmica sobre o conflito da religião e das leis civis, em Belo Horizonte. O candidato ao curso de música, Heitor Correa, teve que optar entre desistir do vestibular ou tirar a peça (que compõe o traje da religião sikh dharma) e fazer prova em uma sala separada. Diante da situação, ele preferiu abrir mão do turbante e prosseguir no concurso.

Em carta aberta à coordenação do vestibular da UFMG, uma praticante da religião, identificada como Gursangat K Khalsa, afirma que o candidato foi coagido, insultado, além de passar por constrangimento. “Onde está a diversidade. Onde está a liberdade, os direitos humanos, religiosos?”, questiona.

Para a religiosa, o ocorrido revelou “ignorância” e “rigidez” da direção do concurso, que justificou a intervenção com o trecho do edital que impede o uso de bonés, chapéus e semelhantes. “Um turbante, um yamulke (usados pelos judeus), um hábito usado pelas freiras católicas, não deveriam ser, nem de perto, confundidos com bonés! Não somos uma Universidade procurada pelos asiáticos e árabes, como são as universidades americanas e europeias. Portanto, falta-nos a devida exposição que nos educa para a diversidade”, disse Gursangat K Khalsa na carta.

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A UFMG informou que, pela regra do edital, o candidato deveria ter sido eliminado do concurso, uma vez que se apresentou com uma peça semelhante a chapéu, o que não é permitido. No entanto, a direção considerou a questão e ofereceu a oportunidade de o estudante fazer a prova sem turbante, em sala separada. Ainda segundo a universidade, a regra é para impedir o uso de aparelhos eletrônicos, que podem ser escondidos nesses acessórios.

Discussão polêmica

Representante da religião no Brasil e ministro do templo, Bhai Ajit Singh Ragi Naad, 24 anos, explica que o sikhismo nasceu na Índia e chegou ao país há cerca de 30 anos. Ele afirma que há muitos casos de situações constrangedoras com seguidores da religião em diferentes países. “Comunidades dos EUA e Canadá têm relatos de seguidores barrados em aeroportos e por policiais, principalmente após o atentado de 11 de setembro, porque a aparência lembra o árabe”, afirma.


Congregação Sikh se reúne no Brasil. País tem cerca mil seguidores, a maioria em SP(foto: Divulgação Bhai Ajit Singh Ragi Naad)
Congregação Sikh se reúne no Brasil. País tem cerca mil seguidores, a maioria em SP (foto: Divulgação Bhai Ajit Singh Ragi Naad)
Ele explica que o turbante faz parte do traje da religião, que também comporta outros itens, como uma pequena faca, uma pulseira, cabelo em coque juntamente com um pente preso e um shrot especial, que fica debaixo da roupa. “O traje é importante porque é a identidade da religião, representa o caminho que a pessoa escolheu. Nossa tradição é de respeito às crenças, então também esperamos que a nossa seja respeitada”, destaca.

Apesar disso, Ajit reconhece que a religião acaba se adaptando em países do ocidente, pois o convívio tem sido muito difícil. “Os costumes são muito diferentes. No caso do estudante, se havia alegação de fraude, bastava checar e se não encontrasse problema, deixá-lo com o turbante”, defende.

Para o coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, Flávio Senra, o diálogo entre as duas partes é a solução para conflitos como esses. Ele acredita que a sociedade precisa se preparar para a diversidade religiosa, mas que as religiões também terão que fazer o exercício de se adaptar às leis do estado onde estão inseridas. “É preciso diálogo entre as duas instâncias. Vivemos numa sociedade multicultural e temos que estar preparados para lidar com essa diversidade. Ao mesmo tempo, a religião tem que entender a dinâmica da sociedade e que as questões religiosas não podem se sobrepor ao estado”, afirma.

Ele acredita que esse diálogo é possível por meio da discussão do assunto na família, escolas, instituições governamentais e na mídia. Em relação ao edital da UFMG, o professor entende que o aluno que se propõe a realizar o vestibular precisa estar de acordo com as regras dele. Entretanto, ele também acredita que é preciso maior reflexão nesses quesitos. “O edital poderia compreender melhor essa questão e se preparar para essas situações. Afinal, não sei que mal pode fazer um turbante ou um véu, não sei o que pode ter de tão agressivo”, diz.

Entenda a religião


Sikh dharma é uma religião nascida no Norte da Índia, fundada por Guru Nanak Singh Ji, em 1450. Ela engloba várias crenças, mas cultua um único Deus, chamado Ek Ong Kar. Segundo Ajit, depois do fundador, a religião teve outros 9 sucessores. Hoje, os seguidores têm como guru o livro sagrado, Sri Guru Granth Sahib Ji.

A religião prega que todas as crenças são iguais e levam a um mesmo resultado. Os praticantes são ensinados a trabalhar honestamente, doar dinheiro aos necessitados e viver sempre com a presença de Deus em seu interior.

A religião migrou da Índia para vários lugares, como Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Austrália e Brasil. Segundo o representante da religião no Brasil, o país tem cerca de mil seguidores, sendo que a maioria está em São Paulo. No mundo todo são mais de 25 milhões de sikhistas.


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